Primeira mulher negra a ocupar a Secretaria de Estado de Educação, Macaé Evaristo (PT) tem larga trajetória na rede pública de ensino. Professora desde os anos 1980, ex-chefe da pasta em Belo Horizonte e com passagem pelo Ministério da Educação, recebeu 5.985 votos e foi eleita vereadora da capital mineira.
A futura parlamentar quer ampliar o número de instituições que ofertam aulas em tempo integral. “Penso a educação como política estratégica, que precisa se articular à assistência social, à cultura e ao esporte. Para fazer educação integrada, é preciso mobilizar toda a cidade e seus diferentes espaços”, diz Macaé, primeira participante da série de entrevistas do Estado de Minas com os 41 integrantes da nova composição da Câmara Municipal.
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Ela crê que a bancada petista vai se portar como “oposição propositiva” ao prefeito Alexandre Kalil (PSD). Ao lado da correligionária Sônia Lanksy, da também professora Duda Salabert (PDT) e das pessolistas Bella Gonçalves e Iza Lourença, formará uma bancada progressista majoritariamente feminina.
Contente com o salto no número de vereadoras — as quatro cadeiras atuais converteram-se em 11 —, projeta construções coletivas com as colegas de campo político. Ela quer fazer valer, ainda, a representatividade racial que carrega consigo. “Mulheres negras são sub-representadas nos espaços de poder, nas empresas e nos locais de maior salário. Esse trabalho tem que começar no nosso bairro, no nosso município”.
Ela crê que a bancada petista vai se portar como “oposição propositiva” ao prefeito Alexandre Kalil (PSD). Ao lado da correligionária Sônia Lanksy, da também professora Duda Salabert (PDT) e das pessolistas Bella Gonçalves e Iza Lourença, formará uma bancada progressista majoritariamente feminina.
Contente com o salto no número de vereadoras — as quatro cadeiras atuais converteram-se em 11 —, projeta construções coletivas com as colegas de campo político. Ela quer fazer valer, ainda, a representatividade racial que carrega consigo. “Mulheres negras são sub-representadas nos espaços de poder, nas empresas e nos locais de maior salário. Esse trabalho tem que começar no nosso bairro, no nosso município”.
O EM questionou Macaé sobre a denúncia apresentada pelo Ministério Público em virtude de possível superfaturamento na compra de móveis escolares durante o governo de Fernando Pimentel. A entidade diz que o prejuízo a Minas Gerais é de, aproximadamente, R$ 1,8 milhão. “Tenho certeza que tudo será muito bem esclarecido. Minha vida é muito transparente.”
Qual será a principal bandeira de seu mandato?
Tem a ver com minha trajetória: a educação. Estamos vivendo momentos difíceis na educação. Já vínhamos enfrentando isso em função de vários cortes no orçamento do governo federal, mas a pandemia acentuou muito. Estamos há um ano sem escolas. É mais que necessário construir alternativas para garantir o acesso das crianças e jovens à educação. A primeira questão é o diálogo com os profissionais, as famílias e a cidade. A educação é uma agenda que interessa a todos. Para além disso, a gente precisa pensar em iniciativas, e em como o Legislativo pode contribuir para elas. Alternativas para induzir políticas que garantam acesso à internet a crianças e jovens, mas, também, sobre o que precisamos fazer com os prédios escolares, se os desenhos atuais são adequados ou se precisarão passar por transformações. Se precisaremos utilizar outros espaços na cidade para garantir o acesso, pois não vamos poder ter o mesmo número de alunos por sala. A maioria das crianças da rede pública de ensino, em 2020, foi penalizada. Ficaram excluídas do direito à educação.
O que pretende transportar, de seu período à frente da Educação estadual, para a Câmara?
Quando fui secretária de Educação em BH, no Ministério da Educação e no governo do estado, pude implementar políticas para ampliar o acesso de crianças e jovens à educação integral. Essa, talvez, seja a grande demanda que captei das famílias no processo eleitoral. A pauta da educação se articula com a garantia de autonomia econômica das mulheres e famílias e da emancipação do povo negro. A pandemia submeteu milhares de famílias à extrema pobreza. Isso se verifica em nossa cidade: a desigualdade está latente, há muitas famílias morando nas ruas. Penso a educação como política estratégica, que precisa se articular à assistência social, à cultura e ao esporte. Para fazer educação integrada, é preciso mobilizar toda a cidade e seus diferentes espaços. O papel da Câmara é apontar legislações, mas também acompanhar o Executivo na implementação dessas agendas. Muitas mulheres falaram que precisam de creches e escolas o dia inteiro. Assim, podem trabalhar. É uma política para garantir, a muitas famílias, uma inserção mais efetiva no mundo do trabalho.
A senhora, a princípio, se coloca como base ou oposição ao governo?
O PT teve candidatura própria (à prefeitura). Então, não nos colocamos absolutamente como base do governo Kalil. Mas espero que a gente consiga fazer um diálogo. Uma oposição propositiva seria o melhor caminho. Essa legislatura é muito determinante: talvez a gente vá viver os quatro anos mais importantes para este século em tomadas de decisão. Enfrentamos um desafio muito inusitado: a pandemia. Não temos resposta pronta. E, desde 2016, já vínhamos com uma exacerbação de políticas para a desconstrução do Plano Nacional de Educação (PNE) e o esvaziamento total do Sistema Único da Assistência Social (SUAS). A pandemia mostrou como é importante termos políticas sociais fortalecidas para garantir a vida da população.
A Câmara passou de 4 para 11 mulheres. Como avalia esse salto?
Queria que tivesse pulado para 50% (da composição total), mas já foi maravilhoso. Participo de uma articulação nacional de mulheres, onde temos trabalhado e defendido mais participação de mulheres, colocando os nomes nos processos (eleitorais), induzindo legislações e jurisprudências que garantam tratamento adequado dentro dos partidos. Sabemos que a desigualdade é presente. Neste ano, avançamos muito sobre paridade no financiamento das campanhas. Precisamos avançar mais. Mulheres negras, no Brasil têm, infelizmente, os piores indicadores em termos de políticas públicas. Estamos nos trabalhos informais, terceirizados ou precarizados. Somos a maioria das empregadas domésticas — e foi um drama aprovar direitos que valiam para todos, mas não para as empregadas. Mulheres negras são sub-representadas nos espaços de poder, nas empresas e nos locais de maior salário. Esse trabalho tem que começar no nosso bairro, no nosso município.
O MP denunciou a senhora por supostas compras superfaturadas de imóveis escolares. O que tem a dizer sobre isso?
Recebi a notificação, que foi encaminhada à Advocacia-Geral do Estado. Os pareceres e laudos são da AGE, e eles estão acompanhando a ação civil pública. Estou bastante tranquila em relação a isso. (O processo diz que) tivemos perdas de ICMS pois empresas mineiras não venceram a licitação. Não posso fazer uma licitação direcionada a empresas mineiras. Isso está na lei. Tenho certeza que tudo será muito bem esclarecido. Minha vida é muito transparente.