Durante a posse dos vereadores de Belo Horizonte para os próximos quatro anos, nesta sexta-feira (01/01), Wesley Autoescola (Pros) foi parabenizar a parlamentar mais votada, mas citou Professora Marli (PP). Campeã de votos, com 37.613, Duda Salabert (PDT), que é transexual, foi ignorada por ele.
A declaração de Wesley ocorreu enquanto os eleitos se revezavam ao microfone do plenário. Depois, Duda chegou a protestar sobre o tema. Em entrevista, ela criticou a atitude do colega.
“Vim aqui para discutir política, projetos de emprego, renda, moradia e saúde para Belo Horizonte. Episódios transfóbicos, como o ocorrido aqui, a gente resolve fora da Câmara, indo à delegacia e fazendo denúncia para que ele seja preso, caso se configure, de fato, como transfobia”, disse.
A pedetista afirmou que, se o colega repetir atitudes do tipo, precisará acionar a polícia. “Costumo dar uma segunda chance a todo mundo. Caso ele repita isso — como sou professora, de forma pedagógica e educativa — entendo que terei de ir à delegacia cumprir meu papel de cidadã, para que ele seja responsável pelas consequências”, completou.
Citada por Wesley Autoescola, Professora Marli foi a terceira no ranking geral, com 14.496 votos, abaixo de Nikolas Ferreira (PRTB).
Duda fala em representatividade
Durante seu primeiro discurso como vereadora, Duda enalteceu a representatividade que carrega consigo. Ela celebrou a presença de uma transexual no poder Legislativo belo-horizontino.
“Faço parte de um grupo em que 90% estão na prostituição, pois foram expulsas do mercado de trabalho”, sustentou. “Faço parte de um grupo cuja humanidade é negada. Nem direito a banheiro, nome e identidade nos dão. O STF está há seis anos discutindo qual banheiro vou usar. Isso é humilhante”, continuou a parlamentar, que é evangélica, em outra parte da fala.
Vereador comemora derrota de pautas ‘ideológicas’
Wesley Autoescola, por sua vez, discursou comemorando o fato de a Câmara não ter aprovado, nos quatro anos que se passaram, projetos classificados por ele como “ideológicos”.
"Não posso ser criminalizado em expor um pensamento que tenho como verdade. Da mesma forma que, se eu falar daquilo que é verdade para mim e entender que isso é um crime de fobia, ela estaria sendo incriminada, talvez, por 'evangéliofobia', 'cristofobia' ou 'conservadorismofobia'", respondeu. A todo momento, Wesley fazia menções à pedetista por meio de termos masculinos.
Presidente da Frente Cristã da Câmara de BH, ele se diz conservador. "Sou evangélico desde o berço e filho de pastor. A bandeira que carrego é das ideologias conservadoras. Quero ter a Bíblia como minha regra de fé e prática. É algo de que a gente não consegue abrir mão”, falou, ao Estado de Minas, na série de entrevistas com os integrantes da nova composição do Parlamento.
Wesley foi um dos autores do requerimento que pedia aplausos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por suposta “atuação exemplar e valorosa” ante a pandemia do novo coronavírus.