A dentista Fernanda Costa, de 36 anos, filha do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, assumiu uma vaga como vereadora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Concorrendo pelo MDB na eleição de 2020, ela recebeu 3.999 votos e se tornou a primeira suplente do partido. Como o vereador Fernando Lélis foi nomeado pelo prefeito Washington Reis secretário municipal de Serviços Públicos, Fernanda ocupou sua vaga. Lélis e Reis são do mesmo partido da filha de Beira-Mar.
O pai da vereadora é o principal chefe da facção criminosa Comando Vermelho (CV). Condenado a mais de 300 anos de prisão por crimes como homicídio, tráfico de drogas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, ele está preso desde 2001. Atualmente, cumpre pena na penitenciária federal de Campo Grande (MS).
Investigação da Polícia Federal indicou que, mesmo de dentro do presídio, ele segue comandando o tráfico de drogas. Beira-Mar ainda domina as favelas Beira-Mar (onde começou sua atuação criminosa e que gerou seu apelido), Parque das Missões e Parque Boavista.
Um terço dos 3.999 votos que Fernanda obteve foram de eleitores que moram no Parque das Missões, onde ela somou 1.346 votos. A filha do traficante foi escolhida por 48,6% dos 2.769 eleitores da favela que foram às urnas na eleição passada.
Foi a segunda vez que a dentista concorreu ao cargo de vereadora em Duque de Caxias. Na eleição de 2016, ela concorreu pelo PP e não conseguiu se eleger nem ser alçada a suplente. Na ocasião, declarou ter bens avaliados em R$ 140 mil. Em 2020, ela declarou não ter patrimônio nenhum.
A filha de Beira-Mar não tem antecedentes criminais, segundo documentação apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não teve a candidatura impugnada pelo Ministério Público Eleitoral. Sua campanha recebeu R$ 110.759,16 em doações. Desse valor, R$ 100 mil foram entregues pelo diretório regional do MDB.
Fernanda é ré em um processo que tramita na Justiça Federal em Rondônia. Nele, responde pelo crime de organização criminosa. Segundo a acusação do Ministério Público Federal (MPF), a dentista exercia "papel político e social" na quadrilha do pai ao prestar serviços em favelas de Duque de Caxias. Como não foi condenada, pôde concorrer. Outros filhos e familiares de Beira-Mar são réus no mesmo processo.
O Estadão tentou entrar em contato com a vereadora ou seus representantes, mas não conseguiu, até a publicação desta reportagem.