Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA /HUMBERTO SOUTO

Aos 86 anos, prefeito retorna ao cargo e diz:''O Brasil tem jeito''

Existem pessoas que escondem a idade por acreditar que podem gerar impressão negativa. Não no caso de Humberto Souto (Cidadania), que acaba de assumir o segundo mandato na Prefeitura de Montes Claros, no Norte de Minas.



Aos 86 anos, Souto juntou sua longa experiência e suas realizações  no mote de campanha. “O velho é bom demais.” Com esse slogan, foi reeleito no primeiro turno, com 85% dos votos, em termos proporcionais, o segundo mais votado nas últimas eleições em todo o país, atrás apenas de Gustavo Mendanha (MDB), reeleito com 95,81% em Aparecida de Goiânia (GO).

Com mais de 50 anos de vida pública, Souto foi vereador, deputado estadual, deputado federal por sete  mandatos, vice-presidente da Câmara dos Deputados e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), que também presidiu.

À frente da prefeitura, eliminou o inchaço da folha de pagamento, com o fim das contratações de funcionários por indicações políticas.

Com isso, conseguiu a recuperação financeira do município e recursos para obras. O êxito do novo mandato, segundo ele, dependerá da economia do país e de novas medidas administrativas e fiscais.





O senhor venceu a eleição com 85,24% sem sair de casa, por causa da pandemia. Quais as razões dessa ampla vitória? 
Entre outras ações, destaco a honestidade, respeito ao dinheiro público, não praticar o clientelismo, respeitar o funcionalismo e a Câmara Municipal, admitindo a sua participação no governo e contribuindo com o desenvolvimento da cidade, com o único objetivo de trabalhar pelo coletivo; não tomar decisões que  não sejam exclusivamente em favor do bem da cidade e do seu povo. Além disso, tivemos um olhar especial para os bairros distantes e abandonados.

Que exemplo o senhor acha que Montes Claros dá para o Brasil neste momento?
Conseguimos mostrar que o Brasil tem jeito. 

O senhor reuniu na campanha, inclusive, antigos adversários. Como foi?
É simples. Foram apoios espontâneos, sem nenhum conchavo ou compromisso político. Todos os partidos que estiveram em minha campanha, todos os apoios que recebi foram em cima, exclusivamente, do interesse em ajudar Montes Claros. 

O que faltou no primeiro mandato e será feito no segundo?
Neste momento, estamos fazendo avaliação exatamente sobre essaquestão.

De que forma avalia a condução da pandemia em Montes Claros?
Desde março, iniciamos trabalho sério, tomando todas as medidas necessárias e possíveis à administração. Criamos um programa  de flexibilização, pois sabíamos que não poderíamos esquecer o lado econômico da cidade. 





Quais são os desafios para o seu segundo mandato?
Muitos. Vai depender do comportamento da economia, dos governos estadual e do federal e de medidas nas áreas administrativa e fiscal que conseguirmos implantar.

A sua idade chegou a ser usada por sua campanha com o slogan "O velho é bom demais". 
A preocupação não foi formar a minha imagem. Tive a preocupação com a “desmontagem” que os adversários iriam fazer sobre o meu trabalho. E uma dessas “desmontagens” seria a (minha) idade. Outras seriam relacionadas ao comportamento administrativo. Eu, então, apliquei uma vacina antes. Eu mesmo admiti minha idade. Só tem que eu era um velho bom demais. Então, ficou sem sentido atacarem a (minha) idade. Primeiro, porque a (minha) imagem já estava consolidada. Segundo, porque nós próprios admitimos a nossa idade. Então, desmoralizamos qualquer campanha em referência à idade. O que nos favoreceu foi a transformação moral, a transformaçao ética, a realização de quase duas centenas de obras. Foi o povo ter visto um prefeito trabalhando e tendo recursos para fazer as coisas. Peguei uma prefeitura endividada, paguei as dívidas, paguei funcionários em dia – uma folha de pagamento de quase R$ 40 milhões por mês. Então, as pessoas assistiram durante quatro anos ao trabalho. Não adiantava... É velho,  mas não é ladrão. É velho, mas é competente. É velho, mas faz – os outros não fizeram. Houve também a história da mudança no eleitor. Acabou o (mando do) chefe político e o presidente de (associação) de bairro. Hoje, você  trata as  coisas diretamente com o eleitor, com honestidade. Se na vida real não tem honestidade, não dá exemplo de caráter, não dá exemplo de seriedade e respeito à coisa pública, não adianta falar isso em véspera de eleição.

Qual o sentimento da vitória?
O sentimento é de gratidão. E de que é compensador praticar o bem. Vou continuar em casa até quando surgir a vacina. Tenho grande responsabilidade, que é administrar Montes Claros. Mas, há que ressaltar que, há algum tempo,  estamos administrando a cidade por videoconferência, por telefone, conversando com as pessoas diariamente, discutindo todos os assuntos normalmente.





Na gestão anterior, o senhor contou com o apoio unânime dos 23 vereadores. Na nova legislatura, foram empossados vereadores de partidos que não o apoiam. Qual será a sua relação com a nova legislatura da Câmara? 
Qualquer projeto que eu mandar para a Câmara não terá nenhum projeto pessoal. O meu interesse é só a cidade. Se o vereador estiver comprometido com o município, estará comigo. Se estiver comprometido em apenas fazer politicagem, o problema é dele. Não roubo nem deixo roubar. Se algum vereador notar alguma coisa errada, eu vou em cima para corrigir. Agora, não se iluda: se ele vier com politicagem, pedir para construir uma Lua ou construir uma outra coisa impossível, para fazer demagogia, isso já acabou. O povo não aceita mais isso. O povo quer ver a realidade. Vamos atuar com honestidade, lealdade e respeito ao Legislativo.

Há receio de agravamento da crise econômica em 2021. Como o senhor avalia esse cenário?
Temos que aguardar e trabalhar sem demagogia e sem comprometer o município. O que for possível  fazer, vamos fazer. O que não for possível, terá que ser explicado para o povo. Tem que  fazer as coisas conversando com o povo e com a Câmara.
 

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