Jornal Estado de Minas

Torcida brasileira

Mineiro e ex-ministro da Agricultura disputa Nobel da Paz

Depois de liderar na década de 70 o salto científico e tecnológico que colocou a agricultura tropical – particularmente o então inexplorado bioma do Cerrado brasileiro – no centro da produção de alimentos do planeta; aos 84 anos, Alysson Paulinelli, – também responsável naquela mesma época por lançar o embrião da produção cafeeira em Minas Gerais – comanda um novo ato.



Por meio do Projeto Biomas Tropicais em curso, projeta um modelo, – no qual, muito antes da produção agrícola, a ciência comanda o mapeamento dos biomas, desenvolve soluções tecnológicas adequadas, que podem ser replicadas para ampliar a produção sem desmatamento, emitindo menos gases de efeito estufa e também com inclusão social, garante Paulinelli.

Anuncia-se como “instrumento de libertação dos povos tropicais”, considera ele, afirmando que o Brasil poderá dobrar a produção de alimentos e ainda contribuir de forma decisiva para a mitigação ambiental do planeta, chegando em 2050 com uma safra de 620 milhões de toneladas necessária para atender as projeções de crescimento da população global.

É assim, com a cabeça em sonhos de futuro e com uma experiência passada que deu protagonismo à produção agrícola tropical – por quatro mil anos subestimada pela produção dominante de clima temperado – que Alysson Paulinelli, professor, engenheiro agrônomo, ex-secretário da Agricultura de Minas Gerais (1971-1974), ex-ministro da Agricultura (1974-1979), deputado federal constituinte (1987-1991) – recebe a indicação para o Prêmio Nobel da Paz de 2021.





Protocolada em 22 de janeiro junto ao Conselho Norueguês do Nobel (The Norwegian Nobel Committee) pelo Diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), Durval Dourado Neto, a indicação tem o apoio de 119 instituições brasileiras e internacionais, representando 24 países.

“A minha candidatura foi lançada na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Fico muito grato e muito acanhado, porque afinal é uma honra que não é minha, mas do Brasil” afirma Paulinelli, mineiro nascido em Bambuí, atualmente vivendo em sua fazenda no município de Baldim, onde a lavoura, a pecuária e a floresta são integradas no bioma do Cerrado para a produção de soja, milho, capim e criação de bois para engorda.

Até hoje, o único agrônomo a alcançar a honraria do Nobel da Paz, que é concedida em Oslo, capital da Noruega, foi o americano Norman Borlaug, em 1970: trabalhou na década de 60 como pesquisador agrícola no México, onde desenvolveu a variedade de trigo semianão de alto rendimento, resistente a doenças fúngicas, o que possibilitou que aquele país se tornasse um exportador líquido em 1963.



Borlaug introduziu variedades de alto rendimento e técnicas modernas de produção agrícola também no Paquistão e na Índia, permitindo que entre 1965 e 1970, a produção de trigo quase dobrasse, o que foi chamado à época de Revolução Verde.

Em visita ao Brasil, na década de 70, a convite do então ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli, Norman Borlaug declarou, ao constatar os resultados que este alcançara no bioma do Cerrado: “O Cerrado brasileiro está sendo palco da segunda ‘Revolução Verde’ da humanidade. Os pesquisadores brasileiros desenvolveram técnicas que há 20 anos tornaram uma área improdutiva na maior reserva de alimentos do mundo. Quero levar essas técnicas para a África”.

Tecnologia


Paulinelli chegou ao Ministério da Agricultura após passar pela Secretaria de Estado da Agricultura de Minas Gerais. “Fui convidado para o Ministério da Agricultura pelo trabalho que desenvolvi no Cerrado de Minas”, relata, lembrando que enfrentou o então ministro Delfim Netto que, para evitar a explosão da oferta da produção de café, pretendia limitar Minas Gerais ao plantio de 50 mil covas ao ano.



“Com o apoio do Ministério da Fazenda, conseguimos financiamentos pela Caixa Econômica Federal aos agricultores. Em cinco anos, foram plantadas em Minas 952 milhões de covas de café no nosso Cerrado, o que transformou o estado no maior produtor de café do país, com muita técnica e qualidade”, afirma, lembrando que a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) e as universidades de Lavras e de Viçosa se uniram para desenvolver a inédita tecnologia do café.

“Tudo isso aconteceu e eu saí de Minas para o ministério, tendo a ciência como prioridade e o foco no cerrado, sempre”, revela.

Terra mais antiga do mundo, lixiviada por chuvas intensas, a área degradada do Cerrado brasileiro foi recuperada com muita tecnologia, conta Paulinelli.

“Recompomos biologicamente o Cerrado”, afirma, citando o emprego de diversas técnicas, entre elas, a plantação integrada ora de cultura ora de pastagem, mantendo um tratamento adequado que mantivesse o solo protegido, permitindo a recuperação biológica.

“Criamos uma agricultura tropical altamente sustentável, num momento em que havia a preocupação no mundo da escassez de alimentos com a exaustão das terras das áreas temperadas do planeta. Foi o Brasil que rompeu a grande barreira criando pela primeira vez a agricultura tropical sustentada. A fertilidade explodiu e hoje temos o nosso Cerrado que, com tecnologia, tornou-se das áreas mais competitivas do mundo”, afirma.








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