Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, e Humberto Souto, em Montes Claros, no Norte de Minas, mostraram força e foram reeleitos no domingo com grande vantagem. Mas as urnas também apresentaram resultado negativo para muitos prefeitos que não conseguiram novo mandato e para líderes políticos que sentiram o gosto amargo da derrota depois de anos no comando do Executivo municipal, inclusive correligionários deles.
Com exceção de Montes Claros, onde Souto foi reeleito com 85,24% dos votos, em todas as cidades do Norte de Minas com mais de 40 mil habitantes o chefe do Executivo não conseguiu a reeleição.
Com exceção de Montes Claros, onde Souto foi reeleito com 85,24% dos votos, em todas as cidades do Norte de Minas com mais de 40 mil habitantes o chefe do Executivo não conseguiu a reeleição.
Um dos caciques políticos derrotados é o ex-prefeito de Pirapora Warmillon Fonseca Braga, também no Norte do estado. O grupo liderado por Warmillon está no comando da administração municipal de Pirapora desde 2004, quando ele ganhou a prefeitura. Reeleito em 2008, Warmillon enfrentou muitos processos por denúncias de irregularidades nas suas administrações. Mas sempre alegou ser vítima de perseguição de adversários e manteve a supremacia no comando da prefeitura, para qual elegeu um aliado em 2012.
Em 2016, impedido de concorrer por causa dos processos judiciais, conseguiu eleger prefeita a própria mulher, Marcella Braga (PSD). Em abril de 2019, Marcella e o seu vice, Orlando Pereira Lima (DEM), tiveram os mandatos cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) por abuso do poder econômico (uso indevido de meios de comunicação) em 2016. A defesa recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que anulou a decisão do TRE-MG, determinando o retorno imediato de ambos à prefeitura, após dois dias. Neste ano, Marcella Braga foi candidata à reeleição, com o apoio do marido. Ela acabou sendo derrotada pelo vereador Alex César, que recebeu 13.019 votos (44,2%) enquanto a representante do PSD teve 7.683 votos (26,07%).
Para o ex-presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) Ronaldo Mota Dias, dois fatores contribuíram para o fracasso dos prefeitos nas urnas: a falta de repasses de recursos pelo governo Fernando Pimentel (PT), que terminou em dezembro de 2018, e a pandemia do novo coronavírus. “Com a falta de recursos no governo Pimentel, os prefeitos não tiveram como fazer obras, sofrendo grande desgaste. Neste ano veio a pandemia e eles não puderam fazer reuniões, comícios e o contato direto com os eleitores para explicar o que aconteceu”, avalia Mota Dias, ex-prefeito de Coração de Jesus. Um ex-deputado com base eleitoral no Norte de Minas diz que o desgaste dos prefeitos da região ocorre há mais tempo, e as dificuldades para reeleição aumentaram com a COVID-19. “Com a pandemia aumentou o desemprego, e população pobre e desempregada não reelege prefeito”, explica.
JANUÁRIA E JANAÚBA
Um caso que chama a atenção ainda no Norte de Minas é o de Januária (67,8 mil), administrada pelo médico Marcelo Félix (Republicanos), que também foi presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams). Félix tentou se reeleger, mas obteve apenas 15,64% dos votos, sendo derrotado por Maurício Almeida (PP), com 50,48%. Até há alguns anos, Maurício Almeida não era conhecido em Januária, onde vários prefeitos já foram cassados por irregularidades na gestão pública.
Em Janaúba, também no Norte, o prefeito Carlos Isaildon Mendes (PSDB) tentou novo mandato, mas ficou em quinto lugar, com apenas 8,13% dos votos. O eleito foi o ruralista José Aparecido Mendes (PSD), com 31,10%. Outro derrotado foi o ex-prefeito e ex-deputado estadual Dimas Rodrigues (MDB), que ficou em segundo lugar, com 18,26%. Outro município da região onde o prefeito não se reelegeu é São Francisco. Com apenas 5,49% dos votos, Evanilson Aparecido Carneiro (Solidariedade) ficou em terceiro lugar no pleito, que teve como vencedor Paulo Miguel (PSD), com 50,59%.
Ainda no Norte, em Salinas, a “Capital da Cachaça”, o prefeito José Antônio Prates (PSD), o Zé Prates, candidatou-se a um segundo mandato e foi derrotado pelo ex-prefeito Joaquim Neres Xavier Dias, o Kincas da Ciclodias (PDT). O prefeito eleito alcançou 57,86%, enquanto Zé Prates ficou com 42,14%. Uma curiosidade é que Ze Prates ja cumpriu outros mandatos na prefeitura (2005/2012) e foi aliado do deputado estadual Arlen Santiago (PTB). Mas eles romperam a aliança e, neste ano, Santiago apoiou o candidato vencedor Kinkas da Ciclodias em Salinas.
Não foram apenas prefeitos que não se reelegeram no interior de Minas. Candidatos indicados por chefes do Executivo também perderam. É o caso de Paulo Piau (MDB), chefe do Executivo de Uberaba, no Triângulo. Sem poder disputar o terceiro mandato seguido, Piau apoiou a candidatura do deputado estadual Delegado Heli Grilo (PSL), que atingiu apenas 19,09% e ficou fora do segundo turno, que será disputado pela empresária Elisa Araújo (Solidariedade), que obteve 36,25%,e pelo ex-deputado estadual Tony Carlos (PTB), com 24,99%.
Em Curvelo, na Região Central, também no segundo mandato, Maurilio Guimarães (DEM) apoiou o seu vice, Marcos Dupim (DEM), que ficou em terceiro lugar, com 27,94%. O eleito foi Luiz Paulo Glória Guimarães (PP), com 38,80%. A situação se repetiu em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Cumprindo o mandato, o médico Armando Paixão (PT) apoiou Maria do Carmo Ferreira (PT), que já foi prefeita duas vezes da cidade. Mas ela perdeu para o empresário Tadeu Barbosa de Oliveira (PSD), o Tadeu do Posto, que obteve 57,19%, antes 32,29% da petista.