A despeito das regras de distanciamento social para evitar a transmissão do novo coronavírus, candidatos de pequenas cidades do interior de Minas Gerais ainda apostam no tradicional corpo a corpo, como visitas aos eleitores, para conquistar votos. Eles até admitem que vão usar as redes sociais e os programas de rádio para, assim, evitar aglomerações, mas não escondem que o velho modelo de fazer campanha é o preferido. O Estado de Minas conversou com candidatos de algumas cidades para saber como eles vão resolver essa difícil 'equação', tendo de conquistar a distância o voto de um eleitor tão próximo.
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Para Murilo Medeiros, cientista político pela Universidade de Brasília (UnB), independentemente do corpo a corpo com o eleitorado, as redes sociais devem ser palco de intensas batalhas entre os postulantes às prefeituras e às câmaras municipais. “Provavelmente, teremos um cenário de guerra digital nas cidades do interior, com uma campanha individualizada e personificada nas características de cada candidato, visto que o debate nacional não influencia tanto as disputas no interior”, observa.
Além das lives para conquistar votos, os candidatos de municípios do Centro-Oeste de Minas apostam no contato direto com eleitor. Em Itapecerica e São Sebastião do Oeste, os tradicionais comícios, carreatas, presença de cabos eleitorais nas ruas com faixas, distribuição de santinhos e qualquer evento que gere aglomeração estão proibidos pela Justiça Eleitoral. “Fizemos a live da abertura da campanha, que teve participação muito boa. Mas é difícil com pandemia fazer campanha. As pessoas querem a nossa presença nas casas e não temos o alcance da televisão”, diz o prefeito de Itapecerica, Wirley Reis (Podemos), o Têko, candidato à reeleição.
O candidato carrega álcool em gel, usa máscara de proteção e busca se aliar às redes sociais. Uma alternativa encontrada por quem disputa vaga de vereador na cidade é acompanhar o candidato a prefeito da coligação no corpo a corpo, mantendo o distanciamento social indicado. É o caso do vereador Zezé Mariano (Podemos), que tenta novo mandato.
Zona Rural
A estratégia de manter visitas a eleitores com regras sanitárias é adotada pela vereadora e candidata a prefeita de São Sebastião do Oeste Sirleia Moreira (PT). “No interior, existe muito corpo a corpo, estamos fazendo com máscaras para não entrar nas residências. Serão visitas rápidas. Não tem como não fazê-las, mas com todos os cuidados”, destacou.
Sem redes sociais, o candidato a vereador João Prata (PTC), de São Sebastião do Oeste, também vai investir nas visitas. Para evitar aglomeração, a ideia é contatar líderes, principalmente, na zona rural. Em Carmo do Cajuru, os candidatos devem apostar no contato com medidas restritivas. “Para visitar fica complicado, então devemos, primeiro, fazer o contato por WhatsApp, telefone, agendar e aí, então, visitar”, diz o candidato a vereador Marcelo Eletricista (Cidadania).
*Amanda Quintiliano, especial para o EM
Visita com máscara
Diante da proibição de eventos que provoquem aglomeração, a solução é visita de casa em casa, na zona rural e na cidade, para tentar conquistar votos. Essa é a estratégia dos três candidatos a prefeito em Glaucilândia, município de 3.595 habitantes, no Norte de Minas: Marcelo Brant (PDT), Herivelto Alves Luiz (PSD) e Arnaldo Mendes Teixeira (PT). “Com a pandemia, temos uma situação nova do distanciamento social, porém, na cidade pequena, o que vale mais é o corpo a corpo. A rede social não chega a todo mundo”, afirma o produtor rural Marcelo Brant, ex-prefeito por três mandatos e em busca de mais um. “Visito as pessoas, mas com máscara e mantendo distanciamento”, diz.
A reportagem acompanhou Marcelo Brant em visita à casa do agricultor Valdeir Gonçalves, de 45 anos, na localidade de Lagoa do Boi, na zona rural. Na chegada à casa, em vez do antigo aperto de mãos, com ambos usando máscaras, candidato e eleitor se cumprimentaram apenas com um leve toque de punhos fechados. Valdeir disse que tem evitado sair de casa, com o receio de contaminação. “No início, o povo estava assombrado por causa dessa doença. Agora, a gente está mais acostumado com a situação”, afirma o produtor rural.
O vice-prefeito de Glaucilândia e servidor público Herivelto Alves Luiz, candidato a prefeito com o apoio do chefe do Executivo, Geraldo Martins de Freitas (MDB), afirma que usa as redes sociais para divulgar suas propostas. “Mas, numa cidade como Glaucilândia, o candidato tem que visitar as pessoas”, afirma. Ele disse que visita, em média, cinco casas por dia, na área urbana e na zona rural. “Uso máscara e álcool em gel. Sempre ando sozinho para evitar aglomerações”, afirma Herivelto.
Ele diz que é recebido tranquilamente pela maioria dos eleitores. “Mas, por causa da pandemia, existem pessoas ainda apreensivas que não aceitam as visitas”, ressalta. A reportagem acompanhou a visita de Herivelto à casa do aposentado Antonio Pinheiro. “No passado, a campanha política era mais movimentada. Neste ano, está menor”, compara o aposentado, acrescentando que, por ser do grupo de risco, desde o começo da pandemia evita sair de casa.
Outro concorrente à Prefeitura de Glaucilândia, o empresário Arnaldo Mendes Teixeira (PT), afirma que usa as redes sociais para divulgar sua campanha. Mas não abre mão do corpo a corpo. “Em lugar pequeno, tem aquela condição de todo mundo conhecer todo mundo. As pessoas sempre querem ver o candidato de perto”, diz. Ele disse que faz as visitas domiciliares com os devidos cuidados para evitar a propagação do coronavírus. “Sempre uso máscara e, antes de cada visita, uso o álcool em gel”, explica. A reportagem acompanhou Arnaldo em visita ao pedreiro Maicon Jonas Ferreira. Maicon não quis emitir opinião sobre a campanha, apenas confirmou que no dia da eleição vai sair de casa para votar.
Em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste do estado, os candidatos sempre fizeram campanha de porta a porta e os comícios, quase diários, eram estratégicos para entusiasmar a militância, servindo também de termômetro para os eleitores indecisos. Por causa da pandemia, os candidatos a prefeito e vereador dizem que vão priorizar lives, vídeos, postagens e mensagens nas redes sociais. Mas não vão esquecer o contato direto com os 14.053 eleitores. O coordenador de campanha de uma das coligações majoritárias, Ledson Morais, conta que os candidatos a prefeito e vice que assessora optaram por caminhadas, mas mantendo distanciamento dos eleitores.
Santinhos em ‘quarentena’ de 48 horas
A campanha eleitoral em Martinho Campos, cidade de cerca de 15 mil habitantes do Centro-Oeste de Minas, vai mesclar redes sociais e o contato direto com os eleitores, mesmo com as restrições de saúde devido à pandemia de COVID-19. O prefeito José Hailton de Freitas (MDB), candidato à reeleição, diz que, além da campanha virtual, distribuirá santinhos, adesivos e também fará corpo a corpo com os eleitores. “Vamos sempre respeitar as normas da Secretaria Municipal de Saúde, evitar grandes aglomerações; não teremos o tradicional comitê nem utilizaremos carros de som; faremos visitas de porta em porta com duas pessoas apenas e visitas a pequenos grupos de maior referência na cidade”, detalha.
A estratégia também será adotada pelos outros dois concorrentes, Dulcelino José Corgozinho (PSD) e Wilson Correa Alves Afonso de Carvalho (Avante). Ambos estão cientes das mudanças publicadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em razão das restrições causadas pela pandemia do novo coronavírus. Comícios e carreatas estão autorizados das 8h às 23h59. “Ainda não definimos se faremos e como faremos os comícios, pois precisamos de um esclarecimento mai- or sobre o que estabelece a legislação eleitoral do município. Dessa forma, acreditamos que as redes sociais serão muito importantes neste período”, afirmou Corgozinho.
Já Wilson Correa (Avante) afirmou ao EM que sua equipe também fará a distribuição de adesivos e materiais gráficos nas ruas, além da campanha nas redes sociais. “Todas as vezes que recebermos algum material da gráfica, o deixaremos em espaço adequado por 48 horas antes de manuseá-lo. Após esse período, as pessoas que o forem manusear adotarão protocolos de segurança, como o uso de máscaras e a higienização constante das mãos”, reitera.
Caminhadas
Em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste do estado, os candidatos sempre fizeram campanha de porta a porta e os comícios, quase diários, eram estratégicos para entusiasmar a militância, servindo também de termômetro para os eleitores indecisos. Por causa da pandemia, os candidatos a prefeito e vereador dizem que vão priorizar lives, vídeos, postagens e mensagens nas redes sociais. Mas não vão esquecer o contato direto com os 14.053 eleitores. O coordenador de campanha de uma das coligações majoritárias, Ledson Morais, conta que os candidatos a prefeito e vice que assessora optaram por caminhadas, mas mantendo distanciamento dos eleitores.
“Os próprios correligionários e militantes nos cobram atos presenciais para demonstrar apoio abertamente. Mesmo com o coronavírus, sentimos que os eleitores, principalmente os da zona rural, querem oportunidade para encontrar e conversar com os candidatos”, afirma Morais. Os comícios ainda não estão na agenda das campanhas. Mas as carreatas devem ocorrer.
Candidatos a vereador apostam em visitas a familiares e amigos próximos para reunir apoio e garantir os votos a uma das 11 vagas na Câmara Municipal. Eles alegam que os santinhos são necessários porque parte da população não tem acesso às redes sociais e a cobrança do material em papel vem dos próprios eleitores. A propaganda gratuita na estação de rádio local começa nesta sexta-feira e também é considerada fundamental pelos candidatos para alcançar os eleitores que estão em isolamento social.
*Estagiários sob supervisão do subeditor Paulo Nogueira