Brasília – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode definir ainda hoje quem vai comandar o Banco do Brasil (BB), já que André Brandão colocou o cargo de presidente da institutição financeira à disposição na semana passada. Parlamentares esperam que, com isso, Bolsonaro também suspenda o plano de reestruturação do BB. Entretanto, internamente, a ordem é dar início ao fechamento de agências neste mês.
Entre os nomes cotados para assumir a presidência do BB, na saída de Brandão, estão Paulo Henrique Costa, atual presidente do Banco de Brasília (BRB); Antônio Barreto, secretário-executivo do Ministério da Cidadania, que é considerado um dos melhores técnicos da Esplanada por assessores palacianos; Gustavo Montezano, presidente do Banco Naconal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e amigo dos filhos de Bolsonaro; e Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente Corporativo do BB, que já chegou a ser cotado para assumir a presidência quando Rubem Novaes pediu demissão, por ser jovem, mas bem preparado, como queria a equipe econômica.
O plano de reestruturação do BB prevê o fechamento de 361 unidades de atendimento, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento, além do desligamento de 5,5 mil funcionários. Foi o estopim para a crise entre Bolsonaro e Brandão. Porém, de acordo com o Banco do Brasil, está mantido e em execução: o banco entrou em contato com os clientes das agências que serão desativadas e, por isso, promete começar a fechar esses pontos de atendimento nos próximos dias.
A lista e a data de fechamento das agências, no entanto, são guardadas a sete chaves pelo banco. “Falta transparência”, reclamam os bancários, que decidiram mapear por conta própria o impacto do projeto no Distrito Federal (DF). Segundo o Sindicato dos Bancários de Brasília, sete agências devem ser fechadas e outras cinco serão reduzidas a postos de atendimento no DF até o próximo dia 16.
Parlamentares contrários ao fechamento também pediram os dados ao BB, mas ainda não obtiveram retorno. Por isso, a deputada Erika Kokay (PT-DF) apresentou requerimento de informações, na semana passada, cobrando esclarecimentos ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Para ser enviado ao ministro, contudo, o pedido ainda precisa ser aprovado pela Mesa e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A percepção é de que o BB não quer divulgar a relação das agências que serão desativadas para não causar mais rebuliço sobre o assunto e, assim, garantir a reestruturação. A decisão de Brandão de deixar o comando do banco fez muitos parlamentares questionarem se, agora, Bolsonaro não vai suspender a medida. Afinal, o presidente da República decidiu demitir o presidente do BB depois de ouvir críticas dos parlamentares sobre a repercussão negativa do fechamento de agências em suas bases eleitorais.
A questão que está na mesa no Planalto, agora, por sua vez, é o nome do sucessor de Brandão. Como apurou o Blog do Vicente, do Correio Braziliense, dos Diários Associados, Bolsonaro pode tomar uma decisão ainda hoje sobre o assunto. Integrantes do Planalto explicaram ao blog que o presidente da República nunca gostou muito de Brandão. Por isso ao se antecipar a uma possível demissão o executivo pode sair logo. “Já vai tarde”, disseram assessores de Bolsonaro ao Blog do Vicente.
A interlocutores, Brandão explicou estar cansado de Brasília. Ele se incomodou por ter sido atacado por Bolsonaro depois de tomar uma das medidas de redução de custos acertadas com a equipe econômica. Também não quer ficar sendo fritado ou ser surpreendido com uma demissão como a de Roberto Castello Branco, da Petrobras. Por isso, julgou que seria melhor se antecipar para evitar turbulências no BB e também para preservar a imagem de um executivo técnico, que o fez construir uma carreira consolidada no mercado financeiro.
Mapeamento
Diante da resistência da direção do BB a liberar a lista de agências que serão afetadas pela reestruturação, o Sindicato dos Bancários de Brasília foi a campo para mapear o impacto local da medida. O sindicato constatou que 12 agências estão na mira da reestruturação no Distrito Federal (DF), sobretudo no Plano Piloto.
O levantamento indica que sete agências serão fechadas e outras cinco serão rebaixadas a postos de atendimento, estruturas mais enxutas, voltadas ao suporte dos clientes e que, por isso, têm menos funcionários e nem sempre oferecem operações mais complexas, como a contratação de determinadas linhas de crédito. Três escritórios digitais também deverão ser desativados pela instituição no Distrito Federal. A expectativa é de que isso ocorra dentro de 15 dias.
Mapa da mina
O governo federal conta, hoje, com 188 empresas estatais, que empregam quase meio milhão de pessoas e movimentaram R$ 2,3 trilhões em 2019 – último dado anual disponível no Boletim das Empresas Estatais Federais. Dessas empresas, 142 têm controle indireto da União, como as subsidiárias da Eletrobras e da Petrobras. As outras 46 são controladas diretamente pelo governo e deixam claro, pelo quadro de funcionários, que o controle político das estatais ainda é uma realidade no país, apesar do discurso liberal de redução do Estado e abertura da economia do ministro da Economia, Paulo Guedes. É que 15 das 46 estatais de controle direto são controladas por militares e outras três foram entregues a nomes do Centrão, que já demonstrou interesse em ocupar mais cargos no governo.