Fortemente ligado à política por influência da família, Lafayette Andrada (Republicanos) tenta pela primeira vez ser prefeito da cidade onde nasceu: Belo Horizonte. Deputado federal, ele é da base do governo federal na Câmara dos Deputados e tenta associar alguns planos de origem bolsonarista, como as escolas cívico-militares, para a capital mineira. Além disso, o concorrente diz que uma das soluções (de longo prazo) para o trânsito da cidade melhorar é a elaboração de um projeto para a circulação de monotrilho. “Nada mais é do que um metrô moderno. É bem mais barato. De acordo com especialistas, é cinco vezes mais barato para ser implantado do que o tradicional, e cinco vezes mais rápido também para implantação. Defendo a tese do monotrilho ligando o Barreiro ao Centro, passando pelo Betânia e Buritis. Existem em BH cerca de 120 quilômetros de ruas que comportam o monotrilho. Cada administração vai ampliando, mas temos que trabalhar nessa direção.”
Qual o principal problema que precisa ser enfrentado em BH?
BH tem problemas crônicos. Mas, além deles, a questão da pandemia se tornou um problema, então esse pós-pandemia é que vai ser, talvez, o grande desafio, a retomada econômica. Porque a cidade foi fechada, empresas não conseguiram reabrir, lojas, as pessoas perderam os empregos. O governo federal deu alguma ajuda com o auxílio emergencial, mas a partir de janeiro não tem mais. O principal foco é enfrentar essa questão social e econômica de gerar empregos, voltar a economia a girar.
Quais são esses problemas crônicos?
Um deles é a mobilidade urbana. BH é uma cidade travada, o trânsito é travado. Somos a quarta capital com trânsito mais lento do Brasil. O trabalhador leva, em média, 1h10min para chegar ao trabalho, e depois para retornar. Isso impacta. Tenho sugestões de curto, médio e longo prazos. De curto, é preciso usar ferramentas de inteligência artificial, precisa sincronizar os semáforos nas vias, para que flua. Preciso também sinalizar melhor vias alternativas que podem diminuir de 20% a 30% o trânsito. O terceiro é o transporte de massa, defendo muito o monotrilho. Nada mais é do que um metrô moderno. É bem mais barato, de acordo com especialistas, cinco vezes mais barato para ser implementado do que o tradicional, e cinco vezes mais rápido, também, para ser implementado. Defendo a tese do monotrilho, iniciaria ligando o Barreiro ao Centro, passando pelo Betânia, Buritis. Existem em BH cerca de 120 qui- lômetros de ruas que comportam o monotrilho. Cada administração vai ampliando, mas temos que trabalhar nessa direção. Existem também 200 pontos de gargalo no trânsito. São obras que precisam ser feitas, em um mandato só não se vai concluir tudo, mas precisa iniciar. A nossa educação vai mal. Saiu o índice do Ideb referente a 2019, nada a ver com pandemia, e para nossa surpresa, 478 cidades mineiras têm nota melhor que BH. Tínhamos que ser referência. Percebo que há um problema de disciplina. É recorrente violência na porta de escola, aluno agredindo professor. Em ambiente desse não há ensino positivo. É preciso dar choque de disciplina nas escolas, por isso defendo o modelo cívico-militar, por duas razões: toda escola militar é bem avaliada, e atribuo isso à disciplina; o segundo é tornar o estudo atrativo, ao professor, ao aluno, a evasão é grande. Uma maneira de melhorar é usar ferramentas modernas, tablets, informatizar as escolas. A aula seria mais atrativa, o menino veria a Turquia, viajaria pela Roma antiga. A educação merece atenção especial.
Quais os outros problemas?
A saúde também vai muito mal. Pessoas que não têm plano de saúde, que dependem do SUS, sofrem muito. Para conseguir consulta, em torno de oito, nove meses. Exame, um ano e um mês. É preciso um choque. Minhas sugestões: conveniar rapidamente com a iniciativa privada para fazer a fila andar; e ferramentas modernas digitais, a telemedicina, fazer a primeira consulta rápida pelo celular, diminui a fila imensa. Pode ter aplicativos que auxiliam, com histórico inteiro por cadastro, pode colocar toda a vida de saúde em um telefone celular. Pode te avisar de consultas, precisam ser utilizadas. Outro ponto é a moradia, infraestrutura urbana, tirando a mobilidade. Mais de 20% da população moram em favelas, moradia precária. Precisa fazer intervenção urbanística. Uma administração só não vai fazer. Precisa urbanizar, dar moradia digna para a cidade.
Existem muitos estudantes em situação de vulnerabilidade social. O senhor acha que isso está ligado à disciplina escolar?
Existe um problema que é mais complexo, que é familiar, isso de fato precisa ser enfrentado. Mas estava falando especificamente da escola, daquele momento. Deve ser integral, para ele ficar o maior tempo possível dentro daquele momento, e não no ambiente vulnerável. Tem uma escola de Brasília que era problemática, com drogas, violência, e na reportagem mostra uma mãe dizendo que queria tirar o menino de lá. E lá passou a ter a escola cívico-militar, e as mães falando que os filhos gostam de ir pra lá.
Mas a disciplina só existe na escola militar?
Não, evidentemente. Mas é um modelo que vejo que funciona bem, as escolas militares primam por isso. No ambiente militar a disciplina é rigidamente respeitada. Aposto na hipótese de que esse modelo restitui a disciplina, e o ensino acaba mais eficaz.
No plano de governo do senhor há um alistamento facultativo para a Guarda Municipal. Como seria exatamente?
Estou propondo o alistamento facultativo. Assim como existe o alistamento militar obrigatório, dos jovens que fazem 18 anos, vamos abrir o facultativo. E vamos aproveitar, preferencialmente, os jovens da periferia, situação carente. Minha ideia é alistar 12 mil jovens. A Guarda Municipal tem em torno de 2,5 mil a 3 mil homens. Seria a partir de 18 anos, ajudar no policiamento das praças, nas escolas, nos pontos de ônibus, em locais mais ermos, onde há assédio a mulheres. Vamos ampliar o efetivo da Guarda para fazer o policiamento baseado no que o Igesp diagnosticar. Não é tão caro. Proponho pagar aos jovens pouco mais de meio salário mínimo, então, o impacto não é tão grande. E todo ano vamos trocar esse jovem, não vai seguir carreira. Algum até pode seguir, eventualmente, mas é igual ao militar, todo ano novos jovens vão servir na Guarda. Se quiser seguir, vai ter que fazer concurso, tradicional, para compor, igual quem é do Exército. Vão servir na Guarda Municipal, essa é a ideia.
O senhor e outro candidato disputam o apoio do presidente Bolsonaro. Brigar por esse apoio rende voto?
Meu partido, o Republicanos, é da base do governo Bolsonaro na Câmara. É onde estão filiados os filhos de Bolsonaro, tenho afinidade no aspecto econômico, liberal, e também até nos costumes, mais tradicionais. Existe essa afinidade e sou da base dele na Câmara. Não vejo nenhuma impropriedade dizer que sou candidato alinhado com Bolsonaro, embora o Bruno Engler, por quem tenho todo o respeito, tenha amizade pessoal com Eduardo Bolsonaro. Acho que não seja uma disputa, queria até mais candidatos que fossem bolsonaristas. No aspecto eleitoral não sabemos o impacto. Vamos ver no próximo domingo. O que percebo é que, nos últimos anos, as últimas três eleições, mostraram que o eleitor só define na última semana. Em 2018, para senador, todas davam a Dilma na liderança. Havia até disputa de quem seria o segundo eleito, tinha três nomes. Na última semana, tudo mudou e ela não foi eleita. Mesma coisa com governador Romeu Zema.
O senhor acha que pode ter reviravolta das pesquisas e chegar no topo?
Kalil pode não ter esses votos todos. Deve ser o mais votado, mas não com essa votação inteira. É factível de ele não ter tudo isso, ter só 40%, e aí ir para um segundo turno. Caso haja, tem ali uma pulverização e todos estão na margem de erro. Em tese, qualquer um desses pode ir ao segundo turno, inclusive eu.
Em várias capitais, o apoio de Bolsonaro não tem bastado. Ainda assim acredita nisso?
Sim, pois vejo diferente. BH tem uma peculiaridade, pois todas dão Kalil disparado e os outros com pouco percentual, próximos. Embora Bolsonaro, onde haja disputa forte, ele tem seguramente 15%, 20%. Em um ambiente onde todos têm entre 2% e 3%, pode ajudar o candidato.
O senhor disputou a Prefeitura de Juiz de Fora em 2016. Por que a decisão de disputar BH?
Sou nascido em BH. Morei em várias cidades pelo destino, sempre gostei de política. Dado momento, morei em Juiz de Fora, disputei as eleições para vereador e venci lá, fiz bom mandato e fui bem votado. Achava que isso me credenciava a disputar o cargo de prefeito. Coloquei meu nome à disposição, era deputado estadual e fui disputar. Mas não tenho raízes em Juiz de Fora, não tenho colegas de infância, juventude, não tinha raízes. Embora fosse bom vereador, as pessoas queriam alguém mais local, e eu não tinha isso. Também por isso, já como deputado estadual, mudei meu domicílio novamente para BH e compreendi que minhas raízes são aqui. E chegou o momento em que me sinto apto para exercer a boa política, a sã política. Me sinto maduro para exercer o papel de prefeito de BH.
Como o senhor avalia a forma de agir de Bolsonaro no que diz respeito ao conhecimento em geral?
Não o vi criticar a ciência em si. Já a vacina, o que vi algumas vezes é que como o Butantan faz parceria com a empresa chinesa é que não queria que fossem cobaias de uma pesquisa chinesa. Agora, temos que desenvolver a vacina rapidamente, o Butantan é excelente. Temos que rapidamente conseguir a vacina chinesa. A vacina, funcionando, tem que ter campanhas. Não tenho procuração do presidente, só acho que ele se manifestou pois não queria que brasileiros fossem cobaias de uma vacina chinesa. Nem dos ingleses.
E sua opinião sobre a vacinação?
Sou aberto. Insisto, temos que investir na busca. Não me incomodo de onde venha, mas tem que buscar logo. Funcionando comprovadamente tem que colocar em massa, assim como já se fez no Brasil. Não tenho restrições, tem que ter a vacina funcionando o mais rapidamente.
Se fosse prefeito, como o senhor agiria em relação aos cuidados devido à pandemia?
A pandemia existe, e os cuidados devem ser tomados. A transmissão se parece à da gripe. Tem que manter distanciamento, se tiver mais próximo use a máscara. Trazendo para BH, o STF definiu que era dos municípios, então o presidente pouco pôde fazer. Era algo mais municipal, a administração compete às cidades. Em BH, critico a falta de coerência. Quando começou, no início do ano, era nova, ninguém sabia como era o vírus, o ímpeto foi fechar e todos compreenderam. O que critico é a falta de coerência nas decisões. O prefeito vai para a TV e fala que vai comprar sete mil respiradores, depois falou que não ia comprar coisa nenhuma. Depois hospital de campanha no Mineirão, nada também, ou no Hilton Rocha, depois não fez. Faltou planejamento nas decisões. Depois, achou que podia abrir e abriu o Shopping Oiapoque, que é apertado. Nesse mesmo ato, ele não abriu os demais, que são mais amplos. Foi isso que critiquei. Fechar ou não era algo novo. Para mim faltou também diálogo.
Como será a relação do senhor com o governador, caso eleito?
Tenho ótima relação com o governador Zema, com todo o governo estadual e igualmente com o federal. BH se fechou, existe uma animosidade do prefeito com o governador, as secretarias não conversam, e a população é quem perde com isso. O prefeito é de todos os belo-horizontinos, deveria governar para todos.
O senhor também se coloca como o candidato cruzeirense da corrida eleitoral. Como surgiu isso?
Eu sou cruzeirense, sou sócio do Cruzeiro, tenho minha relação com o clube. Claro, é uma estratégia para me aproximar do eleitor, já que há uma figura muito ligada ao Atlético. Faltava alguém que se colocasse como cruzeirense, e busquei isso. A aceitação tem sido boa, até com reuniões de membros de torcidas organizadas para expor o plano de governo.
PERFIL
- Lafayette Luiz Doorgal de Andrada
- Idade: 54 anos
- Naturalidade: Belo Horizonte
- Estado civil: casado
- Filhos: três
- Formação: direito
- Carreira: professor e advogado
- Experiência política: vereador de Lavras entre 1993 e 1997, vereador de Juiz de Fora entre 2001 e 2005, deputado estadual entre 2007 e 2018, candidato a prefeito de Juiz de Fora em 2016 e deputado federal desde 2019