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Estado de Minas COVID-19

Bolsonaro cai em contradição ao proibir compra de vacina

Desde o início da pandemia, porém, Bolsonaro negligenciou recomendações de autoridades médicas e sanitárias e estudos científicos


22/10/2020 04:00 - atualizado 22/10/2020 07:24

(foto: Flickr)
(foto: Flickr)


Ao desautorizar o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e afirmar que o governo federal não tem intenção de comprar a vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez uso de um argumento técnico para justificar sua posição.

Disse que antes de ser disponibilizada à população, a vacina deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele acrescentou que não justifica “um bilionário aporte financeiro num medicamento que nem sequer ultrapassou sua fase de testagem”.

Desde o início da pandemia, porém, Bolsonaro negligenciou recomendações de autoridades médicas e sanitárias e estudos científicos ao defender o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19, apesar da ausência de comprovação da eficácia dos medicamentos. As declarações de ontem, alegando observação de regras da ciência para recusar a vacina chinesa, surpreenderam os especialistas e a comunidade científica.

“Fica a lição. Eleger líderes que partidarizam ciência ambiental, do aquecimento global, de reprodução, evolução, etc. é pedir pra partidarizarem a ciência que cuida da sua saúde também. E jogar sua saúde no lixo em favor da retórica”, afirmou o biólogo e pesquisador Atila Iamarino em postagem no Twitter.

O pesquisador em saúde pública da Fiocruz Marcelo Gomes também comentou o contrassenso das posições de Bolsonaro. “Nessa briga política vacina AstraZeneca/Oxford/Fiocruz (“do Bolsonaro”) x vacina Sinovac/Butantan (“do Doria”), tem um vencedor e um derrotado claros: o vírus (v) e o povo brasileiro (d). É brincar com as nossas vidas”, avaliou o cientista nas redes sociais. 

CRÍTICA

Estudo publicado em maio pela revista científica The Lancet levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a suspender os estudos com a cloroquina. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou nota afirmando que o uso de hidroxicloroquina deve ser abandonado em qualquer fase do tratamento de COVID-19. A advertência da SBI tem como base os resultados de dois estudos realizados nos Estado Unidos e no Canadá que constataram que o uso da cloroquina nos estágios iniciais da doença não teve resultados.

Em julho, Bolsonaro exibiu caixa do medicamento em cima da mesa e chegou a tomá-la nas mãos durante pronunciamento numa live pelo Facebook. Na ocasião, o presidente se confundiu e tropeçou nas palavras na hora de falar sobre o remédio, mas deixou clara a sua posição em defesa do remédio. “Se não tem alternativa, por que proibir? ‘Ah, não tem comprovação científica que seja eficaz.’ Mas também não tem comprovação científica que não tem comprovação eficaz. Nem que não tem, nem que tem”, disse Bolsonaro.

O presidente também revelou que tomou o vermífugo nitazoxadina, que, assim como a cloroquina, não tem comprovação científica de que pode ser usado no tratamento do coronavírus. Em 22 de julho, ao anunciar que testou positivo para COVID-19, o chefe do executivo destacou que estava tomando hidroxicloroquina e disse que se sentiu melhor após usar o medicamento.

“Tomei a cloroquina e a azitromicina. O primeiro comprimido ontem (segunda-feira 22/7), foi ministrado e confesso que depois da 0h eu consegui sentir uma melhora. Às 5h, tomei o segundo comprimido de cloroquina e estou perfeitamente bem. A reação foi quase imediata. Poucas horas depois, eu já tava me sentindo muito bem”, afirmou.

Em evento realizado em agosto, no Palácio do Planalto, chamado "Brasil vencendo a COVID-19," o presidente voltou a defender o medicamento. Na data, o país chegava a quase 115 mil mortos por COVID-19. Na cerimônia, Bolsonaro reuniu médicos entusiastas da hidroxicloroquina e membros do governo em defesa do uso do composto no combate à doença.

“Eu sei que não tem (comprovação científica). Como sempre citei, na guerra da Coreia, os soldados chegavam feridos, não tinha ninguém para doar sangue, e acabaram botando na veia deles água de coco. E deu certo. Se esperasse comprovação científica, o que no futuro poderia se ver que muitas vidas poderiam ter sido salvas com água de coco”, disse. 

Embaixador chinês destaca investimentos no país

O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, usou as redes sociais para ressaltar os investimentos bilionários de empresas chinesas no Brasil. A postagem foi feita após declarações de ontem do presidente Jair Bolsonaro, que, contradizendo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o governo brasileiro não vai comprar a vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

“Nos últimos dois anos, empresas chinesas investiram no Brasil mais de US$ 15 bilhões em agricultura, nova energia, telecomunicação, eletricidade, petróleo, infraestrutura, logística, etc., com mais US$ 5 bilhões de novos investimentos já acordados. O total investido no país já superou US$ 80 bilhões e chegará em US$ 109 bilhões em três a cinco anos. As empresas chinesas no Brasil criaram mais de 50 mil empregos diretos”, afirmou o embaixador Wanming pelo Twitter.

COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA

Em publicação pelas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro disse que antes de ser disponibilizada à população, a vacina deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com o chefe do Executivo, “o povo não será cobaia de ninguém. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que nem sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”, afirmou o presidente.

As afirmações do presidente se somam à repercussões negativas geradas por negociações entre os Estados Unidos e o Brasil realizadas na terça-feira. O governo americano sinalizou que está disposto a investir para que operadoras de telecomunicações no país não comprem equipamentos de empresas chinesas. 

O governo brasileiro estuda se irá vetar à chinesa Huawei o fornecimento de equipamentos para a rede 5G, cujo leilão entre as operadoras deve ocorrer em 2021.

* Estagiário sob supervisão do editor Paulo Nogueira


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