Há dois anos, Jair Bolsonaro (sem partido) foi eleito presidente da República e encerrou uma sequência de quatro vitórias do PT. Com ele, carregava uma série de candidaturas vitoriosas da direita nos estados. Neste ano, as bandeiras defendidas pelo chefe do Executivo nacional seguiram fortemente representativas nas urnas, mas sofreram derrotas retumbantes em capitais nas eleições municipais de ontem. O revés mais significativo foi em São Paulo, que tem o maior colégio eleitoral entre as capitais brasileiras, com a ausência de Celso Russomano (Republicanos) no segundo turno. Por outro lado, surpreendeu em Belo Horizonte. O deputado estadual Bruno Engler (PRTB), mesmo não impedindo a reeleição do prefeito Alexandre Kalil (PSD), ficou em segundo lugar. Durante toda a campanha eleitoral, ele oscilou entre o quinto e o terceiro lugar. Coincidência ou não, há alguns dias apareceu em live ao lado de Bolsonaro. E ontem as urnas confirmaram seu crescimento.
Ao longo dos meses que antecederam a eleição, Bolsonaro se negou a apoiar candidatos pelo Brasil. No sábado, porém, utilizou uma rede social – em que é seguido por quase 14 milhões de perfis – para publicar uma lista com pleiteantes a sete prefeituras. Desses, três chegaram ao segundo turno; os outros quatro foram derrotados ontem. Nesse domingo, já em plena votação, ele resolveu apagar a publicação em que pedia votos dos simpatizantes. Nas últimas duas semanas, ele fez lives com candidatos que apoiou, além de Bruno Engler.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral, com 8,9 milhões de pessoas aptas a votar, Bolsonaro sofreu a principal derrota. Candidato do presidente, Celso Russomano chegou a liderar as pesquisas no início da campanha, mas perdeu força e acabou fora do segundo turno. O jornalista ficou apenas em quarto lugar, sendo ultrapassado por Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (Psol), que disputarão o segundo turno, e Márcio França (PSB). “Parece que não foi um bom negócio para o presidente Jair Bolsonaro se meter na eleição em São Paulo”, afirmou Bruno Covas.
Bolsonaro também não conseguiu emplacar vitória em Belo Horizonte, terceira cidade brasileira com mais eleitores (1,9 milhão). Mas o deputado estadual Bruno Engler superou as estimativas das pesquisas ao somar 9,95% dos votos válidos, mas perdeu a disputa que reelegeu Alexandre Kalil (PSD) no primeiro turno, com 63,36%. Na capital mineira, um outro candidato se associou extraoficialmente à imagem do presidente: o deputado federal Lafayette Andrada (Republicanos), que não passou de 1%.
Durante o período eleitoral, o discurso bolsonarista ecoou mais fortemente também no Nordeste, reduto petista nas eleições de 2018. O presidente pediu votos a candidatos em duas das três cidades com mais eleitores da região: Fortaleza e Recife. Na capital pernambucana, viu a Delegada Patrícia (Podemos) ficar fora do segundo turno, que terá João Campos (PSD) e Marília Arraes (PT). Na cearense, apoiou o Capitão Wagner (Pros), que se mantém na disputa com José Sarto (PDT).
Em Salvador, maior colégio eleitoral nordestino, Bolsonaro não apoiou abertamente nenhum candidato. No período de campanha, Cezar Leite (PRTB) associou a própria imagem ao presidente, mas não obteve aceno positivo do chefe do Executivo nacional. Somou menos de 5% dos votos válidos e foi derrotado, ainda em primeiro turno, por Bruno Reis (DEM), atual vice-prefeito. Também houve, sem sucesso, a tentativa de impulsionar uma campanha no Norte do país. Em Manaus, a maior capital da região, o candidato oficial de Bolsonaro, coronel Alfredo Menezes (Patriota), teve pouco mais de 10% dos votos e foi derrotado. Porém, numa disputa que pulverizou o bolsonarismo entre quatro concorrentes, ainda há a possibilidade de o presidente eleger um apoiador: Amazonino Mendes (Podemos), adversário de David Almeida (Avante) no segundo turno.
CRIVELLA
Apesar do fracasso na maioria das disputas em que se posicionou publicamente, Bolsonaro ainda pode triunfar no segundo maior colégio eleitoral do país. No Rio de Janeiro (4,8 milhões de eleitores), Marcelo Crivella (Republicanos) vai disputar o segundo turno com Eduardo Paes (DEM).
Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que mais de 40 candidatos espalhados pelas 26 capitais brasileiras que elegem prefeitos associaram a própria imagem a Jair Bolsonaro. Em Curitiba, por exemplo, Delegado Francischini (PSL) e Marisa Lobo (Avante) se posicionaram como bolsonaristas, embora não tivessem obtido o apoio oficial do presidente. Eles foram derrotados por Rafael Greca (DEM), reeleito no primeiro turno.
Em Porto Alegre, ao menos três postulantes à prefeitura demonstraram publicamente afinidades com o discurso do presidente: Valter Nagelstein (PSD), Gustavo Paim (PP) e Sebastião Melo (MDB) – este último está no segundo turno contra Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata a vice de Fernando Haddad (PT) na eleição presidencial de 2018.