Em todas as entrevistas das quais participou desde que se tornou candidato à Prefeitura e Belo Horizonte, o policial militar Edmar Washington Xavier teve que responder à mesma pergunta, sobre uma aparente incoerência: Por que um homem foi escolhido para ser o representante do Partido da Mulher Brasileira (PMB) na corrida eleitoral da capital? Segundo Cabo Xavier, não houve interesse de nenhuma mulher de seu partido – nem da sua vice, a gestora de tecnologia da informação e graduanda em gestão ambiental Paula Maia, de 36 anos – de encabeçar a chapa. Questionado sobre qual a plataforma do PMB, o candidato respondeu: “Homenagear a mulher. Incentivar a participação da mulher na vida política, que é pequena. Não por falta de espaço. Muitas vezes por falta de interesse”. Crítico ferrenho da administração do prefeito Alexandre Kalil (PSD), a quem chama de “tirano” e “arbitrário”, Cabo Xavier diz que sua prioridade, se eleito, será recuperar o diálogo com a comunidade. “O atual governo se fechou no mundo dele e fechou as portas ao diálogo com segmentos da sociedade”.
Qual a sua prioridade para BH caso seja eleito?
O primeiro passo é restabelecer o diálogo, que não existe na gestão atual. O atual governo é tirano, arbitrário e se fechou no mundo dele. Temos um programa chamado ‘Eu, Prefeito’. É convidar o cidadão, para ser prefeito da sua rua, do seu bairro, estabelecendo conselhos consultivos para participar das tomadas de decisões da PBH. O prefeito é um servidor do povo e tem que servir as pessoas com humildade, sem estereótipos de vaidade. As decisões serão tomadas por meio de um aplicativo, em que as pessoas vão votar as prioridades do bairro, classificando de acordo com a capacidade econômica do município.
Qual o principal e mais urgente problema da cidade?
BH tem muitos problemas, foi abandonada com pretexto de um discurso (do prefeito) de que não era político, não iria fazer nada. Realmente não fez e deixou piorar o que funcionava. Vamos começar pela mobilidade urbana. Precisamos implementar a rede do metrô com o monotrilho, integração nas estações, com ciclovias onde a topografia permitir. Um cartão único integrado, para que a pessoa possa ter transporte de qualidade, moderno, usando energia limpa e econômico. Outro problema urgente são as enchentes. Tenho um projeto chamado ‘BH Esponja’, que é incentivar os moradores a criar dentro do seu imóvel, orientados por projetos técnicos da PBH, uma caixa de captação de água. Isso vai reduzir as enchentes e resolver o problema do período das secas. E vamos incentivar quem fizer isso com abatimento no IPTU.
O senhor falou em metrô, monotrilho, integração. Qual o custo estimado e de onde virão recursos para concretização desses projetos?
O prefeito não sabe tudo, por isso ele tem assessorias técnicas. Nossos técnicos é que vão cuidar de dados de como serão os percentuais. O que temos é vontade de fazer a coisa certa. Isso se faz com parcerias. Estamos saindo de um momento de pandemia para nova realidade, que serão as parcerias público-privadas.
Mas qual é o custo estimado?
Mais uma vez, digo que essas questões técnicas é a secretaria técnica que fará o levantamento. Hoje não estou na prefeitura e não tenho como mensurar dados técnicos para apresentar.
A extensão do metrô está na pauta de vários candidatos há anos. Mas parece que o monotrilho se tornou o novo metrô, pois é citado pelo senhor e outros candidatos. A que o belo-horizontino pode se apegar para acreditar que essa promessa não será apenas mais um sonho?
É só olhar quem está prometendo. Eu não sou mandatário. Muitos dos candidatos que estão prometendo isso estão no mandato há anos e nunca apresentaram essa proposta como parlamentar. Essa é a grande diferença do que quero ser. Cito o exemplo do prefeito de Colatina (ES), Sérgio (Meneguelli, Republicanos), que abriu mão das regalias. Capina lote, ajuda a pintar marquises das ruas, viadutos, cuida dos jardins, com simplicidade. Esse é meu referencial. É o que quero ser para BH. Sem muita firula, sem muita coisa técnica. Com simplicidade. Colatina hoje é referência no mundo.
Sem demérito a essas atividades, o senhor acha o prefeito tem tempo para sair capinando, varrendo? A complexidade dos problemas de BH pode ser comparada aos de uma cidade como Colatina?
E por que não? O que me proponho não é sair capinando Belo Horizonte, mas ser simples e economizar a máquina pública. Quando eu me referencio nele, falo da sua transparência, honestidade e vontade de fazer. E a coisa deu certo.
Como recuperar o tempo perdido na educação por causa da pandemia?
Se a pandemia persistir, precisaremos de medidas como criação de uma junta permanente de assistência social, psicológica e pedagógica para alunos, pais e professores. Fomos pegos de surpresa por uma situação adversa com a qual muitos pais e professores não estão sabendo lidar. É necessária a concessão de internet para acesso remoto às aulas, com parcerias público-privadas. BH é polo de startups de tecnologia e a PBH não utiliza essas parcerias. Vamos procurar parcerias também com redes de TV, a exemplo de alguns países, em que canais criaram programas de acordo com a faixa etária. Programas lúdicos, atrativos que prendem a atenção das crianças e passam ensinamentos para crianças.
A pandemia prejudicou, além da educação, a economia de BH. Qual o seu projeto para recuperá-la?
Iremos implementar o banco municipal de desenvolvimento econômico, buscando recursos na esfera federal, estadual e internacionais. Vamos liberar linha de crédito para pequenos e microempreendedores, grandes responsáveis pela circulação de serviços, com juros irrisórios e prazo bem dilatado. A outra (medida) será a parceria público-privada com entidades que oferecem cursos profissionalizantes para que quem fechou seu negócio tenha nova formação e possa ser recolocado no mercado de trabalho. Também propomos incentivos fiscais, como abatimento no IPTU. Vamos colocar a fiscalização não para ir lá ferrar o comerciante que já está sufocado. Vamos ter um corpo técnico. Conversei com a Fecomércio, com o CREA e todos eles reclamaram de falta de diálogo do atual governo.
Qual o seu diagnóstico da Saúde em BH? Quais os números, gargalos e o que fazer para resolvê-los?
Saúde também passa pelo diálogo e pela parceria público-privada. Temos prédios ociosos no município, que podem ser usados em parceria com médicos. A PBH pode fazer concessão de comodato por 30, 40, 100 anos para um grupo de médicos, ajudar na estrutura, compra de equipamentos mais baratos e os médicos da rede privada atenderem ali com uma concessão de 50% das vagas para a rede pública. Vamos disponibilizar um aplicativo para que consultas mais básicas possam ser realizadas por teleconferência. Isso impacta também na mobilidade urbana. Imagine que se 10% da população de BH sai todos os dias para fazer uma consulta básica. Se fizerem isso de casa, pelo aplicativo, vamos desafogar o trânsito. Há também questões urgentes para a mulher. Temos que ter acompanhamento, sobretudo para gestantes. Nasci dentro de um carro, porque o primeiro hospital não quis receber minha mãe, que estava em trabalho de parto. Tentando achar outro hospital, nasci por volta de 23h15 em frente ao Palácio das Artes. Queremos priorizar políticas públicas em defesa da mulher.
Falando em mulher, o senhor é candidato pelo Partido da Mulher Brasileira. Não é uma incoerência?
Diversas vezes fui perguntado sobre isso. Alguém comentou no Facebook: “Será que o cabo virou mulher?” Vamos parar com essa palhaçada, com esse preconceito. Estamos lutando tanto contra essas diferenças, desigualdades. Não estamos aqui lutando se sou homem, se sou mulher. Queremos fazer o melhor para todos, indiferente de raça, cor, gênero, classe social. O que tem que ser proposto é que homens e mulheres são iguais em deveres e obrigações, e têm que ser respeitados, seja qual for o partido. Se não tivesse o Partido da Mulher, a mulher não poderia ser candidata por nenhum outro?
Qual é a plataforma do seu Partido da Mulher Brasileira?
Homenagear a mulher. Incentivar a participação da mulher na vida política, que é pequena. Não por falta de espaço. Muitas vezes por falta de interesse.
Por que a sua vice não é a candidata?
Ela não quis. É uma questão de vontade e de respeito à vontade. Aí, começa o respeito à mulher, quando a gente respeita o posicionamento das pessoas.
Estamos longe de ser iguais em direitos. Mulheres, negros, população LGBT, pessoas com deficiência sofrem por falta de igualdade de direitos em BH. Qual a sua plataforma de governo para diminuir a desigualdade?
Governar para todos. Temos que ter política de estado, não de governo. Política de governo visa um posicionamento político-partidário dentro de um contexto. Vou dar um exemplo. Temos uma rua sem asfalto, com esgoto a céu aberto, sem iluminação adequada, sem segurança. Venho como prefeito e melhoro aquela rua, coloco uma base de polícia cidadã comunitária. Aí, vou atender todo mundo daquela rua, onde mora negro, branco, crente, ateu, hétero, homo, pessoas de todos os jeitos.
Como o poder público pode ajudar pessoas que não têm as mesmas oportunidades a terem uma vida mais digna?
Temos políticas para o desenvolvimento econômico, como a criação do banco municipal, isenção de taxas. Isso vai gerar emprego e renda. Oportunidade de a pessoa ter uma renda mínima, com acesso à formação gratuita e recolocação no mercado de trabalho. Quando se gera renda, se tira uma pessoa da situação de necessidade e de dependência do poder público. Dá a ela dignidade e oportunidade.
O senhor fala em isenção de impostos, que diminuirá a renda do município e em criação de um banco. De onde vão sair recursos para a criação do banco? E a isenção de impostos não vai agravar ainda mais a situação financeira do município?
Não, porque os impostos no Brasil estão sempre acima da média. Há um gasto público excessivo e a gente vai ter condição de fazer esse enxugamento. Sobre o banco, vamos buscar parcerias nos governos federal e estadual e em mecanismos internacionais de ajuda humanitária.
Qual foi o orçamento de BH para 2020?
Não sei responder. Essas questões vão ficar a cargo da minha equipe técnica. Não sou técnico em administração. Sou teólogo e graduando em direito. Mas acredito que com uma boa equipe, vamos estar a par de todas essas coisas para fazer uma boa gestão. Esses dados muitas vezes são para deixar o candidato numa situação difícil.
Como o senhor quer governar sem saber a receita da cidade?
Com honestidade, boa vontade política, simplicidade, amor. Muitos candidatos que vieram com dados técnicos, programa de governo, não realizaram nada, roubaram a cidade. Colocaram BH no rumo do atraso e não resolveram nada disso. Precisamos de gente com boa vontade política, honestidade, e eu tenho essas características.
O senhor fez várias críticas ao governo Kalil. Qual o pior erro da administração atual? E o que o senhor tira de positivo?
De positivo não tiro nada. E o ponto crucial negativo é o sufocamento do comércio com o pretexto de defesa da vida. Foi um posicionamento político-ideológico para confrontar o governo estadual, para o qual ele pretende concorrer nas eleições daqui a dois anos.
Na pandemia o senhor acha que não seria adequado promover o isolamento social, conforme recomendado pelas autoridades de saúde?
A vida está acima de qualquer outro bem. É o nosso maior patrimônio. Mas existiam outras formas de fazer isso. Deveria ter feito um conselho participativo, deveria ter medidas de isolamento. Mas começou cedo demais, estendeu demais e sufocou o comércio.
PERFIL
Edmar Washington Xavier
- Idade: 48 anos
- Naturalidade: Belo Horizonte
- Estado Civil: casado
- Filhos: dois
- Formação: teólogo e estudante de direito
- Carreira: candidato a vereador em Governador Valadares em 2008 e 2012 e a deputado estadual em 2014 e 2018