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Estado de Minas Orçamento

Força do Centrão e do governo Bolsonaro será testada

A capacidade do Centrão - bloco que reúne partidos nanicos, será testada agora na Comissão de Mista do Orçamento


03/11/2020 04:00 - atualizado 03/11/2020 08:33

Arthur Lira (PP-AL) (D), líder do Centrão, está obstruindo a pauta a Câmara dos Deputados (foto: LUIS MACEDO/Câmara dos Deputados - 4/3/18)
Arthur Lira (PP-AL) (D), líder do Centrão, está obstruindo a pauta a Câmara dos Deputados (foto: LUIS MACEDO/Câmara dos Deputados - 4/3/18)
Brasília – A guerra da Comissão Mista de Orçamento (CMO) mostrará a verdadeira força do governo na Câmara. E, por enquanto, os prognósticos não são bons para o Palácio do Planalto e seus aliados.

Às vésperas de um 2021 de forte crise econômica provocada pelo coronavírus, a base aliada liderada pelo Centrão luta para ocupar a mesa do colegiado e construir, ao mesmo tempo, um candidato viável para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Casa.

Na comissão, porém, o grupo do presidente da Câmara garante que tem votos para manter a situação como está. Isso forçaria o governo a negociar com Maia ou até mesmo aceitar um candidato independente para sucedê-lo.

O cabo de guerra levou o Centrão, sob o comando do deputado Arthur Lira (PP-AL), a obstruir a pauta da Câmara. A paralisação dos trabalhos joga para frente projetos importantes e prejudica o andamento de matérias de interesse do Executivo – como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 186/2019, apelidada de PEC emergencial, que cria gatilhos para preservar o teto de gastos, além da reforma tributária.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), prometeu resolver o impasse até amanhã, mas poucos parlamentares acreditam nessa possibilidade. Uns falam até em levar o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) direto para o plenário, sem debates prévios.

A disputa pela presidência da Câmara atingiu a CMO devido à reorganização dos blocos partidários. O acordo fechado para a composição da comissão, em fevereiro, contava com um grande bloco que ligava DEM, MDB e PSDB ao Centrão, composto por PP, PL, PSD, Solidariedade e Avante. A configuração permitiu que as três primeiras legendas assumissem os principais cargos, sendo a presidência reservada ao deputado Elmar Nascimento (DEM-BA).

Porém, quando o Centrão fechou com o Palácio, que tentou adiantar a corrida eleitoral na Câmara, o grupo de Maia desembarcou da coalizão. Sem o controle da comissão que debaterá e definirá o orçamento de 2021, restou aos aliados do governo quebrarem o acordo, justificar que as circunstâncias mudaram e exigir espaço no colegiado. A indicação de Flávia Arruda (PL-DF) para disputar a presidência da CMO com Elmar consolidou o confronto.

PÓS-ELEIÇÃO


Para Ricardo Ismael, doutor em ciência política, professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), vai ser difícil o governo se movimentar para construir algum acordo até 15 de novembro, data do primeiro turno das eleições municipais. “O governo deve esperar passar o primeiro turno para dizer o que está pensando para 2021, seja na questão da receita, do aumento de carga tributária, e alguma coisa que possa sinalizar como corte”, avaliou.

O Executivo precisa, segundo Ismael, do controle do orçamento para traçar estratégias para a crise e, também, para tentar recuperar o crédito com o mercado financeiro, cada vez mais desconfiado do perfil errático de Jair Bolsonaro. E Maia, por outro lado, precisa de visibilidade para dar continuidade ao próprio projeto político.

Segundo o advogado e analista político Melillo Dinis, mesmo com a CMO em funcionamento e a pauta destravada, a batalha prosseguirá até “as eleições para a presidência da Câmara e do Senado”, o que também deverá interferir na agenda de votações. A oposição, que também obstrui a pauta para forçar a votação da Medida Provisória 1.000/20, do auxílio emergencial, e aumentar o benefício dos informais, será peça-chave na definição do próximo presidente.

“Teremos um dezembro maluco. Vai se apresentar um orçamento em cima da hora. Estão todos apostando na volatilidade. Essa disputa representa a negociação dos parcos recursos que restaram diante de um orçamento quase que totalmente comprometido. E incide, lamentavelmente, no projeto que teremos de Brasil em 2021, um ano muito duro”, alertou Melillo.




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