Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA/BRUNO ENGLER

Engler diz que, se eleito, reabre comércio e escolas, apesar da COVID



Para enfrentar os efeitos econômicos causados pelo novo coronavírus, o candidato do PRTB à Prefeitura de Belo Horizonte, Bruno Engler, quer comércio em horários tradicionais e diálogo com empreendedores. Entre outras ações, ele cogita a renegociação de multas e tributos. Favorável à cloroquina para casos iniciais da doença, o deputado estadual, de 23 anos, é um dos “queridinhos” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista ao Estado de Minas, além de buscar diálogos com empresas de ônibus pela volta dos cobradores, o parlamentar critica o prefeito Alexandre Kalil (PSD), candidato à reeleição, por ações que, segundo ele, atentam contra os “valores conservadores.” Como exemplo, citou o “foda-se” que o prefeito sugeriu ser dado pelos homossexuais aos preconceituosos. “Você não pode dizer um palavrão para boa parte da população belo-horizontina”, argumenta. Sobra também para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para o presidente nacional do PRTB, Levy Fidelix. Envolvido em imbróglio com o partido — que indicou para vice um nome que lhe desagrada, Engler chama Fidelix de “desonesto e sem palavra”. Após dizer que o STF “se acha dono do Brasil”, o candidato defende o ex-ministro e correligionário Abraham Weintraub, que atacou a Suprema Corte. Para o ensino municipal, ele defende as escolas cívico-militares, reabertura dos colégios municipais e o combate ao que chama de “ideologia de gênero”.





Qual a prioridade do senhor para a cidade?
Promover a retomada do comércio em horário integral. O horário alternativo imposto pela prefeitura não faz o menor sentido. Diminuir o horário de funcionamento de uma atividade para evitar aglomerações gera o efeito contrário. Se um número de pessoas que precisa de serviço (que está) em horário reduzido, há concentração maior de pessoas. Vamos trazer para perto os micro e pequenos empresários, dialogar e buscar soluções para o enfrentamento desta crise, com renegociação de impostos municipais, desburocratização ou perdão de multas dadas na pandemia. Precisamos evitar que empresas fechem em BH, além de conversar com as que fecharam para ver o que a prefeitura pode fazer para que voltem a funcionar.

O senhor pretende dialogar com as empresas de ônibus? Seu plano de governo fala em ‘otimizar as alternativas de transporte público’. Como fazer isso?
A gente precisa voltar com o funcionamento das linhas de ônibus em tempo integral. A primeira coisa que o prefeito fez quando começou a pandemia foi permitir que as viagens fossem extremamente reduzidas, o que gerou aglomerações dentro dos coletivos e piorou a qualidade do serviço. Vamos exigir que se cumpra o número de linhas em contrato, trabalhar junto às empresas para a volta dos cobradores. É muito prejudicial para o trânsito que o motorista tenha que trocar o dinheiro dos passageiros. E, muitas vezes, para deixar as pessoas em casa mais rapidamente, acaba começando a dirigir enquanto troca o dinheiro. A otimização do transporte passa por buscar, junto às empresas, a melhoria da frota e, lá em Brasília, a viabilização da linha 2 do metrô. O presidente Bolsonaro e o ministro Tarcísio (Freitas, da Infraestrutura) já demonstraram vontade de destinar recursos (da multa aplicada à Ferrovia Centro-Atlântica) à linha 2. Depois, vieram empecilhos jurídicos, parece que (o assunto) terá de passar pelo Congresso, mas acredito que a bancada mineira conseguirá trazer os recursos.

Qual o mais sério problema enfrentado pela cidade?
Com a pandemia, observamos o desemprego, que tem aumentado. Ainda há o recorrente problema das enchentes — e, no início deste ano, tivemos uma demonstração da gravidade. Prometer resolver o problema das enchentes é populismo, mas podemos ajudar a melhorar. A primeira (medida) é o investimento maciço em desassoreamento (limpeza) dos rios cobertos, para acelerar a vazão da água na bacia hidrográfica. A outra maneira é uma macrodrenagem: o grande problema das enchentes em todo o mundo é quando a bacia hidrográfica recebe um volume de água maior que o suportável. Isso ocorre, além da incapacidade de dar vazão, pela chegada rápida da água. Queremos mudar o sistema de bocas de lobo, colocando barreiras para que a chuva corra mais devagar, de onde ela ocorre, até a bacia. Isso ajuda a evitar enchentes, pois, enquanto a chuva corre, a bacia dá vazão à água que ali está. E, mesmo que haja enchente, ela vai demorar mais a ocorrer, o que nos possibilita uma preparação melhor.





Como vai se relacionar com o presidente Bolsonaro e o governador Romeu Zema?
Meu relacionamento com o presidente é excelente. Temos um alinhamento total, além de bom relacionamento com o governador Romeu Zema. Não sou 100% alinhado a ele, mas é uma pessoa que quer o bem de Minas Gerais. Sempre fui do bloco independente (na Assembleia), mas tenho boa relação com o governador e seus secretários. Temos porta aberta para o diálogo.

O senhor fala em 'combater a ideologia de gênero' nas escolas. O que é esse conceito? Pretende, por exemplo, proibir aulas de educação sexual?
A ideologia de gênero é o ensino nas escolas de que homem não nasce homem, mulher não nasce mulher e que gênero é uma coisa fluida. São ensinamentos que não estão baseados em ciência, mas na ideologia de esquerda. O PT, no governo federal, queria implementar o kit gay nas escolas, e enfrentamos diversas batalhas na Assembleia sobre esse tema. A educação sexual tem que ser ensinada no contexto da biologia, aos alunos com idade apropriada para entender o sistema reprodutor. Ficar ensinando conteúdo sexualmente explícito, ideologia de gênero e sexualidade, além de ideologia LGBT nas escolas, não acho que há espaço.

Por causa da pandemia, as escolas municipais estão fechadas desde março. O senhor é a favor da retomada?
Sou a favor da reabertura integral das redes municipal e privada. Precisamos implementar o sistema misto: voltamos com as aulas presenciais, mas oferecemos o ensino remoto aos pais e alunos que não se sentirem seguros. A educação municipal está completamente parada em BH.





Sua candidatura está envolvida em um imbróglio em torno do vice. Acredita em uma resolução até a eleição? Como fazer o eleitor ‘embarcar’ em uma chapa que ‘bate cabeça’ internamente?
O presidente nacional do PRTB, Levy Fidelix, me garantiu autonomia para gerir a candidatura, fazer coligações e escolher o vice. Perto da eleição, mudou o discurso, faltou com a palavra e quis impor o vice (Mauro Quintão). Isso, para mim, não é o jeito certo de fazer política. Precisamos ter palavra e cumprir acordos. Por isso, fui ao TRE e registrei a chapa com a vice que eu quis. Estamos no Judiciário disputando essa questão para mostrar quem agiu de boa-fé. Enfrentamos dificuldades, pois nos colocamos contra o sistema político podre que está aí desde sempre. Fidelix mostrou a sua cara, de dirigente antigo, desonesto e sem palavra. Assumindo a prefeitura, também vamos enfrentar muitas dificuldades, combatendo o sistema podre que está instituído.

Mas o senhor se filiou ao partido.
O sistema político-partidário do Brasil é podre. Não estou dizendo que o PRTB é podre. Temos um sistema viciado, que gera muito poder aos partidos. Deveríamos ter candidaturas avulsas, mas o STF, que se acha dono do Brasil, não permite. Então, dependemos dos partidos. Pensei que estivesse entrando em um partido sério, com pessoas sérias. O que eu vi foi um presidente nacional sem palavra, que se acha dono do partido, que pode impor suas vontades como um ‘rolo compressor’. Me elegi pelo PSL, mas fui expulso, pois a sigla brigou com Bolsonaro, passando a adotar uma plataforma diferente da defendida na eleição. Me filiei ao PRTB, pois me prometeram que seria um partido de direita, alinhado ao governo federal.

O senhor agendou live com o ex-ministro Abraham Weintraub. Considera positivo se associar a alguém que acumulou polêmicas em sua passagem pelo MEC?
Weintraub fez excelente trabalho no ministério. Enfrentou problemas por ter coragem de falar a verdade. Ele enfrentou o STF, teve problemas por isso, mas não tem nenhum escândalo de corrupção. No MEC, ele implementou bons projetos, ajudou a consolidar o modelo cívico-militar e permitiu o desenvolvimento de um plano nacional de alfabetização. O eleitor tem acompanhado os absurdos cometidos pelo STF, que sai de sua prerrogativa, tenta agir como um poder acima dos demais e, pior: infringe a liberdade das pessoas. Todos nós temos acompanhado o inquérito da censura (que investiga as fake news contra ministros da corte), que quer tolher a liberdade de expressão dos cidadãos. A coragem de enfrentar o STF, para mim, é uma qualidade, não um defeito.





O senhor defende as escolas cívico-militares. Como implantar tal modelo em BH?
O projeto-piloto é disponibilizado pelo MEC. Basta ao ente federado aderir. Kalil não aderiu por motivos ideológicos. Por ser uma pessoa de esquerda, não aderiu a um modelo que comprovadamente funciona. Vamos aderir ao modelo do MEC, com verba da União. Depois, e com certeza será um sucesso, vamos buscar parcerias com o governo do estado e a PM para fazer um colégio cívico-militar nos moldes do Tiradentes, que também é um sucesso.

Por que o senhor considera o Kalil de esquerda?
Vemos na plataforma econômica como trata quem gera emprego e renda como inimigo, o Plano Diretor desastroso, que com a Lei de Uso e Ocupação do Solo inviabiliza o setor da construção civil. É uma pessoa que se coloca contra os valores conservadores, vai a uma parada LGBT — e tem todo o direito de ir — e fala que aquilo é lindo e maravilhoso, além de falar um palavrão para quem é contra. Foi um ‘foda-se’ para boa parte da população de BH, que não acha que a parada LGBT é um evento bacana. Tem o direito de ocorrer, mas você não pode dizer um palavrão para boa parte da população belo-horizontina.

Quais os planos do senhor para a saúde?
Implementar o protocolo de tratamento precoce (hidroxicloroquina, azitromicina e zinco) contra a COVID-19, que vai gerar menos internações e menos mortes. Queremos aumentar o investimento em saúde preventiva, pois assim é possível solucionar o problema na ‘raiz’. Queremos colocar policlínicas em cada regional, com atenção à saúde da família e às questões odontológicas. Kalil disse que ia fazer funcionar o que já existe, mas a rede de saúde não tem funcionado com excelência. Queremos mudar essa realidade. As policlínicas podem ter consultas marcadas, com atendimento especializado, para evitar problemas com antecedência.

PERFIL

Bruno de Castro Florêncio Engler de Almeida
  • Idade: 23 anos
  • Naturalidade: Curitiba
  • Estado civil: solteiro
  • Filhos: não tem
  • Formação: superior incompleto (trancou a graduação em direito em 2018)
  • Carreira: deputado estadual desde o ano passado
  • Experiência política: liderança do Movimento Direita Minas, candidato a vereador de BH em 2016, deputado estadual eleito em 2018. Antes do PRTB, passou por PSL e PSC
 
 




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