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Estado de Minas Sucessão presidencial

Recuperação da economia é trunfo incerto para reeleição de Bolsonaro

Aposta de Bolsonaro para buscar a reeleição em 2022, recuperação robusta da economia esbarra na pandemia e na capacidade do governo de aprovar reformas,


07/12/2020 04:00 - atualizado 07/12/2020 07:07

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Otimista com a "retomada em V" anunciada por Guedes (D), Bolsonaro terá que contar com fatores internos e externos para que a expectativa se confirme (foto: MarcelLo Casal Jr/Agência Brasil - 2/4/20)
Brasília – O presidente Jair Bolsonaro aposta na recuperação da economia como o grande trunfo para buscar a reeleição em 2022. Números apresentados pela equipe econômica apontam previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça entre 3% e 4% em 2021 e 2022.

O próprio chefe do Executivo se mantém confiante na retomada e, a exemplo do ministro da Economia, Paulo Guedes, apesar do crescimento abaixo do esperado pelo mercado, defendeu que a economia está “crescendo em V” e que os “últimos dados são realmente fantásticos”.

No entanto, especialistas entendem que o próximo ano se inicia envolto em incertezas e dificuldades em uma retomada mais robusta na economia, demandando a tomada de decisões firmes por parte do presidente.

A começar pelo risco de uma segunda onda da COVID-19 e já tem levado a novos decretos de lockdown no mundo. Em contrapartida, há a expectativa do início da vacinação da população, mas ainda não se sabe em que ritmo a maioria será imunizada, o que impacta negativamente na oferta de vagas de empregos.

Outro entrave é o término do auxílio emergencial durante a pandemia, que até então vinha ajudando a puxar o PIB pela injeção no consumo, abarcando ainda o segmento social dos chamados “invisíveis”.

Popularidade


Para amparar essas famílias, substituir a ajuda e não perder a popularidade alavancada pelo programa, o governo federal vem ensaiando a criação do Renda Brasil, que não chegou a sair do papel ao esbarrar na falta de fonte de verba. 

Outra dúvida que paira é sobre a capacidade do governo em aprovar a agenda de reformas como a Tributária, que é a mais demandada por investidores internos e externos, visando diminuir os custos de entrada de investimentos e assim, promover segurança para que haja um estímulo real ao aumento daqueles investimentos.

Há ainda a Administrativa, a PEC Emergencial, dos Fundos Públicos, o Pacto Federativo e o Orçamento da União de 2021, postergadas em meio a uma disputa pela presidência da Câmara e que poderiam melhorar o gasto. Para analistas, são fatores primordiais para acenar confiança ao mercado internacional e a investidores. 

Gil Castelo Branco, diretor-geral da Associação Contas Abertas, caracterizou a projeção de crescimento da equipe da Economia em meio ao período nebuloso que se inicia em 2021 como um “palpite”. Ele lembrou que o país findará o ano com endividamento de 97% de dívida em relação ao PIB, além do déficit fiscal próximo de R$ 1 trilhão.

Pandemia


 “Assim como este ano foi atípico, não se sabe se no próximo poderemos ver novas restrições da pandemia. Esse crescimento de 7,7% do primeiro trimestre não deve se repetir no quarto semestre. O governo sequer fixou uma meta fiscal para o ano que vem. Vai depender não só do comportamento da pandemia, mas da vacina o quanto antes e da celeridade na aprovação das propostas e reformas. Isso trará uma visualização de que o governo poderá caminhar com austeridade e responsabilidade fiscal”, destaca.

Para não ver sua popularidade desabar, analisa, Bolsonaro deverá insistir em criar um programa com rótulo próprio ou ainda aprimorar o já existente Bolsa Família.

“Ele sabe que se não fizer um novo programa social atendendo a esse segmento, sua apreciação vai cair. Por um lado, precisa do programa, mas por outro, está numa situação fiscal difícil e sem recursos, limitado pelo teto de gastos. Esse é um dos grandes desafios para 2021”.

A advogada constitucionalista e mestre em direito público pela Fundação Getulio Vargas (FGV) Vera Chemim defende que a possibilidade de a economia decolar aos níveis esperados por Bolsonaro até 2022 dependerá de outras variáveis como o investimento privado, além do desempenho do setor primário.

Consumo


O consumo das famílias será fundamental para que a demanda de bens e serviços da economia possa aumentar e pressionar positivamente o investimento privado nos três setores da economia.

“Para que o consumo das famílias possa crescer é necessário que a oferta de emprego seja estimulada. O governo precisa adotar estratégias eficientes e eficazes para atrair o investimento e o consumo estrangeiros. O Brasil também dependerá do nível de crescimento dos países desenvolvidos, levando em conta a pandemia e outros problemas dela decorrentes que podem contribuir negativa ou positivamente a economia brasileira, a julgar pelos níveis de importação daqueles países e da sua disposição em investir no Brasil”, explicou.

O professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Comissão de Economia, Newton Marques, defende que Guedes terá que “baixar a bola”.

“O governo e Guedes falam de recuperação em V. Ele fala de otimismo, mas sendo realista, vai ter que baixar a bola. O crescimento será menor que 3%. Um dado relevante é comparar o terceiro trimestre deste ano contra o do ano passado, houve uma queda de 3,9% em 12 meses”, diz.

“Bolsonaro precisa governar e fazer com que Guedes assuma que o liberalismo não é mais a saída. Precisa de intervenção do Estado. Ou faz isso ou vai sucumbir. Sem ter força para se reeleger”, advertiu.

Já o cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Augusto Prando, expõe que embora haja sinais de uma melhora tímida na economia, Bolsonaro poderá enfrentar dificuldades na Câmara para aprovar as reformas que necessita.

“Dependendo de quem for o presidente da Câmara, pode trancar pautas. Qualquer reforma pode ficar parada, fazendo com que o ambiente político gere desconfiança entre acionistas e investidores, consequentemente, dificultando a reeleição de Bolsonaro”.

Prando conclui também que o presidente deveria dar sinais de diálogo à comunidade internacional, substituindo os ministros Ernesto Araújo e Ricardo Salles. “Ele poderia trocar o chanceler, acenando que o Brasil está menos ideológico e mais pragmático, o que impacta nas questões econômicas”.

O especialista diz que Bolsonaro precisa governar, de fato. "Colocar questões ideológicas de lado ou as dificuldades serão muito grandes. Precisa liderar. Nesses dois anos, deixou a desejar. Se mudar a postura, tem condições de reverter a situação e melhorar o clima político".


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