Há dois anos, Jair Bolsonaro (sem partido) era eleito presidente e findava uma sequência de quatro vitórias do PT no Brasil. Com ele, carregava uma série de candidaturas vitoriosas da direita nos âmbitos estadual e federal. Em 2020, as bandeiras defendidas pelo chefe do Executivo nacional seguiram fortemente representativas nas urnas, mas sofreram derrotas retumbantes em algumas das cidades mais populosas do país no pleito realizado ontem. O revés mais significativo foi registrado em São Paulo, com a ausência de Celso Russomano (Republicanos) no segundo turno. Por outro lado, surpreendeu em Belo Horizonte ao impulsionar Bruno Engler (PRTB) até o segundo lugar.
Ao longo dos meses que antecederam a eleição, Bolsonaro se negou a apoiar candidatos pelo Brasil. No sábado, porém, utilizou uma rede social - em que é seguido por quase 14 milhões de perfis - para publicar uma lista com pleiteantes a sete prefeituras. Desses, dois chegaram ao segundo turno; os outros quatro foram derrotados nesse fim de semana. Em Santos, a apuração dos votos ainda não havia se encerrado até a última atualização desta reportagem, mas o bolsonarista Ivan Sartori (PSD) se encaminha para o revés. No domingo, já em meio ao período de votação, o presidente resolveu apagar a publicação em que pedia votos dos simpatizantes.
Em São Paulo - maior colégio eleitoral brasileiro, com 8,9 milhões de eleitores -, Bolsonaro sofreu a principal derrota. Candidato do presidente, Celso Russomano chegou a liderar as pesquisas no início da campanha, mas perdeu força e acabou fora do segundo turno. Com pouco mais de 10% dos votos válidos, o jornalista ficou apenas na quarta colocação e viu Guilherme Boulos (PSOL) se credenciar para a disputa com o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) no próximo dia 29.
Bolsonaro também não conseguiu emplacar vitória em Belo Horizonte, terceira cidade brasileira com mais eleitores (1,9 milhões). Porém, o deputado estadual Bruno Engler surpreendeu ao superar as estimativas das pesquisas e somar quase 10% dos votos válidos, mas perdeu a disputa que reelegeu Alexandre Kalil (PSD), com mais de 60%. Na capital mineira, um outro candidato se associou extraoficialmente à imagem do presidente: o deputado federal Lafayette Andrada (Republicanos), que conseguiu a preferência de menos de 1% dos eleitores.
Durante o período eleitoral, o discurso bolsonarista ecoou mais fortemente também no Nordeste, reduto petista nas eleições de 2018. O presidente pediu votos a candidatos em duas das três cidades com mais eleitores da região: Fortaleza e Recife. Na capital pernambucana, viu a Delegada Patrícia (Podemos) ficar fora do segundo turno, que oporá João Campos (PSD) e Marília Arraes (PT). Na cearense, apoiou o Capitão Wagner (Pros), que se mantém na disputa com José Sarto (PDT).
Em Salvador, maior colégio eleitoral nordestino, Bolsonaro não apoiou abertamente nenhum candidato. No período de campanha, Cezar Leite (PRTB) associou a própria imagem ao presidente, mas não obteve aceno positivo do chefe do Executivo nacional. Somou menos de 5% dos votos válidos e foi derrotado, ainda em primeiro turno, por Bruno Reis (DEM), atual vice-prefeito.
Também houve, sem sucesso, a tentativa de impulsionar uma campanha no Norte do país. Em Manaus - a maior capital da região -, o candidato oficial de Bolsonaro, Coronel Alfredo Menezes (Patriota), teve pouco mais de 10% dos votos e foi derrotado. Porém, numa disputa que pulverizou o bolsonarismo entre quatro concorrentes, ainda há a possibilidade de o presidente eleger um apoiador: Amazonino Mendes (Podemos), adversário de David Almeida (Avante) no segundo turno.
Bolsonarismo no segundo turno
Apesar do fracasso na maioria das disputas em que se posicionou publicamente, Bolsonaro ainda pode triunfar no segundo maior colégio eleitoral do país. No Rio de Janeiro (4,8 milhões de eleitores), Marcelo Crivella (Republicanos) totalizou 21,9% dos votos e se credenciou para a disputa do segundo turno contra Eduardo Paes (DEM), que alcançou cerca de 37%.
Na manhã desse domingo, Bolsonaro votou na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, Zona Oeste da capital fluminense. Em seguida, posou para fotos com alguns apoiadores e deixou o local sem dar entrevista. Além de Crivella para o Executivo, o presidente deve ter escolhido, como vereador, o filho “02”, Carlos Bolsonaro.
Da família, também votam no Rio o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) e o próprio Carlos. Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) vota em São Paulo.
Bolsonaristas sem apoio oficial
Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que mais de 40 candidatos espalhados pelas 26 capitais brasileiras que elegem prefeitos associaram a própria imagem a Jair Bolsonaro. Em Curitiba, por exemplo, Delegado Francischini (PSL) e Marisa Lobo (Avante) se posicionaram como bolsonaristas, embora não tivessem obtido o apoio oficial do presidente. Eles foram derrotados por Rafael Greca (DEM), reeleito no primeiro turno.
Em Porto Alegre, ao menos três postulantes à prefeitura demonstraram publicamente afinidades com o discurso do presidente: Valter Nagelstein (PSD), Gustavo Paim (PP) e Sebastião Melo (MDB) - este último está no segundo turno contra Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata à vice de Fernando Haddad (PT) na eleição presidencial de 2018.