Jornal Estado de Minas

Duda quebra recorde e é seguida por conservador



Sinais opostos para a nova Câmara de Belo Horizonte. Mais de 30 mil pessoas escolheram ontem Duda Salabert (PDT) para ocupar uma das 41 cadeiras da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) a partir de 2021. Duda é a primeira vereadora trans da história da capital mineira e ainda quebrou o recorde de votos. Até as 23h30, com 99,76% das urnas apuradas em Belo Horizonte, Duda Salabert havia recebido 37.600 votos. O número supera com sobra os 17.420 votos recebidos por Áurea Carolina (Psol), em 2016, até então considerada a candidata mais bem votada da história da capital mineira. Na segunda posição, entretanto, ficou o conservador Nikolas Ferreiras (PRTB), com 29.320 dos votos.





Em entrevista ao Estado de Minas, a recordista em votos Duda disse que sua eleição é uma vitória dos direitos humanos, uma vez que o Brasil é o país que mais mata transexuais. Além disso, de acordo com a futura parlamentar, a capital mineira "deu um recado" à bancada anterior da Câmara. "Belo Horizonte deu uma resposta à CMBH anterior, que havia debates de pouca relevância social, materializados num projeto inconstitucional, e que provoca a histeria, chamado “Escola sem partido”, e que em nada melhora a vida dos belo-horizontinos", afirmou Duda.
 
 
 “Como professora há 20 anos, acredito que 
Belo Horizonte entendeu a necessidade de trazer de 
novo a educação ao protagonismo das políticas públicas”

Duda Salabert (PDT)
 
 
A educação, de acordo com a professora, será uma das prioridades de seu mandato, além da geração de empregos e pautas voltadas ao meio ambiente. "O que as pessoas de BH mostraram na urna é o desejo de trazer um debate mais qualificado do ponto de vista político, para gerar mais empregos, melhorar a questão do meio ambiente, e sobretudo melhorar a educação, já que Belo Horizonte decaiu na educação nos últimos dois anos. Eu, como professora há 20 anos, acredito que Belo Horizonte entendeu a necessidade de trazer de novo a educação ao protagonismo das políticas públicas”, disse.

Duda foi a primeira candidata travesti ao Senado Federal, tendo concorrido em 2018. Naquele ano, ela obteve 351.874 votos (1,99% dos votos válidos) em todo o estado. Na época, a professora era filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol), mas deixou a legenda alegando “transfobia estrutural do partido”.





Foi então que Duda Salabert, após um encontro com Ciro Gomes, decidiu se filiar ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). A ideia inicial da professora era se candidatar à Prefeitura de Belo Horizonte, mas voltou atrás por causa da aliança com a deputada federal Áurea Carolina. O PDT, no entanto, fez parte da coligação de Alexandre Kalil (PSD), reeleito como prefeito, nestas eleições.

Uma das promessas de campanha de Duda foi plantar uma árvore a cada voto recebido. A professora contou que a medida passa por uma criação de um Plano Municipal de Crescimento Verde, que pretende apresentar à CMBH.

“Vamos fazer grandes mutirões para plantar árvore, mas mais do que isso, vamos transformar isso em política pública, criando um Plano Municipal de Crescimento Verde, que aí vai fazer mais que o quíntuplo de árvores que tivemos, com a aprovação desse plano", garantiu.





RELAÇÃO COM 
CONSERVADORES

Duda também falou como pretende lidar com parlamentares conservadores na Câmara, como com Nikolas Ferreira, segundo vereador mais votado da capital, com quase 30 mil votos. A professora disse que apenas pensa no coletivo, que é a população de Belo Horizonte.

“Eu não estou preocupada com questões morais. Estou preocupada em gerar emprego, em melhorar o meio ambiente e melhorar a educação de Belo Horizonte. A moral é coisa da família. Cada família promove a formação moral. A Câmara Municipal tem o objetivo de promover o bem-estar social. Então, não me interessa o que esse rapaz pensa do ponto de vista moral. O que me interessa é o que ele pensa para gerar emprego para a cidade”, concluiu.




“Muralha contra esquerdistas”

Nikolas Ferreira planeja barrar %u201Ctoda e qualquer pauta progressista%u201Dna Casa (foto: arquivo pessoal)


Segundo vereador mais votado de Belo Horizonte, com 29.320 votos, Nikolas Ferreira (PRTB) deu vários recados à população da capital e aos opositores políticos na noite de ontem. Um deles, direcionado à futura vereadora Duda Salabert (Psol), primeira mulher trans eleita em BH. "Eu ainda irei chamá-la de 'ele'. Ele é homem. É isso o que está na certidão dele, independentemente do que ele acha que é", afirmou ao Estado de Minas. "Mas não estou preocupado com a 'opção sexual', nem gênero de ninguém, desde que a pessoa não se paute pela ideologia na Câmara", completou.





Ao Psol e demais partidos de esquerda, Nikolas avisa: "Serei uma muralha contra esquerdistas. Porque a esquerda não erra, ela é naturalmente errada, naturalmente má. Apoia regimes como o da Venezuela, entre outros que promoveram matanças", opina.

Conservador, o jovem de 24 anos diz que planeja barrar "toda e qualquer pauta progressista", guarda-chuva em que ele inclui temas como o aborto e o que chama de "ideologia de gênero". Uma das propostas do parlamentar é, inclusive, voltada ao currículo das escolas da cidade. "A esquerda usa muito a educação para espalhar suas ideologias, principalmente nas comunidades pobres, infelizmente. Eu, que vim da Cabana do Pai Tomaz (bairro periférico da Região Nordeste da Capital), quero ocupar o currículo dos alunos com coisas úteis, como empreendedorismo e educação financeira", explicou.

O vereador também faz duras críticas ao prefeito reeleito, Alexandre Kaill (PSD). Para Nikolas, o chefe do executivo "destruiu a cidade". "Ele deixou mais de cem mil desempregados e quebrou 12 mil negócios. Vou lutar para dar suporte aos comerciantes e criar empregos durante o meu mandato", promete.





“ESPIRAL DO SILÊNCIO”  

Evangélico da denominação Comunidade Graça e Paz, Nikolas Ferreira conta que milita há 7 anos no movimento Direita Minas. Formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), ele diz que, como cristão, se sentiu tolhido na universidade. "O cristão conservador não pode se posicionar nas faculdades. Elas são um ambiente muito hostil para nós. Os professores me rechaçavam, tentavam me calar. Existe uma espiral de silêncio. Isso aconteceu várias vezes", relembra.

O vereador eleito diz que se orgulha de não ter usado dinheiro público em sua campanha. "Recebi R$ 6 mil na vaquinha on-line que eu montei e de R$ 15 mil a R$20 mil na minha conta pessoal, dinheiro doado por pessoas que acreditaram em mim. Joguei limpo", finaliza.
 
 
 


Apenas 17 parlamentares conseguem se reeleger

As eleições municipais de 2020 fizeram uma verdadeira mudança na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Afinal, dos 41 parlamentares da atual legislatura, apenas 17 foram reeleitos. Ou seja, nos próximos quatro anos, a capital mineira terá 24 caras novas. Além disso, seis partidos que estiveram ausentes da Casa tiveram bons desempenhos e ganharam cadeiras (veja quadro).





Entre os candidatos que ficaram de fora destaca-se Arnaldo Godoy, que cumpriu sete mandatos como vereador. Sua atuação era baseada na cultura, meio ambiente, juventude e educação. Seu companheiro de bancada, Pedro Patrus, também não foi reeleito. A dupla do Partido dos Trabalhadores dá lugar às companheiras de legenda Macaé Evaristo e Sônia Lansky.

Outro que não estará na Câmara Municipal no próximo ano é o então vereador Preto. Ele conseguiu 3.587 votos, que não foram suficientes para conduzi-lo ao sétimo mandato consecutivo. O Democratas, seu partido, perdeu uma cadeira na casa. Agora, o único representante da legenda por lá é Álvaro Damião, 5º candidato mais escolhido da capital, com 12.742 votos.

Quem ocupou o topo da lista de votos foi Duda Salabert. A professora, além de ser a primeira trans a ser eleita em Belo Horizonte, bateu recorde ao receber 37.613 votos, o maior número da história no parlamento municipal. Antes, só Áurea Carolina (Psol) havia conseguido o feito, quando em 2016 foi escolhida por 17.420 pessoas.





Duda é do PDT, um dos seis partidos que ganharam espaço na Câmara Municipal a partir de 2021. Além da legenda, o PP, PRTB, PL, PMN e Rede conseguiram emplacar representantes na casa. Por outro lado, PSB e PCdoB, que tinham vereadores no parlamento, acabaram perdendo completamente o espaço.

O Partido Novo foi a legenda que mais ganhou espaço na Câmara de BH. A sigla do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, passou de um representante para três no Legislativo municipal.

Já o partido que mais perdeu representantes foi o PSD. A legenda do prefeito belo-horizontino, Alexandre Kalil passou de 13 para seis nomes a partir de 2021. 

audima