Ao menos metade dos 41 vereadores eleitos para a Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) vai compor a base aliada do prefeito Alexandre Kalil (PSD). Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que cerca de 20 parlamentares já cravaram presença no grupo que dá sustentação ao governo. O partido do chefe do Executivo municipal conseguiu seis cadeiras e é dono da maior bancada. O PP, que elegeu quatro candidatos, também vai engrossar o cordão em torno de Kalil.
A tendência é que o prefeito de BH mantenha o apoio dos re- eleitos que já estão com ele. Por isso, fora o PP, as novidades no bloco de apoio são legendas que não têm representantes na atual legislatura: PL, PMN e Rede. Democratas, PSL, PTC, PSC e Pros continuam com o prefeito. É possível que parte do PDT, sigla com três vereadores a partir de 2021, comece o próximo ano caminhando com Kalil. Isso porque Duda Salabert, recordista de votos em toda a história da capital mineira, prefere esperar o início da nova gestão para se posicionar. Na composição vigente do Parlamento, os pedetistas não estão representados.
Há chances de Kalil ganhar mais apoios. O MDB, representado por Reinaldo Gomes, está na atual base aliada. Para 2021, a princípio, ele adota o discurso de independência, mas a situação pode mudar. Integrante da coligação que deu suporte ao prefeito, o Avante, mantém diálogo com o Executivo municipal. Re- eleito e único representante do partido na atual legislatura, Juninho Los Hermanos, é alinhado à prefeitura, mas discute a permanência no grupo para 2021.
O estreante Claudiney Dulim também participa das conversas. Flávia Borja, da mesma sigla, afirmou à reportagem que deve adotar postura independente. Gabriel Azevedo, do Patriota, preferiu não se posicionar por ora. É mais um parlamentar que pretende esperar o fim deste mandato para avaliar o contexto. Na prática, o apoio aos projetos do Executivo deve ser ainda maior, já que os vereadores rotulados como “independentes” podem votar com a prefeitura em diversas ocasiões. Henrique Braga (PSDB), Ciro Pereira (PTB) e Doutor Célio Frois (Cidadania), foram alguns dos que se classificaram como neutros.
O líder do governo na Câmara, Léo Burguês (PSL), crê que o perfil de Kalil explica a numerosa base aliada. “O prefeito atende os vereadores, sempre os ouvindo. É uma pessoa que respeita o Parlamento e, tenho certeza, vai compor a maioria com o diálogo”, diz ele, que deve continuar no comando das articulações em 2021.
Álvaro Damião (Dem), atualmente um dos vice-líderes do Executivo, tem opinião semelhante. “Ele (Kalil) é um cara que não fica fazendo negociatas com os outros. É difícil ser contra uma pessoa que é honesta e sincera”. A coligação de Kalil para a disputa eleitoral deste ano teve oito partidos. Juntos, eles elegeram 18 pessoas. A gama de partidos a apoiar o prefeito aumenta, pois parlamentares de siglas que apoiaram outros candidatos — como Democratas, de Damião, e o Pros, de Wesley Autoescola — vão estar na base.
Diferentemente do que ocorre na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por exemplo, os partidos não precisam “fechar questão” quanto ao posicionamento sobre o governo. Por isso, parlamentares da mesma legenda podem se portar de formas distintas.
Independentes
Representado por Rodrigo Paiva na disputa pela prefeitura, o Novo foi um dos partidos que mais teceram críticas à administração de Kalil durante a campanha. Ainda assim, pretende ter posição independente no Legislativo. Segundo Marcela Trópia, que será líder da legenda na Câmara, a opção é estratégica. “Teremos projetos em que a gente pode cooperar com a prefeitura. Quando temos o rótulo de oposição, várias portas se fecham antes mesmo de o diálogo acontecer. A postura independente mostra maior capacidade de diálogo”, sustenta.
Marcela Trópia ressalta que a bancada do partido vai endossar o que “for bom para a cidade” e apontar melhorias em outras propostas. Para ela, o número de parlamentares tidos como independentes fortalece o papel do Legislativo. “É uma evolução democrática. A gente vê um debate mais maduro, focado nas ideias, e não no rótulo de oposição ou base. Os parlamentares estão mais independentes até em relação aos próprios partidos, com mais liberdade para poder se posicionar caso a caso”, defende.
Quem também pretende adotar postura independente é Bella Gonçalves, do Psol. “Nosso desejo é manter, sempre, o diálogo com as secretarias e o governo para fazer o que for melhor à cidade. Considero que o jogo de base e oposição faz muito mal aos trabalhos da Câmara. Caminhar para um Legislativo cada vez mais independente é a atitude mais interessante que a gente poderia desejar”, explica. A pessolista entende que a gestão de Kalil, ao contrário dos governos de Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (sem partido), tem “pontos de diálogo”. “O caminho que esse governo vai tomar na (próxima) gestão vai determinar os rumos de nosso posicionamento político”, completa.
A CARA DO PARLAMENTO
Composição da Câmara Municipal para 2021 – (cenário momentâneo)
Base aliada do prefeito de BH, Alexandre Kalil
DEM, PSD, PP, PSL, PSC, PMN, PL, Pros, Rede e PDT (parte)
- Álvaro Damião (Dem)
- Bim da Ambulância (PSD)
- Bruno Miranda (PDT)
- Cláudio do Mundo Novo (PSD)
- Fernando Luiz (PSD)
- Gilson Guimarães (Rede)
- Helinho da Farmácia (PSD)
- Irlan Melo (PSD)
- José Ferreira Projeto Ajudai (PP)
- Léo Burguês (PSL)
- Marcos Crispim (PSC)
- Miltinho CGE (PDT)
- Professor Juliano Lopes (PTC)
- Professora Marli (PP)
- Ramon Bibiano da Casa de Apoio (PSD)
- Rogério Alkimin (PMN)
- Rubão (PP)
- Walter Tosta (PL)
- Wesley Autoescola (Pros)
- Wilsinho da Tabu (PP)
Independentes
Psol (parte), Novo, PTB, Cidadania (parte)*, Avante (parte), PSDB, Republicanos, MDB e Patriota
- Bella Gonçalves (Psol)
- Bráulio Lara (Novo)
- Ciro Pereira (PTB)
- Dr. Célio Frois (Cidadania)
- Fernanda Pereira Altoé (Novo)
- Flávia Borja (Avante)
- Henrique Braga (PSDB)
- Jorge Santos (Republicanos)
- Marcela Trópia (Novo)
- Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB)
- Wanderley Porto (Patriota)
Oposição à direita
PRTB
- Nikolas Ferreira (PRTB)
Oposição à esquerda
PT e Psol (parte)
- Macaé Evaristo (PT)
- Sônia Lansky da Coletiva (PT)
- Iza Lourença (Psol)
Indecisos
Patriota (parte), PDT (parte) e Avante (parte)
- Gabriel Azevedo (Patriota)
- Duda Salabert (PDT)
- Claudiney Dulim e Juninho Los Hermanos (Avante)
* O partido mantém conversas com o governo
* Marilda Portela (Cidadania) não retornou os contatos feitos pela reportagem
** Nely Aquino (Podemos), atual presidente da Casa, optou por não se manifestar
Oposição com e sem diálogo
Filiadas ao PT, Macaé Evaristo e Sônia Lansky da Coletiva pretendem fazer o que chamam de “oposição consciente e propositiva”. “Temos independência, um projeto, e estaremos alinhados ao que for benéfico à população. Oposição que dialoga. Que tem uma proposta de construção de interesses públicos”, diz Sônia. Iza Lourença (Psol) tem posição semelhante. As três parlamentares estreiam no Legislativo em 2021.
“O desastroso governo federal e o omisso e subserviente governo estadual, ambos incompetentes e elitistas, nivelam por baixo o que a população deve exigir de um governo. Não é por esse parâmetro que vamos nos balizar para definir nossa orientação em relação ao governo municipal”, diz Iza Lourença.
Oposição ferrenha, mesmo, quem deve fazer é Nikolas Ferreira (PRTB). Aos 24 anos, o bolsonarista obteve 29.388 votos. Ele alega que a postura diante da pandemia do novo coronavírus influenciou seu posicionamento. “É uma prefeitura que se diz preocupada com a saúde das pessoas, mas não construiu nenhum leito e toma medidas completamente desequilibradas. Esperava medidas muito mais proporcionais, no sentido de equilibrar economia e saúde pública”, justifica.
Segundo o vereador, é “impossível” não ser oposição a Kalil. Questionado sobre os efeitos que a escolha pode acarretar, Nikolas assegura não crer em um possível “isolamento” por parte dos colegas em eventuais construções conjuntas. “Não me importo de estar sozinho, mas batalhando por uma coisa correta. Eu me coloco como oposição ao Kalil, independentemente de outros. Aquilo que sou e defendo independe da maioria e do coletivo. A construção é necessária e independe de ser oposição.”
Enquanto isso, Duda Salabert, campeã de votos na cidade — foram 37.613 — prega cautela. A parlamentar do PDT vai esperar a postura inicial de Kalil ante as pautas que defende para se decidir. “Meu compromisso é com os movimentos sociais de luta da cidade. Se o prefeito construir um mandato que tenha como pilar políticas públicas voltadas à população pobre e marginalizada, como também aos movimentos de luta, serei base. Se Alexandre Kalil virar as costas à população mais pobre, aos professores e professoras e aos movimentos que lutam por questões ambientais, serei oposição”, afirma a candidata à presidência da Casa.