O deputado estadual Gustavo Valadares (PSDB) assumiu, na última quinta-feira (18/02), a liderança do governo Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Conhecido por muitos parlamentares por seu trabalho nos bastidores, Valadares tem a missão de traçar os novos rumos do bloco de governista na Casa.
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o deputado disse que recebeu a indicação do governador ciente dos desafios que terá pela frente. Também destacou como positiva a volta do PSDB à liderança do governo no Legislativo. Valadares substitui o colega Raul Belém (PSC), que estava no cargo desde junho do ano passado.
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o deputado disse que recebeu a indicação do governador ciente dos desafios que terá pela frente. Também destacou como positiva a volta do PSDB à liderança do governo no Legislativo. Valadares substitui o colega Raul Belém (PSC), que estava no cargo desde junho do ano passado.
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Haddad sobre Kalil: 'Se não conversarmos, não vamos ter país para governar'Deputado acusado de importunação sexual contra Isa Pinheiro é interrogadoEle explica que não é segredo para ninguém que a falta de uma base com maioria no Parlamento traz dificuldades e requer um trabalho cada vez mais alinhado. “Temos a tarefa de dialogar cada vez mais não só com os deputados deste grupo, mas também com os da oposição que, aliás, é preciso reconhecer, tem feito uma oposição consciente”, completa.
De fevereiro de 2019 a março de 2020, a liderança de Zema esteve nas mãos do PSDB, mas por meio de Luiz Humberto Carneiro. Belém, que deixou a chefia das articulações do governo na Assembleia, passa a comandar o bloco governista, composto por 21 parlamentares, de sete partidos.
“A liderança de Governo não pertence a um partido ou outro, a liderança de Governo é vocacionada para o entendimento e isso só se faz se tiver essa consciência”, afirma.
Aos 43 anos, Valadares é bacharel em Direito e empresário. Ele está no quinto mandato como deputado estadual. Em 2008, foi candidato a prefeito de Belo Horizonte pelo DEM. Questionado sobre seu trabalho nos bastidores do bloco, o deputado declarou que o trabalho de líder precisa ser “em grupo”.
“Nosso trabalho precisa ser de grupo, não só pelas dificuldades já elencadas, como também pela maneira como enxergamos que deve ser: com muito diálogo, transparência e unidade. Essa inversão que se deu agora entre mim e o deputado Raul Belém, agora líder do bloco, não muda a nossa atuação. Eu e Raul mudamos de posição, mas vamos continuar trabalhando juntos pela aprovação das pautas importantes para o estado, na Assembleia”, declarou.
Sem a maioria, mas com prioridades
Questionado sobre uma possível venda da Cemig e Copasa, que é uma das propostas de Zema desde a campanha eleitoral, o deputado pontuou a vontade do bloco na Casa e citou o acordo com a mineradora Vale. O governo trabalha para que o Legislativo referende o acordo de R$ 37,68 bilhões firmado com a Vale em compensações pelas perdas ocorridas com tragédia de Brumadinho, em 2019.
“Um governo que não tem maioria precisa ter prioridades. A venda dessas empresas é, sim, um desejo do governo Zema e é preciso aprovação de PEC, que requer maioria de 48 votos em plenário. Temos já nos próximos dias o início da discussão da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal do governo fenderal e o projeto do acordo da Vale.”, explica.
“Dos R$ 37,68 bilhões a serem pagos pela mineradora à sociedade mineira como medida de reparação pela tragédia, R$ 3 bilhões estão destinados a ações definidas pelos moradores locais. O acordo prevê audiências públicas no Parlamento”, completa.
“Dos R$ 37,68 bilhões a serem pagos pela mineradora à sociedade mineira como medida de reparação pela tragédia, R$ 3 bilhões estão destinados a ações definidas pelos moradores locais. O acordo prevê audiências públicas no Parlamento”, completa.
Confira a entrevista na íntegra:
Como o sr. recebeu a indicação para assumir a liderança do governo Zema no Legislativo? Como se deu esse processo até ter o nome do sr. confirmado?
A escolha do líder do Governo é do governador. Recebi essa indicação ciente dos desafios que temos com um governo que não tem maioria na Casa e elegeu três deputados do partido Novo. Não é segredo pra ninguém que a falta de uma base com maioria no Parlamento traz dificuldades e requer que façamos um trabalho cada vez mais alinhado. Trabalho que vem dando resultados: além da aprovação de 100% dos projetos do Governo, conseguimos ampliar, nesta legislatura, a base de cinco para sete partidos. Somos hoje 21, éramos 17. Por outro lado, os blocos independentes se uniram e hoje são 39. Temos a tarefa de dialogar cada vez mais não só com os deputados deste grupo, mas também com os da oposição que, aliás, é preciso reconhecer, tem feito uma oposição consciente. É necessário e justo destacar, ainda, o nosso presidente Agostinho Patrus que rege o Legislativo com equilíbrio e independência essencial aos poderes, e com um objetivo em comum: a melhoria de vida dos mineiros.
O sr. percebia que, por muitas vezes, fazia a função de líder do governo na Assembleia mesmo que ainda não fosse sua função?
Isso não existe. Não há entre nós, embora tenhamos plena noção das funções, essa separação. Como eu disse, nosso trabalho precisa ser de grupo, não só pelas dificuldades já elencadas, como também pela maneira como enxergamos que deva ser: com muito diálogo, transparência e unidade. Essa inversão que se deu agora entre mim e o deputado Raul Belém, agora líder do bloco, não muda a nossa atuação. Eu e Raul mudamos de postos, mas vamos continuar trabalhando juntos pela aprovação das pautas importantes para o estado, na Assembleia.
A quais fatores o senhor atribui o crescimento do bloco de governo, que agora passa a ter 21 deputados de sete partidos?
O Parlamento tem uma dinâmica própria e vejo hoje também um governo mais maduro, extremamente bem-intencionado e com bons resultados nas mais diversas áreas. E digo isso tendo como pressuposto uma gestão que pegou um Estado em frangalhos, e enfrentou também tragédias como a de Brumadinho e agora essa terrível pandemia. A relação com a Assembleia que no início era bem difícil, melhorou bastante.
O que levou o PSDB a voltar à liderança? Um ano atrás, teve uma mudança drástica que acabou com o deputado Luiz Humberto Carneiro entregando o cargo.
"Esse foi um momento muito difícil, que por um outro lado acabou contribuindo também para essa maturidade do Governo que citei. Ainda precisa evoluir? Sempre é possível e necessário. O PSDB tem a maior bancada do bloco, é uma legenda que conhece Minas e logo após a eleição do atual governo deixou pra trás as diferenças e voltou pro seu lugar de defesa do nosso Estado. Este não é um mérito exclusivo do PSDB. Aliás, temos, como em muitos outros partidos, bons quadros, bons nomes e, claro, também avanços e melhorias a fazer. Mas a liderança de Governo não pertence a um partido ou outro, a liderança de Governo é vocacionada para o entendimento e isso só se faz se tiver essa consciência. Importante também ressaltar as expressivas contribuições dadas pelo nosso parceiro querido por todos, conciliador, competente, que é o deputado Luiz Humberto. Também pelos ex-secretários de governo Custódio Mattos e Bilac Pinto, que contribuíram muito não só nos avanços para Minas como também ajudaram a sedimentar o caminho para o secretário Igor Eto, que com suas características pessoais e de gestão tem feito um trabalho exitoso na secretaria de Governo."
O secretário de Estado de Planejamento e Gestão, Otto Levy, com importante papel na busca por soluções para a crise financeira, enfrentou turbulências recentes na relação com a ALMG. O presidente da Casa, Agostinho Patrus, o chamou até mesmo de "fake news". Pensa que pode ajudar a melhorar essa relação?
Essa já é uma questão superada entre os envolvidos, no meu entender. Mas ampliar as conversas, os entendimentos, entre o Executivo e o Legislativo é tarefa permanente. Essa sinergia é fundamental.
O governo trabalha com a hipótese de vender Cemig e Copasa?
Um governo que não tem maioria precisa ter prioridades. A venda dessas empresas é, sim, um desejo do governo Zema e é preciso aprovação de PEC, que requer maioria de 48 votos em plenário. Temos já nos próximos dias o início da discussão da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal; o projeto do Acordo da Vale, o maior conjunto de reparação da América Latina, dentro do qual iremos debater o maior programa de orçamento participativo do mundo. Dos R$ 37,68 bilhões a serem pagos pela mineradora à sociedade mineira como medida de reparação pela tragédia, R$ 3 bilhões estão destinados a ações definidas pelos moradores locais. O acordo prevê audiências públicas no Parlamento
Em 2018, o governo de Fernando Pimentel (PT) conseguiu aprovar a venda de 49% da Codemig. Depois, veio a antecipação dos recebíveis. Apesar disso, nenhuma das operações autorizadas se concretizou. Como convencer os deputados que a eventual venda de 100% das ações vai sair do papel?
Já há uma clara sinalização do interesse do BNDES, como a própria imprensa vem divulgando. Estamos falando de mais de R$ 30 bilhões. Essa é uma discussão simples? Claro que não. Mas é necessária e vamos enfrentá-la, no que depender do bloco de Governo, neste primeiro semestre.
No ano passado, o senhor fez críticas públicas ao governo. Disse que aquele imbróglio em torno do reajuste das forças de segurança era o "início do fim". Menos de um ano depois, assume a liderança de governo. O que mudou de lá para cá? A relação entre Zema e PSDB melhorou?
Eu tenho mesmo esse jeito de falar o que penso, e encontro esse entendimento e valor por parte do governo. Há respeito e confiança. Em relação ao momento citado, acho que o Executivo e todos nós poderíamos ter feito diferente, serviu de amadurecimento. E, sinceramente, o passado serve de aprendizado, não de ponto de partida. Nossa bússola é Minas. Aproveito para agradecer a confiança do Governo, dos meus pares, a confiança dos integrantes do nosso bloco. Nosso Estado não pode esperar nem mais um minuto. Temos uma terrível pandemia que destrói famílias inteiras e causou um tsunami na economia mundial, muitos desempregados e a ampliação das desigualdades sociais. Temos um estado endividado e ainda muito dependente das commodities. Ou seja, mãos à obra.