Faltando apenas duas semanas para o primeiro turno, os cenários que se apresentam é de um resultado fragmentado, sem um partido ou candidato como grande vencedor, e com a ausência de prefeitos nas capitais que sejam aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em São Paulo e Porto Alegre, por exemplo, as intenções de voto mostram que a oposição ao presidente tem lugar garantido. Bolsonaro repetiu, antes e durante a campanha, que se manteria fora do pleito – estratégia até para evitar desgastes em caso de derrota. Mas, nos últimos dias, declarou apoio a candidatos como o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos).
Em São Paulo, o presidente fez o mesmo movimento: disse que não entraria na campanha, mas elogiou Celso Russomanno (Republicanos), declarando apoio a ele. Não deu certo, e o candidato, que está em segundo, continua caindo nas pesquisas. Ainda assim, Russomanno publicou na última sexta-feira uma foto ao lado do presidente. Entretanto, o candidato tem encolhido rapidamente na preferência do eleitor paulistano.
O cientista político aponta a fragmentação das candidaturas, com o fim das coligações, e que já é difícil imaginar um cenário hegemônico quando se pensa nas legendas vitoriosas. Além disso, ele destaca a existência de um rearranjo da política nacional, pois o PSL se tornou um partido forte após 2018, mas foi abandonado por Bolsonaro. “Poderia ser o partido do presidente, mas ele saiu. Hoje, o bolsonarismo está disperso entre republicanos e aliados esporádicos”, diz.
O analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, afirma que além de fragmentado, o que se pode esperar, com base no que já se observa nas pesquisas eleitorais, é o crescimento de “caciques” na política, figuras que já estão há tempos no cenário político, e pessoas ligadas a famílias com histórico na área. Este é o caso de Recife, onde o deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos, disputa a prefeitura. Ele está em primeiro lugar nas pesquisas. Em segundo, vem Marília Arraes (PT), que é sua prima. “Me parece que não vai haver a hegemonia de nenhum partido. Veremos o aumento da fragmentação partidária e o fortalecimento desses velhos personagens da política brasileira”, avalia.
Além disso, neste pleito, Bolsonaro deverá sair sem prefeitos aliados nas grandes cidades. Se, na eleição de 2018, o PSL saltou de partido nanico para a segunda maior bancada na Câmara, desta vez o cenário é bem diferente. Sem uma legenda, o presidente terá influência limitada nas disputas municipais. “Vai ficar a ver navios, não vai ter apoio nas capitais”, afirma Melillo Dinis. No Rio, por exemplo, Crivella está em segundo e Eduardo Paes (DEM), em primeiro. Bolsonaro pediu voto para Crivella na última semana, mas falou ao eleitor que “se não quiser votar nele, fique tranquilo”. Na mesma transmissão ao vivo, evitou criticar Paes e o chamou de “bom administrador”. Crivella, como se sabe, já teria mesmo reeleição difícil, por causa da alta rejeição que enfrenta na capital carioca. Não haveria razão, portanto, para o chefe do Executivo aumentar a exposição em apoio a um candidato com tantos problemas.
''O eleitor que aumentou a popularidade e o apoio do Bolsonaro, aparentemente, não está nas capitais''
Augusto de Oliveira, professor da Escola de Humanidades da PPUC-RS
Em São Paulo, o presidente fez o mesmo movimento: disse que não entraria na campanha, mas elogiou Celso Russomanno (Republicanos), declarando apoio a ele. Não deu certo, e o candidato, que está em segundo, continua caindo nas pesquisas. Ainda assim, Russomanno publicou na última sexta-feira uma foto ao lado do presidente. Entretanto, o candidato tem encolhido rapidamente na preferência do eleitor paulistano.
Professor de direito da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e cientista político, Michael Mohallem afirma que é possível observar a dificuldade do bolsonarismo nas capitais, como Rio, São Paulo e Porto Alegre. Mohallem ressalta que o próprio presidente informou que não iria se envolver, e que já se vislumbrava cenários sem a presença dos candidatos alinhados ao Planalto nas capitais.
FRAGMENTAÇÃO
O cientista político aponta a fragmentação das candidaturas, com o fim das coligações, e que já é difícil imaginar um cenário hegemônico quando se pensa nas legendas vitoriosas. Além disso, ele destaca a existência de um rearranjo da política nacional, pois o PSL se tornou um partido forte após 2018, mas foi abandonado por Bolsonaro. “Poderia ser o partido do presidente, mas ele saiu. Hoje, o bolsonarismo está disperso entre republicanos e aliados esporádicos”, diz.
Na esquerda, também é possível perceber rearranjo, com o enfraquecimento maior do PT, que já sofreu queda brusca em 2016, ainda que tenha conseguido eleger a segunda maior bancada na Câmara em 2018. Para ele, inclusive, as legendas de esquerda estão buscando se alinhar, como pôde ser visto no encontro entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) na última semana.
Cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael também espera diversidade de partidos nas prefeituras. “Acho difícil que tenha uma legenda que diga que venceu as eleições”, afirma. Para ele, a onda de 2018, que elegeu Bolsonaro e arrastou deputados, senadores e governadores, não está presente nesse pleito. O professor ressalta os eleitores tendem a se concentrar em questões locais, dando menos atenção a grandes temas políticos, como o combate à corrupção e a ascensão do conservadorismo no país.