O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), vai nortear sua campanha nos próximos 15 dias antes do segundo turno com o mote "a esperança vai vencer os radicalismos". A frase escolhida é uma resposta à adotada pelo provável adversário, Guilherme Boulos (PSOL): "A esperança vai vencer o ódio". Essa por sua vez é uma corruptela do slogan do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em campanha presidencial: "A esperança vai vencer o medo".
A estratégia começou a ser colocada em prática ontem, quando o candidato chegou ao diretório estadual da sigla e a apuração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já apontava Boulos como seu adversário no 2° turno. O prefeito chegou acompanhado do governador João Doria (PSDB) e foi recebido por uma claque de apoiadores. "A esperança venceu os radicais no 1° turno e vai vencer no 2°", disse já na abertura de sua fala.
Questionado por um repórter se Boulos é radical, o prefeito desconversou. "Isso quem está dizendo é você", respondeu. "Radicalismo é o desrespeito à ordem, à democracia e à união de forças". O tucano disse ainda que foi "um grande erro" do presidente Jair Bolsonaro ter tentado "se intrometer" na campanha em São Paulo. "Ele é um dos grandes perdedores nesse primeiro turno", afirmou.
Com o novo slogan, o comando da campanha do tucano quer evitar a nacionalização da disputa com uma polarização entre esquerda e direita. Para isso, o prefeito seguirá com o discurso de que ele representa o "centro político" e é um candidato moderado. Covas quer fortalecer a ideia de que sua candidatura pode servir de exemplo para a formação de uma frente ampla para a sucessão presidencial em 2022.
Nos próximos dias o tucano vai reforçar a ideia de construir uma "frente ampla" na capital e dar protagonismo para o movimento coordenado pela ex-prefeita Marta Suplicy. Foi pensando nessa estratégia que ele fez um périplo político ontem antes de votar em um colégio no Alto de Pinheiros.
O primeiro compromisso foi um café da manhã com Marta, no apartamento dela, no Jardim Paulistano. Os dois foram juntos até o Colégio Madre Alix, onde a ex-petista votou. A agenda foi acompanhada pelo ex-secretário de Cultura da capital Alê Youssef (Cidadania), um nome com trânsito nos movimentos culturais progressistas. Na saída, Marta disse que considera o movimento um embrião de uma ação conjunta de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para 2022. "É possível no Brasil haver uma conversa de esquerda, direita e centro. Bruno dialoga com progressistas, liberais. Dialoga com a população", disse.
Em seguida, Covas foi para Higienópolis, onde encontrou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Covas, FHC e o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira caminharam até o Colégio Sion. "Acho que tem chance de o Bruno ganhar no 1° turno, mas se for para o 2.° não é grave também. Vamos ganhar de qualquer maneira", disse FHC.
O ex-presidente também disse que Covas representa a renovação no PSDB. "O partido morre quando chega a uma certa idade. Olha o meu caso. Chega uma hora que não tem que aspirar a mais nada e passar o bastão. Agora é a vez do Bruno", afirmou FHC.
Na sequência, o prefeito foi para a casa de Doria, no Jardim Europa. De lá, o prefeito e o governador, que não teve papel de destaque na propaganda eleitoral de Covas, seguiram juntos a pé até o colégio onde Doria vota. O governador disse que a frente ampla não será contra Bolsonaro, mas "em favor do Brasil". O ex-governador afirmou ainda que "obviamente" Marta tem lugar no arranjo partidário.
No fim da manhã, Covas foi votar acompanhado por Doria, aliados e assessores em um colégio no Alto de Pinheiros. Ele preferiu não especular sobre quem seria o candidato que ele enfrentaria no segundo turno. "Quem quer ganhar eleição não escolhe adversário", afirmou sobre a possibilidade de enfrentar Boulos. O tucano também falou sobre os apoios que recebeu. "O apoio dessas três personalidades - Doria, Marta e FHC - mostra a amplitude da frente que nós montamos."
Apuração. Durante a apuração, militantes do PSDB foram convocados para a frente da sede estadual do partido, na Rua Estados Unidos, no Jardim Paulista. Mesmo antes do anúncio oficial do resultado, os tucanos já contavam com Boulos no 2° turno. "Bruno vai reforçar o discurso de conciliação e evitar os extremos", disse Fernando Alfredo, presidente do PSDB paulistano.
O filho de Covas, Thomaz, de 15 anos, também discursou. "Vamos ganhar esta eleição com pé no chão. Se Deus quiser, vamos mostrar ao Boulos que aqui em São Paulo radicalismo não tem vez."
Debate. Em entrevista ao BRPolítico, Alfredo tentou desvincular a eleição municipal na capital paulista do embate nacional entre a sigla e Bolsonaro. "Não nacionalizamos a campanha, nem vamos nacionalizar", disse. "Vamos discutir os problemas da cidade, o que é melhor para a população", afirmou. "A forma que o presidente Bolsonaro se porta, fazendo campanha para vereador no Rio de Janeiro, fazendo campanha para candidatos a prefeito. Ele tem que liderar o País. Não tem que estar preocupado com as eleições para prefeitura", disse o presidente municipal do PSDB.
Alfredo disse ainda que a votação de Covas é um indicativo de que "as coisas começam a voltar ao normal". "A eleição de 2018 não é parâmetro para nenhuma outra eleição. Vão ficar os ensinamentos de uma eleição em que as redes tiveram grande influência, o episódio da facada no presidente, mas que nada daquilo vai poder ser colocado como parâmetro em nenhuma outra eleição", afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
POLÍTICA