Política, cultura, problemas urbanos, futebol e carnaval. Sempre conhecido por dizer frases fortes, sinceras e de efeito em seus discursos, o prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) não fugiu de nenhum assunto na entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na noite desta segunda-feira (30/11). Em duas horas de sabatina, ele atacou o governador de Minas, Romeu Zema, criticou o presidente Jair Bolsonaro e admitiu que aceitaria um convite para disputar o Palácio do Planalto em 2022.
Presidência e Governo de Minas
Mesmo que sua intenção seja comandar a prefeitura até o término do mandato, como afirmou em várias entrevistas em sua campanha de reeleição, Kalil confessou que aceitaria disputar a presidência da República: “Se eles quiserem me carregar, é claro que eu vou. Hoje sou o prefeito de Belo Horizonte. Agora: se eu for carregado para lá, muito obrigado”.
Ele também disse que poderá disputar o governo de Minas em 2022: "Não. Não é fora de cogitação, respondi isso durante a campanha. Mas é óbvio que tenho que respeitar a votação que tive, ainda nem assumi o segundo mandato. Temos que ver também qual será a situação de Minas daqui a dois anos, ninguem sabe".
Relação com Zema
Em Minas, a rixa entre Kalil e o governador Romeu Zema não é recente. O prefeito acusa o Estado, que vive grave crise financeira, de não repassar os recursos a serem investidos em melhorias para a capital mineira. “O governo de Minas está envenenado. O governador de Minas não fala nada e não faz nada. Belo Horizonte está fora do cardápio do governo”, diz Kalil.
Ele aproveitou para dar uma cutucada no governador: "Não me ajuda em médico, nem nada, o que eu quero com ele? Tomar café ou cerveja? Bala de Araxá eu tenho gente que traz para mim"
Pandemia
Kalil não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro pela negligência durante a pandemia do coronavírus. Ele afirmou que o presidente errou ao minimizar a gravidade da doença, incentivando as pessoas a saírem às ruas: “Vamos ser muito sinceros. Ele derramou dinheiro na pandemia. Negar a pandemia era verbalizar. Foi de graça. Não custou nada. Então o mais difícil de fazer, ele fez. Não economizou na pandemia. Se ele não tivesse negado, ele teria gastado a metade do que ele gastou".
O prefeito de BH voltou a criticar Bolsonaro pela falta de diálogo com a capital mineira. Kalil disse não ter sido recebido pelo presidente para tratar de repasses à capital mineira: “Não preciso dele (Bolsonaro) como amigo. Preciso dele para me dar dinheiro para saúde, educação, infraestrutura... Meus amigos de tomar cerveja eu já tenho”.
Vacina
Ele também comentou sobre a disputa entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, a respeito da vacina do coronavírus. O governo federal tem apoiado as pesquisas da Universidade de Oxford, com atuação da Fiocruz. Já o Estado de São Paulo incentiva a fabricação da chinesa Sinovac Biotech, apoiada pelo Instituto Butantan.
“Quando um não quer, dois não briga. Se imagina se essa vacina chinesa dá certo e chega mais rápido... Você acha que o governo federal não vai comprar? Você acha que o governo tem peito de não comprar? É impeachment na hora. Por isso que eu falo que é impossível determinar o que vai ocorrer na eleição de 2022”.
Volta às aulas
Kalil também foi questionado sobre o retorno das escolas em plena pandemia. Ele logo foi taxativo ao afirmar que as aulas remotas não deram certo: “Ensino remoto deu certo em algum lugar? Não. Só ver onde deu certo que vou lá aprender. No Brasil fracassou e eu não vou copiar coisa que fracassou”.
Carnaval
Kalil comentou que aprova a realização do carnaval no ano que vem entre abril e maio da mesma forma que Rio e Salvador planejam. Mas disse isso só vai ocorrer se todos estiverem vacinados: “Colocamos 3 milhões de pessoas nas ruas. Se estiver todos vacinados e seguros, não vejo problema. Cariocas e baianos é que entendem de carnaval. E nós vamos estar junto com eles”.
Transporte coletivo
Alexandre Kalil falou sobre a situação do transporte público na capital, problemas no aumento das passagens e da caixa-preta da BH Trans. Ele disse que vai criar uma supersecretaria para cuidar do problema e das grandes obras: “Se alguém trouxer para mim a solução para transporte público, resíduo sólidos e moradores de rua, aceito na hora. Agora, temos que enfrentar. Não podemos correr".
Pintura do Cura
Kalil comentou sobre o fato de um morador de um prédio de Belo Horizonte entrar na Justiça para tentar apagar uma imagem que representa a cultura negra. A arte faz parte do projeto Cura (Circuito Urbano de Arte), frequentemente visto nos edifícios da capital.
"Eu tenho dó desse boçal. Não passa de um boçaloide. O que você vai fazer com um cara desse? Nada. Não sei quem é. Não interessa. O mundo está boçalizado. Ah, você é desbocado, fala palavrão. Sou neto de imigrante, sofri segregação. Se eu sou atleticano, era porque os únicos que aceitaram ser amigos da minha avó e do meu avô eram negros, que pegavam meu pai e levavam para o jogo do Atlético. O que eu faço com um boçal? Que diz que não posso abrir parada gay. Desce um disco voador que eu quero ir embora. Vem me buscar".