Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2020

Mulheres devem conquistar mais mandatos este ano, dizem analistas


O direito ao voto para as mulheres no mundo só foi adquirido com muita luta, e hoje se vê uma mulher negra eleita vice-presidente dos Estados Unidos: Kamala Harris. No Brasil, anos de esforços culminam hoje em uma eleição com a maior proporção de mulheres nas urnas – ainda que seja de 33,4%, ultrapassando por pouco o exigido de 30% da cota determinada pela Lei das Eleições, de 1997, é o maior número da história. Analistas políticos avaliam que, além do aumento de nomes nas urnas, neste ano haverá, efetivamente, mais mulheres eleitas, em especial nas capitais.





Muitas campanhas no país tentam incentivar o voto em mulheres, que representam 52,5% do eleitorado. Um dos trabalhos que ajudam na eleição de mulheres é o projeto A Tenda das Candidatas, do qual integra a pesquisadora Hannah Maruci, do Grupo de Estudos de Gênero e Política (Gepô) da Universidade de São Paulo (USP). O projeto dá 'aulões' de formação política para mulheres, e neste ano acompanha o processo de 10 candidatas no país, dando toda a assistência necessária de forma voluntária.

Mestre em ciência política pela USP, Hannah ressalta que o aumento da proporção de candidatas ao longo dos anos é devagar, e que o crescimento neste ano representa uma conquista – conquista essa que, segundo ela, deve se estender ao resultado das urnas. Para ela, isso será reflexo de mais iniciativas que buscam fortalecer a candidatura de mulheres, além de uma maior consciência no país, com mais cidadãs cientes dos seus direitos.

“Acho que teremos um aumento, mas acredito que não será muito grande. Tenho acompanhado essas candidaturas e vejo que os partidos continuam negligenciando depois que as mulheres entram na chapa”, explica. De acordo com ela, em termos de financiamento, ainda que haja uma quantidade mínima exigida a ser aplicada (30% dos fundos eleitoral e partidário, decisão aplicada desde 2018), as legendas demoram a fazer o repasse às mulheres, e em uma campanha tão curta isso é muito definitivo. “Os partidos continuam deixando as mulheres à deriva. Eles não acreditam nas candidaturas, tratam como se fosse ‘café com leite’. Aí ficam enrolando (para fazer os repasses)”, diz.





A expectativa é, principalmente, por um melhor desempenho nas capitais. Em 2016, apenas uma mulher teve sucesso nas urnas nas grandes cidades: Teresa Surita (MDB), em Boa Vista. Já neste ano, há dois nomes em primeiro lugar nas pesquisas – Manuela d’Ávila, do PCdoB, em Porto Alegre, e a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, do PSDB. Professora de direito constitucional da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luciana Ramos ressalta que os municípios têm perfis muito distintos, mas que os movimentos nas capitais são diferentes. “Há uma possibilidade maior de aumento, porque elas (capitais) estão no centro desse debate (de maior representatividade)”, diz. No interior, conforme ela, o conservadorismo é um pouco mais forte.

Exemplo de que o discurso conservador tem reduzido nas capitais é o fato de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não estar tendo sucesso com os seus candidatos. Em São Paulo, por exemplo, não conseguiu alavancar Celso Russomanno (Republicanos). No Rio, de nada adiantou para o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que tem alta rejeição. Para Luciana, a eleição de 2020 é um bom teste “para ver o quanto a sociedade brasileira está sensibilizada com as pautas identitárias”.

Professora e coordenadora do programa Diversidade da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, Lígia Fabris pontua que, pelas projeções, a expectativa é de um sucesso maior das mulheres nas urnas nas capitais. Ainda que acredite que neste ano o país verá mais mulheres eleitas, Lígia explica que é importante ter em mente que a desigualdade continua. 





Para ela, um melhor resultado do que o que foi visto em 2016 é reflexo de uma maior mobilização da sociedade, com pressão sobre os partidos. Conforme Lígia, um dos fatores mais determinantes para o aumento que deve ser visto neste ano é a exigência de repasse dos fundos eleitoral e partidário para candidaturas de mulheres. Em 2016, quando não havia tal exigência, o cenário foi de apenas 13,5% de mulheres eleitas vereadoras e 641 (ou 11,57% do total) eleitas prefeitas. A candidatura feminina naquele ano representava 31,3% do total.

REGIONALIZAÇÃO

Professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mayra Goulart acredita em uma representação mais progressista nos estados do nordeste, com mais mulheres comprometidas com a causa feminista na região e no norte.  “Acho interessante a gente ver essa eleição como um primeiro passo rumo a uma mudança na conjuntura política, com enfraquecimento do conservadorismo”, diz.

A professora diz que há uma evolução gradual na representatividade. Para ela, é sempre importante eleger mais mulheres, ainda que seja uma pessoa que não combata o conservadorismo, e não tenha a luta feminista como pauta. “É importante a presença da mulher nos espaços, mesmo que eu não concorde com ela. A presença do corpo feminino em espaços historicamente ocupados por homens já é um avanço”, frisa.





EFEITO KAMALA

A vitória de Kamala Harris, primeira mulher negra eleita vice-presidente dos EUA, pode reverberar no Brasil, ainda que tenha acontecido tão perto do pleito do país que elegeu em 1934 a primeira mulher negra para deputada estadual: Antonieta Barros, eleita em Santa Catarina. Um ano antes, a advogada Almerinda Farias Gama, mulher negra que lutou pelo direito ao voto feminino no Brasil, foi a única a votar como delegada na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte. A pesquisadora Hannah Maruci, do Grupo de Estudos de Gênero e Política (Gepô) da USP, diz que o resultado político nos EUA acaba tendo um efeito no Brasil. “Penso que possa influenciar sim. Existe uma repercussão o fato de os EUA elegerem uma vice mulher”, pontua.

Acompanhe ao vivo a apuração das urnas neste domingo (15), a partir das 17h, pelo uai.com.br e em.com.br.

Primeiro turno de votação nas eleições 2020 será em 15 novembro. Confira nosso guia

Eleições 2020: como votar, datas e horários

O primeiro turno das eleições 2020 será em 15 de novembro e, caso seja necessário no seu município, o segundo turno será realizado em 29 de novembro de 2020. Nestas eleições, o horário de votação é das 7h às 17h. O horário entre 7h e 10h é preferencial para maiores de 60 anos.

Com as novas medidas diante da pandemia do coronavírus, preparamos um guia com tudo que você precisa saber para votar nas eleições 2020.





O que muda nas eleições 2020?

Muitas mudanças foram feitas pela Justiça Eleitoral para os candidatos a prefeito e vereador durante o período eleitoral de 2020. Além disso, os eleitores também terão de se adaptar às novas normas para os dias de votação, como a abertura antecipada das seções eleitorais e as regras de higiene que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  


Como justificar o voto nas eleições 2020?

Os eleitores poderão optar por justificar o voto de três formas: 
  • No dia das eleições: o eleitor que estiver fora de sua cidade pode justificar a ausência em qualquer local de votação, das 7h às 17h. O eleitor deverá ter o número do título, um documento oficial de identificação e o formulário de justificativa preenchido.

  • Depois das eleições: preenchendo o formulário de justificativa em qualquer cartório eleitoral ou posto de atendimento ao eleitor em até 60 dias após a votação.

  • A justificativa também poderá ser feita pelo celular no aplicativo e-Título.

Eleições 2020 em Belo Horizonte

Na capital mineira, 15 candidatos disputam as eleições para prefeito. Conheça quem são os candidatos e o perfil de cada na corrida rumo à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Já para vereador, Belo Horizonte conta com mais de 1,5 mil candidatos. Alguns apostaram em apelidos e codinomes bem inusitados para conseguir votos.







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