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Estado de Minas Sucessão na Câmara

Disputa pela Câmara dos Deputados pode unir DEM e PT, rivais históricos

Alguns integrantes do PT ainda insistem em não dar o apoio ao candidato indicado pelo deputado Rodrigo Maia


18/12/2020 04:00 - atualizado 18/12/2020 08:00

Eleição para o comando da Casa será em fevereiro e pode ter do mesmo lado petistas e democratas contra nome apoiado por Bolsonaro (foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados - 21/7/20)
Eleição para o comando da Casa será em fevereiro e pode ter do mesmo lado petistas e democratas contra nome apoiado por Bolsonaro (foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados - 21/7/20)
Sempre de lados opostos no cenário político dos últimos anos, o DEM e o PT agora fazem acenos mútuos na disputa pela Câmara dos Deputados.

Em uma ponta, o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ) tenta atrair o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fortalecer a candidatura do seu sucessor.

Já a bancada do PT busca mais espaço dentro do Legislativo para fazer oposição mais forte ao governo de Jair Bolsonaro.

No Partido dos Trabalhadores essa aproximação com o DEM é defendida pela ala mais pragmática da sigla.

A bancada estava rachada na disputa pela presidência da Câmara e uma parte dos deputados defendia apoiar a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), mesmo ele sendo apontado como o candidato do presidente Jair Bolsonaro.

Como forma de rechaçar essa ideia de parte dos deputados, os líderes petistas descartaram qualquer aproximação com Arthur Lira.

Ontem, após reunião com integrantes de outros partidos da esquerda, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que a sigla estava cogitando embarcar na candidatura de centro.

“Achamos que realmente dá para ir para esse bloco de centro. Temos divergências na área econômica, mas temos convergência na defesa da democracia e em pautas como meio ambiente, por exemplo. Fechado o bloco, encerra-se a parte administrativa”, afirmou.

A líder do partido já havia rechaçado qualquer possibilidade da oposição apoiar o “candidato do Bolsonaro”.

Apesar dessa ofensiva contra Lira, outros integrantes do PT ainda resistem a fechar um apoio formal ao candidato a ser indicado por Rodrigo Maia para a sua sucessão.

O grupo tenta articular uma candidatura própria por parte da oposição, mas isso não tem o aval de demais partidos.

“A bancada vai se reunir novamente nos próximos dias para tomar uma atitude definitiva. Vamos saber se vai haver candidatura própria da esquerda ou se apoiaremos o nome que vier a ser indicado pelo Rodrigo Maia”, afirmou o líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR).

Internamente, integrantes do partido reconhecem que a oposição não tem votos suficientes para ter uma candidatura própria, por isso, uma aliança com Maia seria o melhor caminho para ganhar mais espaço no Legislativo.

No balcão de negociações, a bancada cobra a presidência de comissões e espaço na Mesa Diretora da Câmara.

“Tem uma parte do PT que não entendeu ainda que se aliar ao Maia é o melhor caminho. Com a oposição junta teremos mais chances de derrotar o Lira e garantir que as pautas conservadoras do Jair Bolsonaro não irão avançar”, afirmou um integrante do PT ao Estado de Minas.

Sem consenso


A ideia defendida por parte do PT, de apoiar uma candidatura própria da oposição, é descartada por demais partidos da esquerda como PSDB, PDT e PCdoB. Essas siglas estão mais inclinadas a apoiar o nome de centro que vier a ser indicado por Maia.

“Não há a menor chance de um candidato do nosso campo, de esquerda, vencer as eleições na Câmara com a atual composição do Parlamento. Não faz sentido lançar candidato no primeiro turno torcendo para ele não ir para o segundo porque, se for, vai perder para o candidato Bolsonaro”, admitiu o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ).

O Psol, que conta com 10 deputados, era a sigla que vinha encabeçando a ideia de ter uma candidatura própria, sob a argumentação de “marcar posição”, mesmo com poucas chances de vitória.

No encontro de ontem, os psolistas sinalizaram que, se houver chances de Lira vencer no primeiro turno, vão abrir mão de sua candidatura para apoiar o nome de Rodrigo Maia.

O partido, no entanto, reforçou que esse movimento só será feito mais para frente, perto da eleição, que ocorrerá em fevereiro do ano que vem.

“Do lado de lá, no campo de Bolsonaro, há unidade. No campo contra ele, é preciso haver também. Nossa pulverização fortalece Bolsonaro”, endossou Molon, reconhecendo que há uma “corrida contra o tempo”, pois Lira tem avançado nos acordos com outras legendas.

À espera


Nos bastidores, interlocutores do presidente Rodrigo Maia afirmam que ele aguarda uma posição final do PT para cravar o nome do seu candidato.

No páreo estão os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP). Com a ida do Republicanos, que conta com 31 parlamentares, para o bloco de Arthur Lira, Maia vê na oposição sua chance de derrotar o líder do Centrão.

Nos diversos acenos que tem feito ao PT, Rodrigo Maia afirmou nesta semana, durante um café da manhã com jornalistas, que o partido do ex-presidente Lula poderia estar no grupo que ele articula para concorrer à presidência em 2022.

“Sei que é muito difícil o DEM apoiar o PT e vice-versa, mas o PT teve que vir para o centro para ganhar a eleição em 2002”, disse Maia.

A fala do democrata ocorreu quando ele foi questionado sobre o seu futuro após deixar a presidência da Câmara no ano que vem. Ele afirmou que pretende trabalhar pela união do centro em uma candidatura para 2022.

Citou como nomes que integram esse campo os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o apresentador Luciano Huck.

Para Pedro Vasconcellos, analista político, não deverá haver uma união entre DEM e PT para as eleições presidenciais, mas uma união dentro do Congresso pelos próximos dois anos deve ocorrer.

“O PT tem uma ideologia dispersa do DEM e vice-versa. Acredito que uma aliança na campanha seria um giro que os eleitores não entenderiam. Já na Câmara o cenário é diferente, o candidato do Maia ganhando, o PT poderia ter mais espaço para demarcar o território contra seu maior adversário, que é o Bolsonaro. Caso Arthur Lira ganhe, acredito que Maia vai atuar numa frente de oposição contra o governo, e mais uma vez o PT poderia embarcar nesse grupo. Seria uma oposição de mais de 200 votos”, afirma o analista.



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