A sede da Fundação Palmares, em Brasília, vai mudar nos próximos dias para um antigo prédio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que hoje funciona como uma espécie de almoxarifado, tomado por infiltrações e avarias. Presidida por Sérgio Camargo, que já definiu o movimento negro como "escória maldita", a fundação admite a necessidade de reforma, mas, com a crise, não há dinheiro previsto para essa finalidade.
A mudança vai ocorrer antes dos reparos. O início das obras ainda não tem previsão. A estratégia deixa dúvidas sobre a capacidade da autarquia de proteger o acervo histórico e cultural que mantém e até mesmo de prestar serviços - o que provocou reações de servidores. Na atual sede há obras de arte, fotografias e documentos históricos como cartas de alforria de escravos, e trabalhos de artistas como Rubem Valentim e Mestre Didi.
Parte desse acervo precisa ser conservada em condições especiais, em salas climatizadas e com manutenção permanente. A Palmares não informou o tratamento que dispensará ao material após a mudança. "Não se trata apenas de uma mudança de sede. Está imbuído um processo de desmonte da instituição, que foi conseguida a partir do esforço da comunidade negra e de todo o seu trabalho. O prédio para onde estão querendo levar é inapropriado para garantir a segurança do acervo da instituição", disse o ogan Luiz Alves, coordenador do Foafro/DF e administrador do Projeto Onibodê.
Atualmente, o anexo do antigo imóvel da EBC funciona como depósito da empresa e continuará com esse fim. É o prédio principal que será transformado na nova sede da Palmares e, de acordo com Camargo, receberá o nome de André Rebouças, um abolicionista classificado por ele como "monarquista", "brilhante engenheiro" e "orgulho do Brasil". O edifício, porém, não é utilizado desde 2016. Prédio e anexo têm infiltrações, escadas demandando reparos e teto com tubulações expostas. As reformas deverão ser feitas pela fundação.
Custo
A principal motivação da transferência, segundo Camargo, é financeira. Com a mudança, a Palmares deixará de pagar cerca de R$ 2,3 milhões de aluguel por ano, mais R$ 700 mil com condomínio. A autarquia diz que os R$ 3 milhões a menos representarão economia de 30% no orçamento e, com isso, o dinheiro será realocado para outras atividades.
Em julho, a Palmares estimou em R$ 140 mil o montante de "gastos com manutenção e conservação", que seria diluído em dez anos (R$ 14 mil anuais). A autarquia não detalhou quais reformas serão contempladas por essa quantia. Procurada, a Palmares não informou quais serão as estratégias para acomodar o acervo histórico, nem disse quando a reforma será iniciada e o prazo para ser encerrada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
POLÍTICA