A presença feminina na Câmara Municipal de Belo Horizonte a partir de 2021 será de mais do que o dobro das atuais quatro vereadoras que têm cadeiras na Casa.
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Crescida no Bairro Minas Caixa, Região de Venda Nova, mudou-se para o Barreiro depois de se casar com um professor da rede estadual e de terem a pequena Ana Vitória, prestes a completar um ano de idade.
No Barreiro, Iza seguiu sua militância social, cultivada desde os tempos do movimento estudantil na UFMG, e criou o Consciência Barreiro, curso gratuito que prepara jovens de baixa renda para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Alguns foram aprovados em vestibulares concorridos como Uemg e Ufop.
Formado por professores e coordenadores voluntários, o Consciência Barreiro atendeu cerca de 100 estudantes em 2019 e se tornou mais do que um simples cursinho, se envolvendo em outras demandas da população, como arrecadação de alimentos e materiais de higiene pessoal para quem precisar.
“A educação popular fala sobre fortalecimento das comunidades ao redor da escola”, diz Iza. Fã dos rappers Djonga, Emicida e Tamara Franklin, a jovem política de 27 anos se declara atleticana “não convicta”, e brinca: “Se minha mãe ouve isso, ela tem um troço. Porque diz ela que todo atleticano é fanático”.
A partir do movimento Consciência Barreiro quais outras ações sociais foram desenvolvidas?
A educação popular fala sobre fortalecimento das comunidades ao redor da escola. Na época da pandemia, fizemos uma campanha de solidariedade ‘BH fique em casa’. No primeiro momento, começamos ajudando as pessoas da comunidade. Coletamos cestas básicas doadas por outras pessoas e entidades. Recebemos muitas demandas de mulheres grávidas que não tinham condições de ter seus filhos porque não tinham fraldas, não tinham roupas, não tinham nada. Fizemos uma campanha e recebemos doações de roupas, sapatos, fraldas, dinheiro, mantas, tudo que um neném precisa pelo menos nos primeiros dias. Tudo com ajuda de entidades, ONGs, sindicatos, doadores. Fizemos ação com lideranças comunitárias que a gente já conhecia e essa união com as lideranças é uma forma de somar forças.
Conversando sobre sua trajetória, pode se dizer que seu foco na Câmara serão as políticas voltadas para as áreas social e de educação?
Exatamente. Construir políticas que sejam voltadas para o povo. Moradores de periferias, comunidades, que não podem pagar por coisas essenciais, precisam ter acesso gratuito. Acrescento ao social e à educação a pauta do transporte público. Poder circular pela cidade também é direito das pessoas. Mas uma passagem que custa R$ 4,50 no ônibus e R$ 4,25 no metrô limita a circulação de muitos. Não temos passe livre para estudantes em Belo Horizonte. Temos que ter políticas de passe para desempregados. Mas para isso precisamos pressionar a prefeitura para rever o contrato com as empresas de ônibus. Do jeito que está hoje, não há benefícios para o poder público nem para os usuários. Só para as empresas.
Falando em prefeitura, como será a sua relação com Alexandre Kalil? Será de apoio ou de oposição?
No que for bom, estamos a favor. No que for ruim, somos oposição. Sou do Psol, um partido que hoje é oposição ao governo Kalil. Apresentamos para PBH a Áurea Carolina, principal nome de esquerda na cidade, porque achamos que a gestão Kalil – ainda que não tenha sido uma das piores do país, principalmente no enfrentamento à pandemia – teve muitos limites. Não é uma prefeitura do nosso povo nem garantiu direitos para todo mundo. Por exemplo, uma proposta do Psol de renda mínima básica de R$ 600 para que as pessoas possam viver dignamente, para que ninguém passe fome e tenha o mínimo para sobreviver. É uma coisa que o Kalil não tem interesse em fazer em BH. São coisas que achamos importante falar e tornam a mim e a Bella Gonçalves uma bancada de oposição ao governo Kalil. Sem jamais ser inconsequente e não ser a favor das coisas que foram boas para a cidade.
De onde viriam os recursos para bancar essa renda mínima municipal?
A campanha da Áurea Carolina fez um levantamento e concluiu que esses recursos não gastariam nem 2% do PIB de Belo Horizonte. Não seria um dinheiro alto. A ideia é gerar recursos com um IPTU mais progressivo na cidade. Quem mora em mansões pagaria um imposto mais caro, para que as pessoas que vivem em situação de miserabilidade pudessem ter onde morar e o que comer.
Dos 41 vereadores de BH, apenas 17 conseguiram se reeleger. Você acha que esse foi um recado da população e que estava insatisfeita com a antiga legislatura?
Temos uma Câmara mais jovem e muito mais feminina. Acho que temos aí um recado claro de que a mulher pode e sabe fazer política. E que as pessoas, principalmente as mulheres, querem votar em mulheres. O fenômeno das últimas eleições, de mulheres negras sendo eleitas, permaneceu. Aqui em BH tivemos duas mulheres negras eleitas. É um fato que precisa ser falado, para demonstrar a consolidação do nosso espaço na política. Óbvio que ainda temos um caminho enorme para seguir. Ainda é baixa a representação. Mas não é nula como foi em outros anos em BH. Nosso povo é muito diverso. Tem diferentes orientações sexuais, identidades de gênero. É um absurdo que a política não tivesse a cara real do povo. Acho que é o saldo mais positivo da eleição.