O ano é 2020 e ainda há pessoas que negam a existência do racismo e não entendem as consequências nefastas que ele acarreta às pessoas. O mal é ainda maior quando práticas que encorajam “brincadeiras” e manifestações de “liberdade de expressão” partem de políticos, que, na teoria, têm como função principal, representar a população.
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Mandetta acusa Bolsonaro ''de colocar a vida das pessoas em risco''Moro diz que indicado ao Supremo deve ser comprometido com o combate à corrupçãoBia Kicis: 'Não sou racista, quem me conhece sabe'Campanha de rua vira saia justa que pode tirar e dar votos na pandemiaMandetta responde a "piada" de Bia Kicis: "Racista nauseabunda e chula"Na imagem postada pela bolsonarista, aparecem imagens dos ex-ministros Sergio Moro (da Justiça e Segurança Pública) e Luiz Henrique Mandetta (da saúde) com os rostos pintados de preto e os cabelos crespos.
“Vem ser feliz, prezado! Desempregado, blogueiro Sergio Moro faz mudança no visual para tentar emprego no Magazine Luiza”, diz a legenda na foto do ex-‘super’ ministro.
“Não dá mais para ficar em casa! Sem emprego e cansado de errar o pico, Mandetta muda de cor manda currículo para Magazine Luiza”, consta na imagem do ex-chefe da pasta da Saúde.
Mesmo depois da repercussão negativa, a deputada publicou novamente a imagem, numa tentativa mal sucedida de se explicar: “Cuidado, se você consegue enxergar racismo nesse post ao invés de vê-lo na atitude da Magazine Luiza, o estrago do ensino aos moldes de Paulo Freire pode ter sido muito grande na sua capacidade de interpretar textos e de compreender a vida”.
Reparação histórica
Neste mês de setembro, o Magazine Luiz anunciou o lançamento de um programa para seleção de trainees apenas para pessoas negras. Em poucos dias, o Ministério Público do Trabalho recebeu dezenas de denúncias de pessoas que alegavam que a empresa estava sendo racista.
O MPT indeferiu todas as manifestações, afirmando que a política da empresa é legítima, que não existe ato ilícito no processo de seleção e que a reserva de vagas à população negra é plenamente válida e configura ação afirmativa, além de “elemento de reparação histórica da exclusão da população negra do mercado de trabalho digno”.
A pior expressão do racismo é a exclusão de pessoas não brancas de postos de comando no mercado de trabalho e em funções importantes na sociedade.
Segundo o último Censo do IBGE, a população brasileira é formada por 50,74% de negros (7,61% pretos e 43,13% pardos). Entretanto, de acordo com o mesmo órgão, apenas 30% dos cargos de chefia no mercado de trabalho são ocupados por negros.
De acordo com o último Censo da Educação Superior, realizado pelo Inep em 2018, dentre os mais de oito milhões de estudantes de ensino superior no Brasil, 39,73% são brancos, 26,03% são pardos, 6,43% são pretos, 1,62% são amarelos e 0,68% são indígenas.
A realidade se repete na política. Dos 513 deputados federais, apenas 122 se declaram pretos (20) ou pardos (102), totalizando 24% da bancada atual. No Senado, são 16 senadores (3 pretos e 13 pardos), somando 20% da Casa.
A própria Magazine Luiza revelou que tem em seu quadro de funcionários 53% de pretos e pardos. No entanto, apenas 16% deles ocupam cargos de liderança.
Mesmo com qualificação profissional, negros com a mesma qualificação têm mais dificuldade conseguir emprego. E quando conseguem, recebem até 31% menos, segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo IBGE.
A renda média domiciliar per capita dos pretos ou pardos foi de R$ 934 em 2018, metade do que era recebido pelos brancos, de R$ 1.846.