Depois de sucessivos reveses eleitorais e dissidências, as eleições municipais de 2020 marcaram o retorno do Democratas ao clube dos grandes partidos. Vitorioso em quatro capitais e em importantes polos regionais pelo Brasil, o partido chegará a 2021 no comando de 464 cidades, onde mais de 32,4 milhões de brasileiros viverão sob o comando da legenda.
O cientista político Murilo Medeiros, que estuda a trajetória da legenda, observa um conjunto de fatores que facilitaram e consagraram esse retorno do Democratas ao centro do poder nacional. Medeiros defende que o partido foi muito eficiente em fazer uma transição geracional dos seus quadros, o que o permitiu abrigar diferentes correntes no campo mais liberal. Ele também credita o crescimento do DEM ao fato de o partido ter sido o principal antípoda do PT durante o período em que o partido ocupou o Planalto.
Com a ascensão da direita, o partido capitalizou seu passe político, formou bases e atraiu lideranças mais pragmáticas do seu polo ideológico. “O Democratas passou por uma refundação na composição do seu comando nacional e na sua atualização programática, e com a desidratação de legendas tradicionais, como o PSDB e o MDB, e pela falta de opção partidária do presidente da República, que preferiu não se filiar a um partido, a legenda acabou aglutinando diversas lideranças dispersas na centro-direita e ocupou esse espaço estratégico de um centro liberal de direita reformista”, avalia.
Um novo nicho
O cientista político ressalta também o movimento que o partido fez nas eleições de novembro, partindo das pequenas cidades, onde conseguiu resistir ao derretimento durante os governos do PT, para voltar a administrar importantes colégios eleitorais do país. “Se a gente olhar para alguns indicadores dessas eleições, o Democratas sai dos grotões, em termos municipais, e conquistou força política nos grandes centros urbanos. O partido ganhou em quatro capitais, sendo o melhor resultado para o partido nesse porte de municípios em 32 anos. Destaco também, em termo regionais, que o DEM se deslocou do seu nicho tradicional, que é o Nordeste, para o Centro-Sul do país”, comenta Murilo Medeiros.O Democratas se tornou o maior partido da Região Centro-Oeste em número de prefeituras, conseguiu expressivo crescimento na Região Sudeste e teve um bom desempenho nos estados do Nordeste e do Sul. Entre os sete municípios com mais de 2 milhões de habitantes, o DEM vai administrar três prefeituras (Salvador, Rio de Janeiro e Curitiba), além da vice-prefeitura de Manaus. A legenda também quase dobrou o número de vereadores pelo país e conquistou a segunda posição na conta de parlamentares eleitos nas capitais.
“Um ponto interessante que também destaco é o desempenho no quesito da eleição para vereador, em que o Democratas teve um crescimento muito expressivo, conquistando 68 vereadores em capitais. Muitos vereadores de capitais migram, em eleições seguintes, para disputar cargos mais altos, como o de deputado estadual ou deputado federal. Isso também reforça muito a capilaridade em grandes colégios eleitorais, que não pode ser lida apenas em número de prefeituras, mas também nas casas legislativas. A meu ver, isso deve refletir numa curva ascendente do partido também nos próximos pleitos”, vislumbra Medeiros.
Disputa presidencial
Murilo Medeiros acredita que o partido vai chegar em 2022 com um peso político. Ele nota, inclusive, que a legenda já vem sendo procurada por diferentes lideranças que despontam como prováveis atores na disputa presidencial. “Temos vistos movimentos nesse sentido partindo de Luciano Huck, João Doria, Ciro Gomes e do próprio presidente Jair Bolsonaro.” Ele conclui reafirmando que, além dos bons resultados em 2020, o DEM se mostra estratégico para 2022 porque consegue manter contato com diversas frentes políticas.Em Minas Gerais, o Democratas saltou de 53 prefeituras conquistadas em 2016 para 84 nas eleições deste ano, figurando, nesse quesito, como a terceira maior legenda. Também foram eleitos 786 vereadores nos municípios mineiros, sinalizando uma capilaridade no número de lideranças locais e regionais do partido no estado. Em 2018, o DEM elegeu o senador Rodrigo Pacheco por Minas Gerais, depois de ficar anos sem uma figura relevante na política estadual. Pacheco vem sendo cotado para disputar a presidência do Senado em fevereiro, após o Supremo Tribunal Federal barrar a tentativa de reeleição de Davi Alcolumbre (DEM-AM), atual comandante da câmara alta e fiador de Pacheco no pleito.
ENTREVISTA
ENTREVISTA
Rodrigo Pacheco, senador mineiro pelo DEM
Qual a leitura que o senador, como presidente estadual do DEM, faz do desempenho do partido nas eleições municipais de 2020?
"O desempenho foi muito positivo, inclusive, histórico para o partido com a eleição desse número representativo de prefeitos, vices e vereadores. Esse desempenho coloca o Democratas entre os grandes partidos de Minas Gerais e do Brasil, ao mesmo tempo que nos dá a oportunidade de colocarmos em prática nossos projetos voltados à geração de emprego e renda, tão importantes na atual conjuntura."
Com o bom resultado nacional, o DEM se legitima pra liderar o debate da centro-direita?
"O resultado das urnas mostrou que o eleitor está preocupado com os problemas reais dos municípios. Mais do que essa discussão sobre direita e esquerda, sobre esse radicalismo, o eleitor deixou clara a sua opção por candidaturas que transmitiram capacidade de gestão e de diálogo, com uma postura moderada e que realmente demonstraram capacidade de enfrentar os problemas. Diante disso, e a partir do resultado nas urnas, o Democratas está credenciado a participar ativamente de todas as discussões sobre o futuro do Estado e do país."
Em Minas, quais as expectativas do partido para as eleições de 2022?
"Nos últimos anos, estabelecemos como prioridade o trabalho nas bases. Ampliamos o número de filiados e atraímos um grande número de vereadores e prefeitos que optaram por deixar suas legendas e caminhar com o Democratas. E vamos continuar esse trabalho de fortalecimento do partido até 2022."
O senador enxerga lideranças no DEM que possam vir a ser competitivas numa disputa presidencial em 2022?
"Ainda é cedo para falar em nomes. É uma discussão que precisa ser feita no partido. O que acredito é que o partido não deverá dar espaço para radicalizações, para um projeto que caminhe para os extremos. O recado das urnas deixou isso bem claro. A população, que vem enfrentando uma série de problemas financeiros e de saúde, não está preocupada com essa discussão ideológica. Ela quer representantes que tenham um projeto claro de governo, com soluções objetivas e diálogo. Dentro disso, vejo o partido com diversos nomes, inclusive, o do seu próprio presidente, ACM Neto, que encerra seu ciclo na Prefeitura de Salvador muito bem-sucedido."
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz