Depois de deixar a presidência da Câmara no mês passado sem conseguir eleger seu sucessor, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) vai reorganizando sua estratégia política. Abandonado na disputa pelo presidente do DEM, ACM Neto, Maia deixará o partido. Ele disse ao Estadão que deve se filiar ao MDB ou a um novo partido de centro. "O MDB é um partido com quadros com quem tenho uma relação histórica muito importante. E me sentiria confortável", afirmou.
Paralelamente, Maia segue à frente da articulação de uma candidatura de centro para 2022. Ele defende que os quatro principais nomes do grupo - o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o apresentador Luciano Huck, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) - apresentem ideias, mas que isso produza uma candidatura única. "Desses quatro nomes tem de sair uma chapa."
A sucessão na Câmara causou um racha entre os partidos que participam da discussão sobre uma candidatura de centro. Ela ainda é possível?
Ela vai ser montada porque a sociedade quer uma candidatura fora dos extremos. E tem uma parte importante da sociedade que quer uma candidatura no nosso campo. Liberal, democrático. Dos nomes que temos, começando pelo Doria, e passando pelo Huck, Mandetta e Eduardo Leite, daqui tem de sair um nome. Nessa eleição, os projetos pessoais têm de ser engavetados. Todos têm o direito de colocar o seu projeto até um determinado momento. A partir daí, tem de se consolidar uma candidatura. Acho que desses quatro nomes tem de sair uma chapa.
O ex-ministro Sérgio Moro não faz parte desse "pacote"?
Acho que ele não está nesse campo 100%. Agora, é óbvio que é um quadro que tem apoio na sociedade. Você ter o apoio do Moro pode ajudar.
E como fazer para que esses quatro nomes se transformem numa só candidatura?
O ideal é que todos trabalhassem em conjunto, fazendo um debate nacional, para que pudessem ficar mais conhecidos fora de seus campos. E uma regra para que você saísse na virada do ano com um nome só.
O DEM sinalizou um alinhamento ao Planalto pela presidência da Câmara. Agora, o presidente do partido, ACM Neto, fala que Mandetta pode ser candidato do DEM em 2022. É possível contar com o DEM nessa articulação?
O senador Antonio Carlos Magalhães, diferentemente do neto dele, dizia que deputado a gente não empresta. O Neto resolveu emprestar os deputados dele, entregar a base dele para o bolsonarismo. Eu acho muito difícil acreditar nele, por mais que, de forma desesperada, agora ele esteja tentando criar no Mandetta um candidato. Não pelo Mandetta, que é um candidato forte. Mas o Neto acabou entregando a base dele, por um acordo menor, ao bolsonarismo. Só de ele (ACM Neto) ter lançado o Mandetta, certamente Huck deve ter olhado, Doria deve ter olhado, puxa, esse menino está mentindo de novo. Prometeu que ia nos apoiar e está jogando o Mandetta para tentar se salvar do acordo que fez com o Bolsonaro na eleição para presidente da Câmara. A credibilidade do presidente do partido é cada vez menor.
Sua saída do DEM é irreversível?
Com certeza.
E para qual partido vai?
Eu estou conversando. Hoje, converso mais com o MDB. E tem também a possibilidade da construção de um partido de centro. Ou a fusão de alguns partidos.
A maior tendência seria fechar com o MDB?
O MDB tem quadros com quem tenho uma relação histórica muito importante. E me sentiria confortável.
O comportamento do presidente na pandemia não caracterizaria crime de responsabilidade? O senhor não poderia ter pedido a abertura do processo de impeachment?
Eu continuo defendendo que o melhor instrumento seria uma CPI. Porque acho, inclusive, que o processo do impeachment, nesse momento, ajudaria o presidente. Porque tiraríamos da frente dele duas mil mortes diárias e colocaríamos um debate político entre os radicais do Bolsonaro e parte da sociedade, em que esse seria o embate. Eles criariam uma narrativa a favor dele. Nesse momento, eu acho que uma CPI seria o melhor instrumento pra investigar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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