Jornal Estado de Minas

PLANALTO

Os sinais de Bolsonaro para o Congresso e para seu eleitorado

Economia, reeleição e sinais para a própria base de eleitores estão no cálculo do presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua relação com o Congresso. Após dois anos de ataques e até de apoio a manifestações antidemocráticas que pregavam o fechamento das casas legislativas, adversários e até apoiadores se questionam o quanto deverá durar a lua de mel com o Parlamento.



Com apadrinhados nas presidências da Câmara e do Senado, a tendência é que o relacionamento siga por caminhos diferentes do que o chefe do Executivo escolheu durante a presidência de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na primeira semana de fevereiro, em encontro com os dois novos presidentes da Câmara e do Senado, Jair Bolsonaro entregou uma lista com 35 matérias consideradas importantes. Desse total, 25 eram pautas econômicas.

O documento entregue pelo chefe do Executivo a Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) dá dicas sobre como deve caminhar o relacionamento. Em primeiro lugar, manda um sinal para deputados e senadores, o governo deve dar uma atenção especial a temas econômicos no próximo período. Outras 10 pautas são ideológicas. Esse é o sinal para os eleitores. A mensagem é que o chefe do Executivo continuará o mesmo. O sinal é importante, pois as circunstâncias políticas para uma reeleição serão muito diferentes das de 2018.

Para o analista político da Consultoria Dharma, Creomar de Souza, uma variável no relacionamento é que os presidentes da Câmara e do Senado precisarão de estabilidade e compromisso para tocar a agenda. Isso coloca os presidentes entre Bolsonaro e os parlamentares em uma Câmara que sai dividida das eleições.



Ajustes finos nas negociações

“A segunda parte tem a ver com a relação da Câmara com o Executivo. Na lógica de acordo e compromisso, o Executivo se comprometeu com os parlamentares e os parlamentares se comprometeram com o Executivo. Temos que ver o quanto o acordo dura, ou o quanto terá que ser renovado. O governo vai decidir no varejo, a cada votação? Com o tempo, é preciso ajustes finos no acordo. E o governo vai ter que compatibilizar suas necessidades, os ajustes, e a voracidade dos aliados do por benefícios. O governo vai dar com uma mão, esperando com a outra”, explica.

Bolsonaro não deverá ignorar que depende cada vez mais do Centrão para sobreviver e construir a reeleição. Isso porque os deputados sempre têm a opção de se desvincular do governo. “Tem que alimentar do ponto de vista relacional, essa base, cotidianamente, de meios e instrumentos, para que sejam capazes de ter o que mostrar nas bases para não sofrerem pressão por apoiar o governo. E quando você joga a pandemia, é ainda mais complexo, pois é preciso dar respostas rápidas. Até onde eles vão, dependem do governo”, reflete.

Busca por um antagonista

Para o cientista político, outra dificuldade será a busca de Bolsonaro por antagonistas. “Bolsonaro conseguiu o que nunca teve, mas sempre precisou. Ele conseguiu uma base para tocar as agendas. Mas faz política antagonizando. Não faz política compondo. O Maia foi um antagonista a contragosto. Dória foi o antagonista da vacinação, que já está acontecendo. Bolsonaro vai antagonizar com quem? Com a mídia? É o suficiente? Talvez não", comenta.

"À medida que alguma agenda não avance, há sempre o risco de Bolsonaro partir para o confronto com a liderança no Congresso. Não quer dizer que Lira vá ter a mesma postura que (Eduardo) Cunha. Mas se o governo for lento, tem grandes chances de sofrer surpresas com votações importantes, inclusive pautas que firam a relação do presidente com o eleitor base", alerta.




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