De perfil técnico e intensa vivência política nos bastidores de governos, o economista Fuad Noman, que comandou até 30 de maio a Secretaria Municipal de Finanças no governo Alexandre Kalil, já passou por diferentes funções no governo federal de Fernando Henrique Cardoso – entre elas, foi secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República. Em Minas, foi secretário de estado da Fazenda (2003-2007), no primeiro mandato de Aécio Neves. Depois foi secretário de Transportes e Obras Públicas (2007-2010).
Classificado por Kalil como o seu “baluarte” na Prefeitura de Belo Horizonte, Fuad Noman recebeu o convite para compor a chapa eleita não apenas em decorrência de seu esforço fiscal nos três primeiros anos de governo, quando conseguiu elevar as receitas da capital mineira de R$ 9,717 bilhões em 2017 para R$ 11,625 bilhões em 2019 – aumento nominal de 19,6% no período, acima da correção do IGP-M de 16,45%. Mas também por sua habilidade política, por sua lealdade e sobretudo discrição, atributos que convivem bem com personalidades como a de Kalil.
Não à toa Fuad Noman assumiu a presidência municipal do PSD, cargo que centralizou todas as negociações e tratativas em torno das eleições, inclusive a formação da chapa de candidatos a vereador da legenda. E não foram conversas fáceis, já que o PSD na Câmara Municipal, que em 2016 conquistou apenas duas cadeiras, foi inflado ao longo do mandato de Kalil alcançado a impressionante bancada de 13 vereadores. Em que pese tantos caciques facilitam na formação de uma larga base de apoio a Kalil em seu segundo mandato, sob a perspectiva individual da reeleição de cada vereador, a linha de corte dentro do partido se eleva, tornando o desafio da reeleição uma maratona mais concorrida.
No comando do PSD durante a campanha, entre embates e negociações, Fuad Noman garantiu que as orientações de Kalil fossem seguidas à risca, sem que para isso o prefeito precisasse se expor. Homem sem vaidade pelos holofotes, tal é o perfil de Fuad que garante a Kalil que não terá um futuro concorrente a se tornar adversário político em sua antessala, o que em política é fato corriqueiro. Basta lembrar das disputas entre o então governador de Minas Itamar Franco e de seu vice, Newton Cardoso e, bem mais recente, o primeiro mandato das facas longas entre o ex-prefeito Marcio Lacerda e o seu então vice, Roberto Carvalho.
Desta preocupação, Kalil aposta, não perderá o sono. O prefeito reeleito acredita que o aliado e confidente, que além de torcedor do Clube Atlético Mineiro, também tem ascendência síria — a família de Fuad é originária da cidade de Homs — seguirá um vice leal. De tal forma que se Kalil vier a se desincompatibilizar em dois anos para concorrer ao governo de Minas, deixará em seu lugar um prefeito que não descaracterizará a sua marca e gestão e também o respaldará em seus novos voos políticos.
Literatura
Apesar do perfil técnico, Fuad tem experiência e muita vivência política. E é este olhar para a “política como ela é” – principalmente pelos rincões de Minas, em que até muito recentemente, ainda imprimiam peso à lógica eleitoral elementos fundantes do coronelismo – que está marcado em suas duas estreias na literatura. Em O Amargo e o Doce, o vice-prefeito reconstrói o contexto político e cultural de meados do século passado, em que transitam as personagens ficcionais, abordando, no campo dos costumes, temas sensíveis, que frequentam alcovas mentais de pensamento profundamente conservador, tais como a violência praticada contra a mulher pelo patriarcado mineiro que, por conveniência, ainda nos anos 50 e, quiçá, seguintes, definia sem possibilidade de contestação como as filhas seriam educadas, com quem se casariam e como deveriam se portar pela vida.
O mesmo em relação à orientação sexual de homens e mulheres, numa sociedade em que a tradicional família mineira encobria o homossexualismo sob o manto sagrado de arranjos forçados em casamentos heterossexuais. Nessa obra, o patriarca estupra a nora para “resolver” a recusa do filho gay em procriar.
Ao mesmo tempo, é pela literatura que Fuad navega numa temática íntima que lhe é cara: a busca das personagens por suas raízes e identidades culturais, perdidas pelas circunstâncias da vida. Talvez tenha sido esta a forma que esse economista escritor, nascido em Belo Horizonte, tenha tentado elaborar a própria procura por seus próprios vínculos perdidos, quando os avós, perseguidos pelo Império Turco-Otomano, deixaram a Síria e desembarcaram no Brasil no início do século 20. Carregavam o peso de um passaporte que lhes negava a verdadeira origem: foi um tempo em que sírios, libaneses, todos eram pejorativamente chamados de “turcos”.
Eis pois, que dois “turcos” chegam enfim juntos ao comando da capital mineira, quase três décadas depois, que o descendente de libanês, Patrus Ananias, comandou a capital.
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