Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2020

A BH onde eles querem ficar: o que esperam os 'eleitores adotivos' da capital


“É aqui que eu amo, é aqui que eu quero ficar, pois não há lugar melhor que BH.” Os versos da dupla César Menotti & Fabiano estão longe de ser uma unanimidade entre os imigrantes que vivem em Belo Horizonte. Ouvidos pelo Estado de Minas na véspera da eleição de hoje, em que votarão para prefeito e vereador, moradores da capital oriundos de outros domicílios eleitorais descrevem os mais variados vínculos com BH. Uns ainda a amam radicalmente, apesar dos muitos anos de convivência. Outros confessam que o relacionamento está desgastado e cogitam buscar outras paisagens. Há também os “amantes em lua de mel”, que acabaram de descobrir os encantos da metrópole.





Mas, afinal, o que ainda prende os interioranos à capital mineira e o que falta para que ela se torne o idílico lugar descrito na célebre canção sertaneja? Quatro eleitores que escolheram BH como morada responderam à pergunta da reportagem.


‘Desanimado, porém insisto’

O médico Albert Louis Rocha Bicalho, de 37 anos, é de Matipó, na Zona da Mata mineira. Ele diz que chegou à capital em 2006, atrás da realização de sonhos, como a especialização em neurologia, estabelecimento de consultório próprio e projeção profissional. O título de eleitor foi transferido há 14 anos. “Logo que passei a viver aqui, entendi que minha vida política estava aqui. Desde o início, achei que era importante fazer parte do eleitorado”, afirma.

Ele conta que, além da grande oferta de oportunidades, BH o atraiu pela diversidade cultural. “Isso, até hoje, é uma coisa que me agrada na cidade. O multiculturalismo, a possibilidade de conviver com pessoas de várias tribos, vários credos, vários costumes. No interior, não temos isso. Costuma ter duas igrejas – uma católica e outra protestante –, um barzinho e um restaurante”, brinca.





Mais de uma década após a mudança, a relação do profissional de saúde com a capital parece um tanto desgastada. Belo Horizonte certamente cumpriu as promessas que fez ao matipoense, que diz ser bem-sucedido na carreira. O que ele não calculava é que isso teria um custo pessoal que ele julga alto. “A qualidade de vida aqui, para mim, está deixando a desejar. Atuo em três hospitais e atendo no consultório. Por semana, isso equivale a mais ou menos 60 horas de trabalho. Essa dinâmica e o trânsito me privam de uma série de coisas que gostaria de incorporar ao meu cotidiano, como almoçar em casa, me deslocar a pé”, pondera o médico.

Albert diz que já teve vontade de voltar a morar no interior, mas não o fez por causa da esposa, a quem a ideia não agrada. “As cidades interioranas, hoje, estão mais estruturadas e permitem maior liberdade. As pessoas conseguem manter um bom padrão de vida trabalhando menos, vivem de maneira mais saudável”, argumenta.

O neurologista diz que escolheu seus candidatos para a eleição deste domingo pensando em três principais demandas: mobilidade urbana, economia e segurança. “Apesar de um pouco desanimado com a cidade e, principalmente com a política, insisto. Espero que minhas escolhas contribuam para melhorar BH.”





“Falta educação”

Moradora de Belo Horizonte desde 2008, a pedagoga Cristiane Freitas Bicalho, de 36 anos, é esposa do médico Albert. Natural de Rio Casca, na Zona da Mata mineira, ela corrobora os versos da música de César Menotti & Fabiano e não abre mão de BH.

O apreço pela cidade, no entanto, veio com o tempo. “Logo de cara, não gostei nada de BH. Uma vez, vim aqui encontrar uma amiga na Faculdade de Engenharia da UFMG, que ainda funcionava na Avenida do Contorno. Fiquei com muito medo de circular por ali”, relembra.

Ela relata que só mudou sua percepção depois que se mudou para a capital e passou a morar na Região da Pampulha. “Vim para cá fazer mestrado. A Pampulha, mais tranquila, fez com que eu fosse me adaptando. Até que acabei conquistada por BH.”  

Entre os fatores que motivam sua permanência na metrópole, ela cita a efervescência cultural, as oportunidades profissionais e as possibilidades de entretenimento. “Sair da monotonia do interior é algo que me motiva a ficar por aqui”, ressalta.





A pedagoga, porém, critica aspectos como as condições do transporte público e, principalmente, a educação. “Dentro da educação, uma das pautas seria esta: um olhar para o ensino fundamental e a educação integral”, aponta.

“Éramos mais livres”
Há 20 anos em BH, Iuri Lara continua fascinado pelos parques da cidade e fã de seus eventos. Na lista de pedidos, mais segurança

Faz 20 anos que o araxaense Iuri Lara, de 49 anos, chegou a Belo Horizonte. Ainda hoje, ele se diz fascinado pelos parques da capital mineira. “Gosto muito das áreas verdes. Os parques como o Ecológico, Mangabeiras e o municipal (Américo Renné Giannetti) são áreas muito agradáveis, de diversão gratuita. A parte cultural aqui também é fantástica. Temos carnaval, Virada Cultural, campanhas de popularização do teatro. Tudo isso me atrai muito aqui”, avalia.

Após as eleições, o engenheiro civil diz que pretende cobrar dos candidatos que escolheu ações voltadas para o problema que mais o incomoda: a insegurança. “Belo Horizonte está muito insegura, principalmente nos bairros. Há 20 anos, quando cheguei aqui, sinto que éramos mais livres. Podíamos ficar na rua até mais tarde e voltar para casa com segurança. Essa tranquilidade foi perdida ao longo do tempo”, analisa.





A transferência do título de eleitor de Araxá para a capital foi feita logo que Iuri chegou aqui. “Criei raízes por aqui e estou animado com a votação. É a oportunidade que temos de mudar as coisas".

“Aqui, vou viver o resto da minha vida”
O radialista Kaiser Alves criou raízes na metrópole, que considera "aconchegante". Para ele, transporte público é ponto negativo

Nascido em Araxá, no Alto Paranaíba, o radialista Kaiser Henrique Alves, de 51 anos, mora em BH há cerca de três décadas. “O que mais me prende aqui são as raízes que criei, a presença da minha família, além dos amigos que fiz. Já morei em outros lugares do Brasil e não pretendo me mudar mais. Vou passar o resto da minha vida em BH”, relata o comunicador.

Na visão do eleitor, o principal qualidade da capital é a hospitalidade da população. “A gente vive em um mundo em que as pessoas, no geral, não se cumprimentam mais. Mas BH é diferente, mais aconchegante. Tem aquela pitada de ‘roça’, faz as pessoas se sentirem acolhidas”, elogia.





A cidade, no entanto, parece ter decepcionado o araxaense em alguns pontos. Ele cita o aumento da criminalidade, crescimento desordenado e os alagamentos na época das chuvas como os problemas que mais o incomodam. Kaiser também afirma estar insatisfeito com os efeitos da pandemia e soluções para o problema. “A dinâmica do comércio e do transporte público nos últimos meses deixou muito a desejar”, opina o araxaense.

Acompanhe ao vivo a apuração das urnas neste domingo (15), a partir das 17h, pelo uai.com.br e em.com.br.

Primeiro turno de votação nas eleições 2020 será em 15 novembro. Confira nosso guia

Eleições 2020: como votar, datas e horários

O primeiro turno das eleições 2020 será em 15 de novembro e, caso seja necessário no seu município, o segundo turno será realizado em 29 de novembro de 2020. Nestas eleições, o horário de votação é das 7h às 17h. O horário entre 7h e 10h é preferencial para maiores de 60 anos.

Com as novas medidas diante da pandemia do coronavírus, preparamos um guia com tudo que você precisa saber para votar nas eleições 2020.





O que muda nas eleições 2020?

Muitas mudanças foram feitas pela Justiça Eleitoral para os candidatos a prefeito e vereador durante o período eleitoral de 2020. Além disso, os eleitores também terão de se adaptar às novas normas para os dias de votação, como a abertura antecipada das seções eleitorais e as regras de higiene que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  


Como justificar o voto nas eleições 2020?

Os eleitores poderão optar por justificar o voto de três formas: 
  • No dia das eleições: o eleitor que estiver fora de sua cidade pode justificar a ausência em qualquer local de votação, das 7h às 17h. O eleitor deverá ter o número do título, um documento oficial de identificação e o formulário de justificativa preenchido.

  • Depois das eleições: preenchendo o formulário de justificativa em qualquer cartório eleitoral ou posto de atendimento ao eleitor em até 60 dias após a votação.

  • A justificativa também poderá ser feita pelo celular no aplicativo e-Título.

Eleições 2020 em Belo Horizonte

Na capital mineira, 15 candidatos disputam as eleições para prefeito. Conheça quem são os candidatos e o perfil de cada na corrida rumo à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Já para vereador, Belo Horizonte conta com mais de 1,5 mil candidatos. Alguns apostaram em apelidos e codinomes bem inusitados para conseguir votos.







Para acompanhar a cobertura completa das eleições em BH, acesse nosso especial

Para saber mais sobre as Eleições 2020 em Minas Gerais, leia também a cobertura completa das eleições na Grande BH e nas regiões Centro-OesteLesteNorteSul de MinasTriângulo Mineiro e Zona da Mata.


audima