A escolha da senadora Kátia Abreu (PP-TO) para o comando da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) no Senado já preocupa o governo. Candidata à vice na chapa liderada por Ciro Gomes (PDT) nas eleições presidenciais de 2018 e amiga da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a senadora afirma não haver motivo para esse "temor" da ala governista.
"Presidência de comissão não é espaço para fazer oposição. Há espaços institucionais para isso", disse a senadora, em entrevista exclusiva ao Broadcast Político/Estadão. "Os Poderes Executivo e Legislativo devem conviver com independência e harmonia e assim o faremos. Se meus colegas e meu partido me indicaram, e se estou sendo muito bem recebida, é porque confiam na minha performance."
Apesar da posição moderada, Kátia Abreu defende aproximação entre Brasil e China, país que é um dos principais alvos da ala ideológica do governo e que tem, no ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um de seus expoentes. Ela ainda precisa ser formalmente eleita pelos senadores, mas há acordo em torno de seu nome. À frente da comissão, será formalmente responsável pela aprovação de diplomatas indicados pelo governo para embaixadas no exterior, mas quer que o trabalho vá além dessa atribuição - entre elas discussões sobre Defesa, também no rol de assuntos da comissão.
"Uma das atribuições da comissão é a defesa nacional. O ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) já pediu a mim um encontro com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e eu me coloquei prontamente à disposição para discutir e aprender", afirmou.
A parlamentar destaca a necessidade de uma aproximação entre Brasil e China, que é um dos principais parceiros comerciais do País e maior produtor de insumos e vacinas para a covid-19. Kátia Abreu elogiou a missão internacional do 5G, liderada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. A comitiva visitou países europeus e está na Ásia para conhecer fornecedores locais. "Temos que decidir o que for melhor para o Brasil no 5G, sem preconceitos e ideologia."
"A China é muito importante para o agronegócio, mas lidera também o comércio eletrônico. Temos muito a aprender com eles. Precisamos de uma legislação sobre esse tema e podemos ser protagonistas. O comércio eletrônico não pode ocorrer sem regras, de forma informal, com todo mundo sendo engolido e perdendo mercado", disse.
Ela defende uma aproximação do Senado com o parlamento europeu, para destravar o acordo entre Mercosul e União Europeia. "Esse acordo precisa ser resgatado. O governo está se empenhando, mas o Congresso pode ajudar atuando junto ao parlamento europeu", afirmou.
A senadora também quer levantar discussões sobre barreiras sanitárias no comércio internacional, que impedem produtos brasileiros de entrar em alguns países. "O Brasil tem todas as condições de liderar uma discussão sobre a questão sanitária sob o ponto de vista internacional. Isso não pode ser usado como barreira, nem por nós nem por ninguém. No Congresso, podemos uniformizar normas, procedimentos e linguagem", disse.
Agronegócio
Produtora rural, a senadora reconhece que o Brasil ainda é considerado um país fechado em termos comerciais e que também deve fazer concessões, inclusive no agronegócio. Segundo ela, a corrente comercial representa 25% do PIB. "Precisamos almejar 40% em cinco ou dez anos, e o Congresso pode contribuir nessa discussão", afirmou.
Na avaliação dela, o Brasil pode excluir três ou quatro produtos mais sensíveis em acordos comerciais, mas precisa rever, por exemplo, as taxas sobre café importado. "Somos os maiores produtores e exportadores, mas impomos uma taxa tão grande que torna inviável trazer alguns cafés especiais para uma mistura do tipo blend. Isso precisa ser superado", disse.
Outra bandeira defendida pela senadora é o fortalecimento do orçamento do Itamaraty, reduzido ano a ano. "Precisamos de uma diplomacia que tenha foco e possa negociar de igual para igual. Precisamos fortalecer nosso time no exterior", afirmou.
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