Marcada por reviravoltas e surpresas desde o primeiro turno, a eleição de São Paulo teve como desfecho a escolha pela continuidade. Com 59,38% dos votos válidos, o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) consolidou a hegemonia tucana na cidade e frustrou os planos da “frente ampla” da esquerda, liderada por Guilherme Boulos (Psol) - que, apesar da derrota, despontou nacionalmente como um eventual nome do campo progressista para o pleito de 2022.
Os mais de 3,1 milhões de votos conseguidos nesse domingo também credenciam Covas a novas aspirações na próxima eleição. Analistas consultados pelo Estado de Minas entendem que o prefeito eleito pode seguir os passos do avô Mário Covas e, em dois anos, disputar o governo estadual, em projeção que aponta João Doria (PSDB) como candidato tucano na corrida à Presidência.
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Covas inicia discurso de vitória com deferência a vice e dá indireta a BolsonaroEleições 2020: Covas (PSDB) vence Boulos (Psol) e é eleito prefeito de São PauloDoria comemora vitória de Bruno Covas em São Paulo e manda recado a BolsonaroExpansão do Avante e do PSD e queda do PSDB e do MDB: o cenário dos partidos na Grande BHNo pronunciamento da vitória, Covas, de 40 anos, repetiu o discurso de “moderação” - usado para rotular Boulos de “radical” ao longo da campanha - e evitou fazer projeções para o próximo pleito. “As urnas falaram, e a democracia está viva. São Paulo mostra que faltam poucos dias para o obscurantismo e negacionismo. São Paulo disse sim à ciência e disse sim à moderação”, afirmou, antes de mencionar o avô. “São Paulo não quer divisões, não quer o confronto. Meu avô dizia que é possível conciliar política e ética, política e honra. Agora, acrescento, é possível fazer política sem ódio, fazer política falando a verdade”, completou.
Personagem central da disputa eleitoral no segundo turno, o vice-prefeito eleito Ricardo Nunes (MDB) foi citado por Covas. O emedebista foi alvo de denúncia de violência doméstica pela esposa Regina Carnovale e é investigado por suposto envolvimento com esquema em creches municipais. "Sofreu muito durante essa campanha. Mas esteja certo, Ricardo, que, a partir de 1º de janeiro, nós vamos governar e nós vamos mostrar pra São Paulo quem nós somos e qual é a nossa visão de mundo”, disse Covas.
Boulos em ascensão
A derrota frustrou os planos da frente de esquerda formada no segundo turno em São Paulo, mas não impediu Boulos de se fortalecer como possível candidato à Presidência em 2022. No pleito de 2018, ele teve pouco mais de 617 mil votos em todo o Brasil - número que se multiplicou por mais de três e alcançou 2,1 milhões no segundo turno da capital paulista neste ano.
“O recado de mais de 40% da população de São Paulo é claro: dá para fazer política sem abrir mão dos nossos sonhos, dos nosso valores. Quero cumprimentar o Bruno Covas e desejar que ele tenha sorte nos próximos quatro anos e que, acima de tudo, governe a cidade sabendo que uma imensa parcela da cidade quer mudança”, disse Boulos em pronunciamento divulgado nas redes sociais. Com COVID-19, o representante do Psol não votou nesse domingo.
De acordo com os analistas ouvidos pela reportagem, ainda é cedo para apontar quem serão os rivais de Bolsonaro daqui dois anos. Porém, o fortalecimento de Boulos foi consenso entre as avaliações, apesar do provável protagonismo de outros partidos. “É a principal liderança ascendente da esquerda, mas o Psol é um partido pequeno, não tem tempo de televisão e não tem expressão nacional. PT e PDT são partidos organizados nacionalmente. Tem muitas conversas pela frente”, apontou Carlos Ranulfo, professor do departamento de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).