Ex-ministro da Educação e candidato derrotado no segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Fernando Haddad (PT) inicia, por Minas Gerais, uma série de viagens pelo Brasil. A ideia é apresentar o Plano de Reconstrução Nacional traçado pelo partido e discutir, inclusive com lideranças de outras legendas, a construção de uma alternativa ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, ele demonstra temor com gestos vindos do presidente. “Ele é uma pessoa muito instável, psicologicamente falando, e perigosa”, diz. Leia íntegra da conversa ao fim deste texto.
Nesta quinta-feira (25/02), Haddad se reúne com Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte. Ele admite a necessidade de dialogar com os que se opõem às pautas bolsonaristas e evita projetar os cenários para 2022, mas ressalta que os petistas têm quadros para assumir a liderança de chapas presidenciais e estaduais.
O presidenciável diz que há nomes para disputar o governo mineiro no próximo ano, mas não descarta alianças. O PDT, de Ciro Gomes, já se mostrou disposto a apoiar uma coalizão encabeçada por Kalil. Para a formalização de coligações, os petistas desejam alinhamento de ideias.
“Não fazemos análise de popularidade. Fazemos análise de compromisso social. Não sei quais são os compromissos que aqueles que estão se colocando vão fazer em nome de um Brasil mais justo”, diz o ex-ministro da Educação. “Se não conversarmos entre nós, relevando as diferenças para colocar em primeiro lugar o interesse nacional, não vamos ter país para governar em 2022”, defende.
Em Minas Gerais, o PT vem de três fortes baques: em 2018, Fernando Pimentel parou no primeiro turno e não conseguiu ser reeleito governador, enquanto Dilma Rousseff, ao contrário do que indicavam todas as pesquisas, perdeu a vaga no Senado Federal. No ano passado, Nilmário Miranda, outro histórico quadro do partido, amargou a sexta colocação na eleição belo-horizontina, com apenas 1,88% dos votos válidos. Apesar dos tropeços, Haddad crê em tempos melhores.
Ao sair em defesa de Pimentel, o ex-prefeito de São Paulo recorre a tópicos como a contestação do resultado da eleição de 2014 por parte de Aécio Neves (PSDB). “Ele foi vítima dessa sabotagem e foi muito difícil a vida dele, inclusive pela herança que recebeu do (Antonio) Anastasia. Não foi fácil a vida dele, mas foi um grande prefeito e é a mesma pessoa. Estamos falando da mesma pessoa”.
Para o pleito presidencial, o plano é pensar, de antemão, em eventual segundo turno, para contrapor a agenda bolsonarista. A ideia é que o primeiro turno gire em torno de discussões sobre os problemas da atual gestão. “O governo Bolsonaro representa um risco à democracia, à saúde pública, à educação de crianças e jovens, ao meio ambiente e um isolamento internacional do Brasil, que já não têm mais parceiros no exterior. Ele conseguiu só fazer adversários no mundo inteiro”, opina.
Haddad se esquiva sobre uma possível participação de Lula na próxima disputa pelo Executivo nacional. Embora esteja em liberdade, o líder do PT ainda é considerado inelegível. Ministro durante grande parte era lulista, ele garante que todas as instâncias serão utilizadas para provar a inocência do ex-presidente. “Temos que despolitizar a Justiça, defender a Justiça para todo e qualquer cidadão, independentemente de concordar com ele ou não”, sustenta. Confira a seguir, trechos da entrevista.
Como surgiu a ideia de se reunir com o prefeito Alexandre Kalil? De quem foi a iniciativa?
O que estamos procurando fazer é divulgar o plano de reconstrução nacional que tem um conjunto de ideias que queremos submeter a pessoas que, na nossa opinião, tem uma contribuição para o país em resposta ao que Bolsonaro está fazendo. Acho muito grave o que o Bolsonaro está fazendo, esta semana mesmo nós podemos estar diante de uma tragédia, que é a aprovação de uma emenda constitucional preparada pelo (Paulo) Guedes.
Simplesmente acaba com os direitos sociais, subordina os direitos sociais a uma cláusula nova na constituição e, na prática, retira recursos da saúde, da educação, da assistência, da cultura e da ciência. Praticamente acaba com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), porque acaba com o financiamento do maior banco de fomento da história do Brasil.
O BNDES está na raiz das grandes empresas e das pequenas, que se tornaram médias. Toda empresa que cresceu no Brasil teve, de alguma maneira, apoio do BNDES. E ele simplesmente corta o canal de comunicação do governo com o BNDES e asfixia o banco. Estamos diante de uma situação em que vamos ver a privatização selvagem das empresas pela metade do preço, como aconteceu com a refinaria da Bahia (da Petrobras), já sob investigação do Tribunal de Contas da União.
É uma situação muito grave. Bolsonaro está vindo para cima do que garante a Constituição de 1988: o bem-estar da população. Se não conversarmos entre nós, relevando as diferenças para colocar em primeiro lugar o interesse nacional, não vamos ter país para governar em 2022. Porque o desmonte é muito grande.
Onde quer que eu vá, e estou começando por Minas, vou conversar, obviamente, que com os petistas, com o campo progressista — que são os partidos historicamente caminharam juntos até aqui — mas também tenho que conversar com quem pensa um pouco diferente de mim, mas discorda do que o Bolsonaro está fazendo. O objetivo é conversar com os próximos e com os não tão próximos, mas que discordam do governo Bolsonaro.
Nesta semana, a O Globo, Kalil disse ser avesso a quem rouba Petrobras e a quem não quer vacina no Brasil. O senhor endossa essa fala dele?
Todos nós concordamos. Quem rouba não pode nem fazer parte da política, desde que você nomeie a pessoa. Porque todos os partidos políticos enfrentaram investigações, que são corretas, e algumas pessoas foram perseguidas indevidamente por aqueles que tinham um projeto político de chegar ao poder.
Desde que se faça a distinção — e isso vale para o para PSD, PT, PSDB, e todos os outros. Todo mundo do PSD, por exemplo, que cometeu irregularidades, tenho certeza que o Kalil também não concorda, assim como eu não concordo com irregularidades de qualquer natureza. Pode ser do meu partido, da minha família, da minha igreja, do meu time de futebol.
Não é por proximidade e amizade que vou deixar de defender a aplicação da lei. Pode ser meu filho, meu sobrinho ou quem for: lei é para ser cumprida. Mas temos de ter coragem de apontar para as pessoas que cometeram equívocos, indistintamente. Infelizmente, também no PSD, no PT, no PSDB, no MDB e na família Bolsonaro, que está cheia de complicações gravíssimas.
Um patrimônio imobiliário acumulado ao longo de 20 anos completamente incompatível com salário de deputado, dinheiro em milícia depositado na conta de parentes. Isso tudo tem que ser investigado.
Nosso maior drama hoje é a vacinação. O atraso do governo em buscar solução para a pandemia, combatendo a máscara, isolamento social, o distanciamento, fazendo pouco da vacina, dizendo que não era solução para o problema e agora tendo que correr atrás do prejuízo depois de 250 mil óbitos. Esse é um grande problema do Brasil. Estou de acordo se a gente tiver coragem de falar a verdade para o povo. Falando a verdade, a gente vai construir um país melhor.
O senhor vislumbra o PT liderando chapa em 2022 para o governo de Minas? Uma coalizão com Kalil pode ocorrer?
Temos muito tempo pela frente. Penso que o PT tem condição de lançar candidato próprio. Já teve vários candidatos no Brasil inteiro, gere quatro estados com governadores excepcionais, tem quadros em Minas Gerais e no Brasil.
Vamos analisar, caso a caso, os estados em que temos condição de liderar chapa, e onde, dependendo dos compromissos firmados pelos que pretendem nosso apoio, podemos compor. Vai ser uma análise criteriosa, que dependerá muito mais de compromissos assumidos pelos que pretendem nosso apoio do que propriamente pela popularidade.
Não fazemos análise de popularidade; fazemos análise de compromisso social. Não sei quais são os compromissos que aqueles que estão se colocando (na disputa) vão fazer em nome de um Brasil mais justo.
Mas é cedo, então, para pensar em apoio a Kalil?
Tudo depende dos compromissos. Primeiro: a viabilidade de um candidato do PT. Segundo: se nós formos apoiar alguém, e já apoiamos várias pessoas em 2020, como o prefeito de Belém, Edmilson (Rodrigues) e Manuela (D’Ávila), em Porto Alegre.
Tentamos apoiar o (Marcelo) Freixo no Rio de Janeiro, mas não foi possível fazer uma frente. Apoiamos no segundo turno vários candidatos que não eram nem de esquerda para evitar um mal maior, como era o caso do Rio, em que derrotamos o (Marcelo) Crivella. Trabalhamos para oferecer ao país melhores condições de governabilidade. Isso dependeu de compromissos; não adianta falar de nomes sem falar no que a pessoa vai defender.
Isso é o que precisamos entender primeiro. Porque às vezes a pessoa é até simpática, mas se ela não tem um posicionamento político, a simpatia não vai encher a barriga do brasileiro. Queremos saber de que lado a pessoa está, antes de mais nada.
O PT vai liderar uma chapa na eleição presidencial de 2022? Suas viagens pelo país, iniciadas por Minas, são um prelúdio disso?
Essa é uma eleição diferente, em que temos de colocar o segundo turno na ordem do dia. Em geral, no Brasil, se deixava para pensar o segundo turno depois do primeiro. E hoje não dá para ser assim. As ameaças que pairam sobre o Brasil são muito sérias, o governo Bolsonaro representa um risco à democracia, à saúde pública, à educação de crianças e jovens, ao meio ambiente e um isolamento internacional do Brasil, que já não têm mais parceiros no exterior.
Ele conseguiu só fazer adversários no mundo inteiro, a começar pelos nossos vizinhos, pelos Estados Unidos, pela Europa e pela China. Temos que trabalhar, já, um segundo turno que coloque em xeque o projeto de desmonte que Bolsonaro representa. Isso tem que estar na ordem das prioridades. O primeiro turno vai se organizar a partir dessa compreensão, que existe uma ameaça maior no país: o bolsonarismo.
Existe processo para, em 2022, superar o antipetismo por meio de uma disputa com o antibolsonarismo? Há como 'puxar' esse sentimento para o campo progressista?
Um certo antipetismo existe desde a fundação do PT, e parte da elite financeira. O PT nem era governo e os bancos já eram antipetistas. isso vai permanecer porque eles não querem que o povo chegue aos direitos que estão na Constituição. Fizeram campanha para (Fernando) Collor, Fernando Henrique (Cardoso), Temer, Bolsonaro, e eles vão querer qualquer coisa que não seja o PT.
Agora, existe um antipetismo que foi produto da desinformação e da má fé de alguns órgãos de comunicação. Esse, vamos superar, trazendo à luz a verdade do que aconteceu. Isso tende a diminuir, e penso que o antibolsonarismo é muito forte hoje. Existe uma camada enorme da população brasileira que não aceita os termos que o Bolsonaro coloca ao país, essa guerra que ele está querendo deflagrar.
Está preparando até uma guerra civil, dependendo do resultado eleitoral de 2022. Está armando as milícias do país, como aconteceu na Bolívia. A bandidagem está comprando armas graças aos decretos de liberação de armas do Bolsonaro. Ele é uma pessoa muito instável, psicologicamente falando, e perigosa.
Duas figuras de renome no PT mineiro, Fernando Pimentel e Nilmário Miranda sequer foram para o segundo turno em recentes eleições. Como o senhor enxerga a rejeição nas urnas em Minas e em BH? E sobre Dilma Rousseff? Ela ainda tem espaço no jogo político?
Assim como está acontecendo com outros fatos, a verdade vai aparecendo lentamente. Às vezes, ela tarda a chegar, mas é inevitável. Ninguém vai conseguir fazer com que a verdade não seja restabelecida, porque o tempo vai trazê-la à tona. Vamos, com muita perseverança, restabelecer a verdade no país.
Conheci o Fernando (Pimentel) na condição de ministro da Educação, e ele era um dos prefeitos mais bem avaliados do Brasil, se não fosse o mais bem avaliado, tanto é que foi reeleito com votação muito expressiva. Transformou Belo Horizonte para melhor. Pegou um tempo muito ruim. Ele foi eleito (governador) em 2014, quando o golpe planejado pelo Aécio (Neves) começou, sabotando o país.
Ele foi vítima dessa sabotagem e foi muito difícil a vida dele, inclusive pela herança que recebeu do (Antonio) Anastasia. Não foi fácil a vida dele, mas foi um grande prefeito e é a mesma pessoa. Estamos falando da mesma pessoa. A verdade também vai ser restabelecida em toda sua amplitude. Temos que ter perseverança.
Não podemos deixar de trabalhar a opinião pública para que chegue a melhor informação sobre o que, de fato, aconteceu no Brasil. Quando a verdade for revelada, essas coisas todas mudam de patamar, para melhor. Pois a verdade sempre ajuda, e ela vai ser restabelecida.
O senhor é candidato? Como em 2018, o PT vai bancar a candidatura de Lula até o último momento?
As pessoas, às vezes, e o jornalismo em particular, fazem essa confusão entre essas duas coisas que, na minha opinião, não deveriam estar conjugadas dessa maneira, e eu explico. O que estamos defendendo desde que a perseguição do Moro ao Lula começou, e agora com provas, definitivas, de que ele era um líder da acusação e não o juiz.
Uma das mensagens que a Polícia Federal divulgou é de um procurador dizendo: ‘Não dá para pegar o Lula com o triplex e com o sítio, temos que ir para cima da família dele’. Era uma caçada, e não um inquérito ou um processo. Hoje, isso está absolutamente claro para todos os juristas do Brasil.
Não podemos confundir política com Justiça. Temos que despolitizar a Justiça, defender a Justiça para todo e qualquer cidadão, independentemente de concordar com ele ou não. Isso é uma coisa. A outra coisa é o PT, no seu direito, tendo governado o país por três mandatos consecutivos e entregue um legado extraordinário, inclusive na área da educação, que tive a honra de liderar (...) De repente misturar estações e politizar um julgamento que tem que ser absolutamente imparcial não pode.
O Exército não pode pressionar a Justiça. Os meios de comunicação não podem pressionar a Justiça, assim como nós não podemos pressionar a Justiça, a não ser para fazer justiça. A única pressão cabível é que se faça justiça; é para isso que o contribuinte sustenta o Poder Judiciário. Não é para fazer política, é para fazer justiça. Não vamos misturar as duas coisas.
E, na defesa de quem nós consideramos que não há nada, nenhuma prova — contra o presidente Lula — vamos até o final. É outra questão. Se é 2018, 2022 ou se o PT vai ter candidato, quem vai ser, é outra discussão, mas não vamos misturar as duas coisas, Caso contrário, não vamos resgatar a dignidade da Justiça e do Poder Judiciário no Brasil. Isso vale para todo mundo.
Há vários ex-governadores do PSDB, sete, respondendo na Justiça. Posso torcer para que um deles seja condenado só por ser adversário do PT? Torço para que ele pague se errou e seja absolvido se não errou. Isso vale para todo mundo. A família Bolsonaro está toda enrolada. Na minha opinião, têm direito de defesa. Se conseguirem provar que o patrimônio milionário que acumularam tem fonte e origem lícita, bom proveito.
Se ficar provado que desviaram verba das milícias para se apropriar, têm que ir presos. Vale para todo mundo, não é política isso aqui. Isso é fazer uma pessoa que errou pagar, e uma pessoa inocente ter os seus direitos assegurados, seja de que partido for. Não vamos mais misturar política com partido. Isso é ruim para o Brasil.
O senhor perdeu para Bolsonaro em 2018. As viagens pelo Brasil configuram uma correção da estratégia utilizada no pleito passado?
Tenho uma opinião diferente sobre 2018. Em condições normais, ganharíamos a eleição. É que houve quase um complô para eleger o Bolsonaro, sobretudo do mercado financeiro e daqueles que financiaram as fake news, com disseminação de notícias falsas, absurdas, sobre mim, Manuela e sobre todo mundo. A disseminação de notícias falsas criou um ambiente de grande instabilidade.
Tudo o que a família Bolsonaro representava e representa, associação com crime organizado no Rio de Janeiro, com pessoas no gabinete parentes de assassinos, como caso do Adriano (da Nóbrega), do (Fabrício) Queiroz, que respondem, são suspeitos de assasinato e desvio de verba pública. Tudo isso foi soterrado, não veio à tona, e não foi discutido pela sociedade.
Colocamos, talvez, o mais despreparado dos políticos para a Presidência da República, que é responsável pela maioria das mortes por COVID-19 no Brasil. Lavou as mãos, não liderou o país. O cenário para 2022 vai ser muito diferente de 2018. Muita gente já acordou para o fato de que não dá para fazer política baseada no ódio.
Bolsonaro está fugindo do debate o tempo todo; só fala do que interessa. Interessa a ele, não ao país. Fica falando de cloroquina. Quantas vezes ele pronunciou a palavra cloroquina no último ano? Você já fez essa conta? Quantas pessoas foram levadas à morte por entender, acharem, que tinha tratamento precoce para COVID-19, por causa do Bolsonaro? Quantas ameaças ele fez às instituições do país? Isso que temos que discutir.
Ainda é cedo, mas diversos nomes tidos como centristas ou da centro-direita começam a despontar, como Moro, Huck, Doria e Mandetta. O que fazer para mostrar à população que, na visão do senhor e de seu partido, a melhor alternativa ao governo Bolsonaro está à esquerda?
Quem defende os direitos sociais é o campo progressista. É quem defende o trabalhador e abriu a porta das universidades para que os pobres, com méritos, que antes eram vedados dentro da universidade, entrassem e se tornassem profissionais respeitados.
O primeiro diploma de muitas famílias acontece depois dos nossos governos. Quem levou luz, água, crédito, renda para o interior deste país foi o campo progressista. Parte da direita continua votando com o Bolsonaro no corte de direitos trabalhistas, sociais e previdenciários. Não para de portar, como se isso fosse a salvação nacional, deixar o pobre mais pobre. Alguém pode imaginar que essa seja uma solução? ‘Olha, vamos pegar os pobres, deixá-los mais pobres, que o país vai enriquecer’. É isso que o Bolsonaro está dizendo ao país.
Se não aumentar o salário mínimo, se a gente cortar direitos sociais, sucatear o SUS, liquidar a escola pública, tirar autonomia das universidades, verba da ciência e da cultura, o Brasil vai enriquecer. Isso pode ser um projeto para o país? Tenho convicção de que o campo progressista é aquele que vai apresentar o melhor projeto ao país.
Temos que falar com a direita que apoiou Bolsonaro para fazer uma reflexão. Valeu a pena? Todo o golpe, desde 2014, não reconhecer o resultado eleitoral? Essa crise começa quando o Aécio (Neves) não reconhece o resultado eleitoral. Fez exatamente o que o (Donald) Trump fez. Falam do Bolsonaro, mas quem começou com essa história no Brasil foi o Aécio, dizendo que não aceitava o resultado eleitoral, acusando a Dilma de uma coisa que ela não fez e se isentando de responsabilidades.
Você não pode colocar o sistema eleitoral brasileiro em xeque. Ele criou instabilidade política no país e foi fazer aliança do Eduardo Cunha para aprovar pautas-bomba no Congresso Nacional e levar o (Michel) Temer ao poder. Se a gente não passar a história a limpo, não vamos avançar.
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, ele demonstra temor com gestos vindos do presidente. “Ele é uma pessoa muito instável, psicologicamente falando, e perigosa”, diz. Leia íntegra da conversa ao fim deste texto.
Nesta quinta-feira (25/02), Haddad se reúne com Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte. Ele admite a necessidade de dialogar com os que se opõem às pautas bolsonaristas e evita projetar os cenários para 2022, mas ressalta que os petistas têm quadros para assumir a liderança de chapas presidenciais e estaduais.
O presidenciável diz que há nomes para disputar o governo mineiro no próximo ano, mas não descarta alianças. O PDT, de Ciro Gomes, já se mostrou disposto a apoiar uma coalizão encabeçada por Kalil. Para a formalização de coligações, os petistas desejam alinhamento de ideias.
“Não fazemos análise de popularidade. Fazemos análise de compromisso social. Não sei quais são os compromissos que aqueles que estão se colocando vão fazer em nome de um Brasil mais justo”, diz o ex-ministro da Educação. “Se não conversarmos entre nós, relevando as diferenças para colocar em primeiro lugar o interesse nacional, não vamos ter país para governar em 2022”, defende.
Em Minas Gerais, o PT vem de três fortes baques: em 2018, Fernando Pimentel parou no primeiro turno e não conseguiu ser reeleito governador, enquanto Dilma Rousseff, ao contrário do que indicavam todas as pesquisas, perdeu a vaga no Senado Federal. No ano passado, Nilmário Miranda, outro histórico quadro do partido, amargou a sexta colocação na eleição belo-horizontina, com apenas 1,88% dos votos válidos. Apesar dos tropeços, Haddad crê em tempos melhores.
Ao sair em defesa de Pimentel, o ex-prefeito de São Paulo recorre a tópicos como a contestação do resultado da eleição de 2014 por parte de Aécio Neves (PSDB). “Ele foi vítima dessa sabotagem e foi muito difícil a vida dele, inclusive pela herança que recebeu do (Antonio) Anastasia. Não foi fácil a vida dele, mas foi um grande prefeito e é a mesma pessoa. Estamos falando da mesma pessoa”.
Para o pleito presidencial, o plano é pensar, de antemão, em eventual segundo turno, para contrapor a agenda bolsonarista. A ideia é que o primeiro turno gire em torno de discussões sobre os problemas da atual gestão. “O governo Bolsonaro representa um risco à democracia, à saúde pública, à educação de crianças e jovens, ao meio ambiente e um isolamento internacional do Brasil, que já não têm mais parceiros no exterior. Ele conseguiu só fazer adversários no mundo inteiro”, opina.
Haddad se esquiva sobre uma possível participação de Lula na próxima disputa pelo Executivo nacional. Embora esteja em liberdade, o líder do PT ainda é considerado inelegível. Ministro durante grande parte era lulista, ele garante que todas as instâncias serão utilizadas para provar a inocência do ex-presidente. “Temos que despolitizar a Justiça, defender a Justiça para todo e qualquer cidadão, independentemente de concordar com ele ou não”, sustenta. Confira a seguir, trechos da entrevista.
Como surgiu a ideia de se reunir com o prefeito Alexandre Kalil? De quem foi a iniciativa?
O que estamos procurando fazer é divulgar o plano de reconstrução nacional que tem um conjunto de ideias que queremos submeter a pessoas que, na nossa opinião, tem uma contribuição para o país em resposta ao que Bolsonaro está fazendo. Acho muito grave o que o Bolsonaro está fazendo, esta semana mesmo nós podemos estar diante de uma tragédia, que é a aprovação de uma emenda constitucional preparada pelo (Paulo) Guedes.
Simplesmente acaba com os direitos sociais, subordina os direitos sociais a uma cláusula nova na constituição e, na prática, retira recursos da saúde, da educação, da assistência, da cultura e da ciência. Praticamente acaba com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), porque acaba com o financiamento do maior banco de fomento da história do Brasil.
O BNDES está na raiz das grandes empresas e das pequenas, que se tornaram médias. Toda empresa que cresceu no Brasil teve, de alguma maneira, apoio do BNDES. E ele simplesmente corta o canal de comunicação do governo com o BNDES e asfixia o banco. Estamos diante de uma situação em que vamos ver a privatização selvagem das empresas pela metade do preço, como aconteceu com a refinaria da Bahia (da Petrobras), já sob investigação do Tribunal de Contas da União.
É uma situação muito grave. Bolsonaro está vindo para cima do que garante a Constituição de 1988: o bem-estar da população. Se não conversarmos entre nós, relevando as diferenças para colocar em primeiro lugar o interesse nacional, não vamos ter país para governar em 2022. Porque o desmonte é muito grande.
Onde quer que eu vá, e estou começando por Minas, vou conversar, obviamente, que com os petistas, com o campo progressista — que são os partidos historicamente caminharam juntos até aqui — mas também tenho que conversar com quem pensa um pouco diferente de mim, mas discorda do que o Bolsonaro está fazendo. O objetivo é conversar com os próximos e com os não tão próximos, mas que discordam do governo Bolsonaro.
Nesta semana, a O Globo, Kalil disse ser avesso a quem rouba Petrobras e a quem não quer vacina no Brasil. O senhor endossa essa fala dele?
Todos nós concordamos. Quem rouba não pode nem fazer parte da política, desde que você nomeie a pessoa. Porque todos os partidos políticos enfrentaram investigações, que são corretas, e algumas pessoas foram perseguidas indevidamente por aqueles que tinham um projeto político de chegar ao poder.
Desde que se faça a distinção — e isso vale para o para PSD, PT, PSDB, e todos os outros. Todo mundo do PSD, por exemplo, que cometeu irregularidades, tenho certeza que o Kalil também não concorda, assim como eu não concordo com irregularidades de qualquer natureza. Pode ser do meu partido, da minha família, da minha igreja, do meu time de futebol.
Não é por proximidade e amizade que vou deixar de defender a aplicação da lei. Pode ser meu filho, meu sobrinho ou quem for: lei é para ser cumprida. Mas temos de ter coragem de apontar para as pessoas que cometeram equívocos, indistintamente. Infelizmente, também no PSD, no PT, no PSDB, no MDB e na família Bolsonaro, que está cheia de complicações gravíssimas.
Um patrimônio imobiliário acumulado ao longo de 20 anos completamente incompatível com salário de deputado, dinheiro em milícia depositado na conta de parentes. Isso tudo tem que ser investigado.
Nosso maior drama hoje é a vacinação. O atraso do governo em buscar solução para a pandemia, combatendo a máscara, isolamento social, o distanciamento, fazendo pouco da vacina, dizendo que não era solução para o problema e agora tendo que correr atrás do prejuízo depois de 250 mil óbitos. Esse é um grande problema do Brasil. Estou de acordo se a gente tiver coragem de falar a verdade para o povo. Falando a verdade, a gente vai construir um país melhor.
O senhor vislumbra o PT liderando chapa em 2022 para o governo de Minas? Uma coalizão com Kalil pode ocorrer?
Temos muito tempo pela frente. Penso que o PT tem condição de lançar candidato próprio. Já teve vários candidatos no Brasil inteiro, gere quatro estados com governadores excepcionais, tem quadros em Minas Gerais e no Brasil.
Vamos analisar, caso a caso, os estados em que temos condição de liderar chapa, e onde, dependendo dos compromissos firmados pelos que pretendem nosso apoio, podemos compor. Vai ser uma análise criteriosa, que dependerá muito mais de compromissos assumidos pelos que pretendem nosso apoio do que propriamente pela popularidade.
Não fazemos análise de popularidade; fazemos análise de compromisso social. Não sei quais são os compromissos que aqueles que estão se colocando (na disputa) vão fazer em nome de um Brasil mais justo.
Mas é cedo, então, para pensar em apoio a Kalil?
Tudo depende dos compromissos. Primeiro: a viabilidade de um candidato do PT. Segundo: se nós formos apoiar alguém, e já apoiamos várias pessoas em 2020, como o prefeito de Belém, Edmilson (Rodrigues) e Manuela (D’Ávila), em Porto Alegre.
Tentamos apoiar o (Marcelo) Freixo no Rio de Janeiro, mas não foi possível fazer uma frente. Apoiamos no segundo turno vários candidatos que não eram nem de esquerda para evitar um mal maior, como era o caso do Rio, em que derrotamos o (Marcelo) Crivella. Trabalhamos para oferecer ao país melhores condições de governabilidade. Isso dependeu de compromissos; não adianta falar de nomes sem falar no que a pessoa vai defender.
Isso é o que precisamos entender primeiro. Porque às vezes a pessoa é até simpática, mas se ela não tem um posicionamento político, a simpatia não vai encher a barriga do brasileiro. Queremos saber de que lado a pessoa está, antes de mais nada.
O PT vai liderar uma chapa na eleição presidencial de 2022? Suas viagens pelo país, iniciadas por Minas, são um prelúdio disso?
Essa é uma eleição diferente, em que temos de colocar o segundo turno na ordem do dia. Em geral, no Brasil, se deixava para pensar o segundo turno depois do primeiro. E hoje não dá para ser assim. As ameaças que pairam sobre o Brasil são muito sérias, o governo Bolsonaro representa um risco à democracia, à saúde pública, à educação de crianças e jovens, ao meio ambiente e um isolamento internacional do Brasil, que já não têm mais parceiros no exterior.
Ele conseguiu só fazer adversários no mundo inteiro, a começar pelos nossos vizinhos, pelos Estados Unidos, pela Europa e pela China. Temos que trabalhar, já, um segundo turno que coloque em xeque o projeto de desmonte que Bolsonaro representa. Isso tem que estar na ordem das prioridades. O primeiro turno vai se organizar a partir dessa compreensão, que existe uma ameaça maior no país: o bolsonarismo.
Existe processo para, em 2022, superar o antipetismo por meio de uma disputa com o antibolsonarismo? Há como 'puxar' esse sentimento para o campo progressista?
Um certo antipetismo existe desde a fundação do PT, e parte da elite financeira. O PT nem era governo e os bancos já eram antipetistas. isso vai permanecer porque eles não querem que o povo chegue aos direitos que estão na Constituição. Fizeram campanha para (Fernando) Collor, Fernando Henrique (Cardoso), Temer, Bolsonaro, e eles vão querer qualquer coisa que não seja o PT.
Agora, existe um antipetismo que foi produto da desinformação e da má fé de alguns órgãos de comunicação. Esse, vamos superar, trazendo à luz a verdade do que aconteceu. Isso tende a diminuir, e penso que o antibolsonarismo é muito forte hoje. Existe uma camada enorme da população brasileira que não aceita os termos que o Bolsonaro coloca ao país, essa guerra que ele está querendo deflagrar.
Está preparando até uma guerra civil, dependendo do resultado eleitoral de 2022. Está armando as milícias do país, como aconteceu na Bolívia. A bandidagem está comprando armas graças aos decretos de liberação de armas do Bolsonaro. Ele é uma pessoa muito instável, psicologicamente falando, e perigosa.
Duas figuras de renome no PT mineiro, Fernando Pimentel e Nilmário Miranda sequer foram para o segundo turno em recentes eleições. Como o senhor enxerga a rejeição nas urnas em Minas e em BH? E sobre Dilma Rousseff? Ela ainda tem espaço no jogo político?
Assim como está acontecendo com outros fatos, a verdade vai aparecendo lentamente. Às vezes, ela tarda a chegar, mas é inevitável. Ninguém vai conseguir fazer com que a verdade não seja restabelecida, porque o tempo vai trazê-la à tona. Vamos, com muita perseverança, restabelecer a verdade no país.
Conheci o Fernando (Pimentel) na condição de ministro da Educação, e ele era um dos prefeitos mais bem avaliados do Brasil, se não fosse o mais bem avaliado, tanto é que foi reeleito com votação muito expressiva. Transformou Belo Horizonte para melhor. Pegou um tempo muito ruim. Ele foi eleito (governador) em 2014, quando o golpe planejado pelo Aécio (Neves) começou, sabotando o país.
Ele foi vítima dessa sabotagem e foi muito difícil a vida dele, inclusive pela herança que recebeu do (Antonio) Anastasia. Não foi fácil a vida dele, mas foi um grande prefeito e é a mesma pessoa. Estamos falando da mesma pessoa. A verdade também vai ser restabelecida em toda sua amplitude. Temos que ter perseverança.
Não podemos deixar de trabalhar a opinião pública para que chegue a melhor informação sobre o que, de fato, aconteceu no Brasil. Quando a verdade for revelada, essas coisas todas mudam de patamar, para melhor. Pois a verdade sempre ajuda, e ela vai ser restabelecida.
O senhor é candidato? Como em 2018, o PT vai bancar a candidatura de Lula até o último momento?
As pessoas, às vezes, e o jornalismo em particular, fazem essa confusão entre essas duas coisas que, na minha opinião, não deveriam estar conjugadas dessa maneira, e eu explico. O que estamos defendendo desde que a perseguição do Moro ao Lula começou, e agora com provas, definitivas, de que ele era um líder da acusação e não o juiz.
Uma das mensagens que a Polícia Federal divulgou é de um procurador dizendo: ‘Não dá para pegar o Lula com o triplex e com o sítio, temos que ir para cima da família dele’. Era uma caçada, e não um inquérito ou um processo. Hoje, isso está absolutamente claro para todos os juristas do Brasil.
Não podemos confundir política com Justiça. Temos que despolitizar a Justiça, defender a Justiça para todo e qualquer cidadão, independentemente de concordar com ele ou não. Isso é uma coisa. A outra coisa é o PT, no seu direito, tendo governado o país por três mandatos consecutivos e entregue um legado extraordinário, inclusive na área da educação, que tive a honra de liderar (...) De repente misturar estações e politizar um julgamento que tem que ser absolutamente imparcial não pode.
O Exército não pode pressionar a Justiça. Os meios de comunicação não podem pressionar a Justiça, assim como nós não podemos pressionar a Justiça, a não ser para fazer justiça. A única pressão cabível é que se faça justiça; é para isso que o contribuinte sustenta o Poder Judiciário. Não é para fazer política, é para fazer justiça. Não vamos misturar as duas coisas.
E, na defesa de quem nós consideramos que não há nada, nenhuma prova — contra o presidente Lula — vamos até o final. É outra questão. Se é 2018, 2022 ou se o PT vai ter candidato, quem vai ser, é outra discussão, mas não vamos misturar as duas coisas, Caso contrário, não vamos resgatar a dignidade da Justiça e do Poder Judiciário no Brasil. Isso vale para todo mundo.
Há vários ex-governadores do PSDB, sete, respondendo na Justiça. Posso torcer para que um deles seja condenado só por ser adversário do PT? Torço para que ele pague se errou e seja absolvido se não errou. Isso vale para todo mundo. A família Bolsonaro está toda enrolada. Na minha opinião, têm direito de defesa. Se conseguirem provar que o patrimônio milionário que acumularam tem fonte e origem lícita, bom proveito.
Se ficar provado que desviaram verba das milícias para se apropriar, têm que ir presos. Vale para todo mundo, não é política isso aqui. Isso é fazer uma pessoa que errou pagar, e uma pessoa inocente ter os seus direitos assegurados, seja de que partido for. Não vamos mais misturar política com partido. Isso é ruim para o Brasil.
O senhor perdeu para Bolsonaro em 2018. As viagens pelo Brasil configuram uma correção da estratégia utilizada no pleito passado?
Tenho uma opinião diferente sobre 2018. Em condições normais, ganharíamos a eleição. É que houve quase um complô para eleger o Bolsonaro, sobretudo do mercado financeiro e daqueles que financiaram as fake news, com disseminação de notícias falsas, absurdas, sobre mim, Manuela e sobre todo mundo. A disseminação de notícias falsas criou um ambiente de grande instabilidade.
Tudo o que a família Bolsonaro representava e representa, associação com crime organizado no Rio de Janeiro, com pessoas no gabinete parentes de assassinos, como caso do Adriano (da Nóbrega), do (Fabrício) Queiroz, que respondem, são suspeitos de assasinato e desvio de verba pública. Tudo isso foi soterrado, não veio à tona, e não foi discutido pela sociedade.
Colocamos, talvez, o mais despreparado dos políticos para a Presidência da República, que é responsável pela maioria das mortes por COVID-19 no Brasil. Lavou as mãos, não liderou o país. O cenário para 2022 vai ser muito diferente de 2018. Muita gente já acordou para o fato de que não dá para fazer política baseada no ódio.
Bolsonaro está fugindo do debate o tempo todo; só fala do que interessa. Interessa a ele, não ao país. Fica falando de cloroquina. Quantas vezes ele pronunciou a palavra cloroquina no último ano? Você já fez essa conta? Quantas pessoas foram levadas à morte por entender, acharem, que tinha tratamento precoce para COVID-19, por causa do Bolsonaro? Quantas ameaças ele fez às instituições do país? Isso que temos que discutir.
Ainda é cedo, mas diversos nomes tidos como centristas ou da centro-direita começam a despontar, como Moro, Huck, Doria e Mandetta. O que fazer para mostrar à população que, na visão do senhor e de seu partido, a melhor alternativa ao governo Bolsonaro está à esquerda?
Quem defende os direitos sociais é o campo progressista. É quem defende o trabalhador e abriu a porta das universidades para que os pobres, com méritos, que antes eram vedados dentro da universidade, entrassem e se tornassem profissionais respeitados.
O primeiro diploma de muitas famílias acontece depois dos nossos governos. Quem levou luz, água, crédito, renda para o interior deste país foi o campo progressista. Parte da direita continua votando com o Bolsonaro no corte de direitos trabalhistas, sociais e previdenciários. Não para de portar, como se isso fosse a salvação nacional, deixar o pobre mais pobre. Alguém pode imaginar que essa seja uma solução? ‘Olha, vamos pegar os pobres, deixá-los mais pobres, que o país vai enriquecer’. É isso que o Bolsonaro está dizendo ao país.
Se não aumentar o salário mínimo, se a gente cortar direitos sociais, sucatear o SUS, liquidar a escola pública, tirar autonomia das universidades, verba da ciência e da cultura, o Brasil vai enriquecer. Isso pode ser um projeto para o país? Tenho convicção de que o campo progressista é aquele que vai apresentar o melhor projeto ao país.
Temos que falar com a direita que apoiou Bolsonaro para fazer uma reflexão. Valeu a pena? Todo o golpe, desde 2014, não reconhecer o resultado eleitoral? Essa crise começa quando o Aécio (Neves) não reconhece o resultado eleitoral. Fez exatamente o que o (Donald) Trump fez. Falam do Bolsonaro, mas quem começou com essa história no Brasil foi o Aécio, dizendo que não aceitava o resultado eleitoral, acusando a Dilma de uma coisa que ela não fez e se isentando de responsabilidades.
Você não pode colocar o sistema eleitoral brasileiro em xeque. Ele criou instabilidade política no país e foi fazer aliança do Eduardo Cunha para aprovar pautas-bomba no Congresso Nacional e levar o (Michel) Temer ao poder. Se a gente não passar a história a limpo, não vamos avançar.