O ex-ministro Ciro Gomes - que disputou a Presidência da República em 2018 pelo PDT e que já declarou que gostaria de concorrer novamente - reagiu nesta segunda-feira, 9, às notícias de união entre o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, o apresentador Luciano Huck e o governador de São Paulo, João Doria. Os três iniciaram conversas para se apresentarem ao eleitor em 2022 como uma alternativa de centro.
"No dia que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda, o que eu nunca fui", afirmou o presidenciável após evento com a militância de seu partido, o PDT, em apoio ao ex-governador Márcio França (PSB), candidato à Prefeitura de São Paulo em uma chapa com o pedetista Antonio Neto como vice.
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Após encontro com Moro, Luciano Huck almoça com Maia: 'Minha turma'Ministro manda indireta para Moro: 'Não basta trair no governo tem que continuar flertando com a traição'Moro aponta Mourão, Mandetta, Huck e Dória como nomes 'de centro' para 2022O pedetista poupou Huck de muitas críticas, sugerindo apenas que ele não tem experiência em governo para conseguir orientar o País. "O Luciano Huck é um apresentador de televisão. Ok, é uma tarefa das mais dignas. Isso prepara para enfrentar a maior crise social, econômica? O posicionamento internacional do Brasil, o Congresso hiper fraturado?", indagou. "Só a irresponsabilidade de algumas pessoas da elite Brasileira é que permitem a gente acreditar isso", afirmou. Sobre Doria, Ciro disse que ele foi um prefeito que mentiu para o povo, se referindo à promessa feita pelo tucano de que ele não deixaria o mandato na Prefeitura para disputar o governo do Estado.
"Ele já resolveu: vai terceirizar a Prefeitura para o MDB, vai terceirizar o governo do Estado para o DEM. Esse é o plano dele, para ele ser o presidente da República. E vocês que se arrebentem", afirmou.
Encontro com Lula
A repórteres, Ciro confirmou que encontrou o ex-presidente Lula em setembro. O petista tem sido alvo de muitas críticas do pedetista desde o desfecho das eleições 2018, em que o atual presidente Jair Bolsonaro, se elegeu.
"Eu tive (um encontro com Lula). Fui convidado pelo governador Camilo Santana (petista que administra o Ceará e é próximo à família Gomes) e tive uma conversa muito franca, muito franca mesmo. As pessoas gostariam de que eu usasse uma expressão popular: lavamos a roupa suja, para valer", explicou o ex-ministro de governo do PT.
De acordo com Ciro, ambos continuaram com suas opiniões sobre a situação do País, mas que o fato de haver diálogo é positivo. "Eu diria que, sob o ponto de vista das compreensões da questão brasileira para trás e para frente, continuamos como estávamos antes de conversar. Mas a mim me agrada a ideia de que a gente faça política conversando. Sabe? O que pega é catapora", argumentou.
De acordo com o ex-ministro, nenhum dos dois deu qualquer sinalização concreta de plano para o futuro.
A iniciativa do encontro partiu de Santana, que procurou Ciro e Lula, aparou arestas e viabilizou a reaproximação. A tarefa demandou mais de um mês e dezenas de telefonemas. Desde então Lula tem incluído Ciro no rol de nomes fortes da esquerda para 2022 e o pedetista cessou os ataques ao PT.
Apoio a Márcio França
O presidenciável elogiou a postura do candidato Márcio França, que tem evitado nacionalizar a disputa pela Prefeitura de São Paulo e têm criticado seus oponentes por vincular suas imagens à de um potencial candidato em 2022. Ao longo da campanha, França vem se apresentando como o candidato para o eleitor que quer um prefeito e não um presidente.
Para Ciro, a estratégia é acertada. "Se você olhar em Fortaleza, onde o meu título de eleitor é, nós entendemos que o que está em debate é uma eleição municipal. Os meus adversários estão querendo fazer isso (nacionalizar a disputa e com cabos eleitorais de fora da cidade) lá. O Lula todo dia na televisão, o Moro entrou na televisão lá no Ceará, Bolsonaro entrou na televisão no Ceará e eu não vou", afirmou. Em Fortaleza, Ciro apoia José Sarto (PDT) enquanto Lula apoia Luizianne Lins (PT) e Moro gravou um vídeo para o deputado Capitão Wagner (Pros).
De acordo com pesquisa Ibope divulgada no último dia 3, Sarto (PDT) tem 29% das intenções de voto, contra 27% de Capitão Wagner e 24% de Luizianne.
"E eu não vou (participar do horário eleitoral), porque eu não vou deixar que eles distraiam o povo de Fortaleza. Nunca perdi uma eleição no Ceará. Na última agora (em 2018), eu ganhei para presidente da República no Estado todo e o Bolsonaro foi para terceiro lugar. Então eu não tenho problema de relação com o meu povo. O que eu não posso permitir é que queiram transformar o meu povo, a quem eu devo tudo, em pecinha de xadrez do jogo que vai ser jogado em 2022", acrescentou.
De acordo com o marqueteiro de França, Raul Cruz Lima, Ciro não será usado no horário eleitoral gratuito da campanha peesebista. "O Márcio é o cara que tem falado o tempo todo na imagem das sombras - tem uma sombra (de campanha presidencial) atrás de cada candidato. O Russomanno com o Bolsonaro, o Lula atrás do (Jilmar) Tatto e do (Guilherme) Boulos. E ele o Márcio está se mostrando como o cara independente que não tem o rabo preso com ninguém. Na campanha (de rádio e TV), não estamos programando nada com o Ciro", afirmou ao Estadão.
No evento com Ciro, França e Antonio Neto, foram feitas gravações para serem postadas na internet. França saiu mais cedo para uma entrevista na Rede Record.
Bolsonaro na campanha de Russomanno
Perguntado se o deputado Celso Russomanno (Republicanos), oponente de França na disputa pela Prefeitura, estava errado ao estava usar Bolsonaro em sua campanha, Ciro, que não costuma medir palavras, disse que foi uma decisão "idiota".
"Desculpe dizer. O Bolsonaro é um idiota e o Russomanno não é do ramo. O Russomanno vive de explorar essa popularidade que a televisão dá, ele está aí nos programas popularescos, mundo cão, tal que ele é desse ramo, e acha que isso vai transformar o povo em idiota. Isso é muito bobo, porque nunca será assim que o povo vai votar", defendeu.
O ex-ministro também disse que o atual presidente vai "levar uma sova" nas grandes metrópoles do País. "O Bolsonaro é um imbecil completo. Por quê? Porque vai levar uma sova grande em São Paulo, outra grande no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais não está vendo nem o azul. Não se apresentou no Rio Grande do Sul, não se apresentou nem no Sul, onde ele tem força. No Nordeste brasileiro, ele não vai levar em canto nenhum", argumentou.
Para o presidenciável, a expectativa de que aliados do presidente percam em grandes cidades acena para a possibilidade de que o eleitorado está começando a rejeitar extremos. "Parece que o bolsonarismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro", disse.