No dia seguinte à votação em primeiro turno, o prefeito Bruno Covas (PSDB) e o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, investiram ontem na busca por apoios para o decorrer da campanha. Covas avança sobre parte dos apoiadores de Márcio França (PSB), que foi bem votado em bairros periféricos das zonas norte e leste. Já Boulos tem recebido endosso de petistas, como o Jilmar Tatto (PT), sexto colocado, e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter um papel coadjuvante na campanha.
O entorno de Boulos tenta evitar que o tucano use também o antipetismo para atacar o candidato, por isso o cuidado com a imagem de Lula. O discurso que Covas deu após a divulgação do resultado das eleições, anteontem à noite, deixou claro que sua campanha irá classificar o adversário como "radical".
Interlocutores de Covas conversaram ontem com dirigentes do Solidariedade, que apoiou França, e da Força Sindical, central ligada ao partido. O tucano também articula o apoio da UGT, central sindical próxima ao PSD e que apoiou Andrea Matarazzo no 1° turno - ele terminou em oitavo. A ideia é tentar isolar o candidato do PSOL, Guilherme Boulos.
Em entrevista ao portal UOL ontem, Covas disse que "não há nenhuma mágoa" em relação a França, sinalizando que gostaria de ter seu apoio. Os dirigentes do PSB, PDT, Solidariedade e Avante, legendas que estavam na coligação de França, no entanto, devem se reunir hoje para decidir se vão entrar na campanha de algum dos dois candidatos que restaram.
O Estadão apurou que os interesses das siglas são conflitantes. O PDT vai defender o apoio irrestrito à candidatura de Boulos, já o Solidariedade tende a apoiar a Covas. "Não escondo que sou amigo do Bruno (Covas) e tenho uma preferência por ele", disse o presidente municipal do Solidariedade, Pedro Nepomuceno, que foi subprefeito de Santana até o começo da campanha.
O entorno de Covas deve sondar também o Republicanos, de Celso Russomanno, quarto candidato mais votado anteontem. Até o início da campanha, o partido fazia parte da base de apoio do prefeito. O PSDB ainda não definiu o roteiro do seu primeiro programa de TV , que vai ao ar na sexta-feira. Mas a ideia é reforçar o perfil de "centro".
Discreto
Caso se confirme a expectativa e venha a declarar apoio à candidatura de Boulos, o ex-presidente Lula não deve assumir um papel de destaque. Segundo um dirigente do PSOL, Lula não vai aparecer sozinho na campanha de Boulos. Se o líder petista vier mesmo a declarar apoio, como ele próprio sinalizou anteontem, sua imagem será usada ao lado de outros líderes da esquerda. O próprio Boulos disse que espera formar uma frente "em defesa da justiça social" no segundo turno. Sua campanha trabalha para atrair nomes como os Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Flávio Dino (PCdoB). Lula seria apenas mais um.
Desde o primeiro turno, Boulos tem angariado apoio na classe artística e entre juristas, muitos ex-eleitores do PT. Como o Estadão mostrou, até líderes comunitários que antes preferiam candidatos petistas pediram votos para o líder do MTST.
O PSOL já identificou a estratégia do PSDB de tentar "colar" em Boulos a tarja do antipetismo e se prepara para evitar isso. Uma das táticas é diluir o apoio do PT entre o de outros partidos. Outra é lembrar que o PSOL nasceu em 2004 de uma dissidência do PT descontente com os rumos do próprio governo Lula.
Indagado pelo Estadão no domingo, 15, à noite sobre qual seria a participação do ex-presidente, com quem tem fortes vínculos políticos e pessoais, em sua campanha, Boulos se esquivou. "Esperamos apoio de todos os que queiram construir uma aliança em São Paulo pela justiça social e combate à desigualdade", disse o candidato.
Boulos já recebeu apoios pessoais do candidato derrotado do PT, Jilmar Tatto, e do ex-prefeito Fernando Haddad, ambos do PT. Ontem pela manhã, Lula usou as redes sociais para comemorar a derrota do bolsonarismo nas eleições municipais. Ele parabeniza "companheiros de outros partidos", mas não cita nomes.
"Parabéns aos nossos candidatos e candidatas e a nossa aguerrida militância que percorreu o País em tempos tão desafiadores. E aos nossos companheiros de outros partidos que apresentaram excelentes resultados lutando o bom combate, sem agressões e com respeito ao nosso PT", escreveu o ex-presidente em uma rede social.
No domingo de manhã, Lula disse que a decisão de não desistir da candidatura na reta final para apoiar Boulos foi inteiramente de Tatto. A declaração foi interpretada como um sinal em favor do candidato do PSOL.
Ontem, o diretório nacional do PT se reuniu para fazer um balanço das eleições e apontar os rumos do segundo turno. O partido disputa apenas duas capitais, Recife e Vitória. O diretório municipal de São Paulo também vai se reunir para decidir sobre o apoio formal a Boulos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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