Com quase 12 milhões de seguidores no Facebook, Youtube, Instagram e Twitter, o deputado federal André Janones (Avante-MG) bateu na última semana Lula e Jair Bolsonaro em visibilidade nas redes: as lives alcançaram 19 milhões de visualizações; nos últimos 28 dias, o conjunto da ópera bateu em 59 milhões de visualizações.
Nada que surpreenda em se tratando desse fenômeno das redes sociais, que, com a temática do auxílio emergencial, bateu recordes de visualização no mundo ocidental no ano passado. Este ano, a briga é parecida, mas não é a mesma: documentando ao vivo a votação do auxílio emergencial, em embate direto com Paulo Guedes, a quem chama de “mau-caráter” e “canalha” – por ter tentado desvincular o teto de gastos com a saúde e a educação e também por ter limitado o novo auxílio emergencial a menos de um terço dos pretendidos R$ 600 – Janones está em confronto aberto com o negacionismo.
Leia Mais
Grupo sem máscara e pró-Bolsonaro protesta contra Doria na Avenida PaulistaPressionado, Bolsonaro decide tirar Pazuello da Saúde e se reúne com médicaSem máscara, Bolsonaro participa de missa em BrasíliaAndré Janones defende terceira via para eleição presidencial de 2022'Fui ameaçada de morte', diz Ludhmila Hajjar após convite de BolsonaroE para isso, não se acovarda quando recebe ataques coordenados por pregar o uso da máscara e o direito à vacinação. “Não estamos mais falando de questão partidária, política, não é mais uma questão de falar bem ou mal do presidente. Estamos falando de salvar vidas e contribuir para evitar mortes”, diz ele, que vaticina, abrindo fogo contra a necropolítica: “A postura de Jair Bolsonaro é antivacina, é anticiência, é de defesa dos medicamentos não comprovados. Quando volta atrás é porque sofreu influência de deputados do Centrão e alguns de seu entorno”.
A seguir, os principais pontos da entrevista que concedeu ao Estado de Minas.
“Falta postura ao presidente”
A responsabilidade é, num primeiro momento, do ministro da Saúde. Mas de forma indireta recai sobre o presidente da República. O ministro já mostrou total despreparo, não tem qualificação para estar no cargo. E a postura do presidente dos Estados Unidos é o que falta no Brasil. Sabemos que o problema é grave, não há solução mágica, mas para isso existe líder, para unir o país, passar esperança. E a cada fala do presidente o que ouvimos é o estímulo ao tratamento precoce, ao spray nasal, contra a máscara, contra o distanciamento social, o revés do que prega a ciência em sua luta pela vacinação. Em vez de unir a população no mesmo rumo em busca do enfrentamento da doença, provoca o racha interno. E é onde o coletivo não caminha numa direção.
“Uma hora a máscara cai”
Há poucas pessoas sensatas no governo. Por pressão dessas pessoas e até mesmo do Centrão, ele pode ceder em alguns posicionamentos mais extremistas. Mas como ninguém consegue usar máscara o tempo todo: uma hora a máscara cai. Então ele tem um rompante como vimos na live de quinta-feira: aquilo é Bolsonaro, aquilo é verdade. Mas quando fala a terra é redonda, que é favorável à vacina, não está sendo o verdadeiro Bolsonaro. A postura de Jair Bolsonaro é antivacina, é anticiência, é de defesa dos medicamentos não comprovados. Quando volta atrás é porque sofreu influência de deputados do Centrão e alguns de seu entorno, que o pressionam a tomar atitude correta. Depois ele retoma o negacionismo, a velha postura conspiracionista, a narrativa de que não vai “ceder ao sistema”. Esta semana, eu estava na Câmara quando aconteceu. Na terça-feira passada, Bolsonaro ia fazer um pronunciamento à nação e cancelou. A informação que tivemos foi a de que ele iria em público, em cadeia nacional, pedir para as pessoas não ficarem em casa e não usarem máscara. Foi pressionado pelos deputados e desistiu.
“Movido por algoritmos”
“Pandemia e a perversidade”
Eu cheguei a acreditar, principalmente antes da pandemia, que tínhamos um presidente que estava aquém do cargo. Mas com a eclosão da pandemia, não sou mais tão ingênuo. Essa perversidade se evidencia e se concretiza, tendo como fundo de pano a luta exacerbada pelo poder. A busca doentia pelo poder. Voto. Como sair mais popular desta pandemia? A curto prazo, vai perder popularidade, mas o que interessa pra ele é o ano que vem, está com discurso construído. Se tiver a pandemia controlada vai dizer que foi ele. Se não tiver vai lançar a culpa sobre os governadores e prefeitos. Ele pega dois assuntos, que não têm relação um com outro. Por exemplo: “prefeitos roubaram dinheiro”. Pode ter ocorrido em todo o país. Mas ele vincula dois assuntos: “houve desvios de dinheiro, cadê o dinheiro que mandei?” E aproveita esse assunto para não comprar vacina e mandar a população não usar máscara. Qual a relação? E quando eu estou no interior, vou defender a vacina, as pessoas perguntam: “Onde está o dinheiro da vacina que ele mandou?” Bolsonaro tem como pressuposto, tem por fonte, a negação da ciência. Acredito nisso. Há crendices populares que passam entre gerações. Minha família é muito simples, do interior e a minha avó tinha muitas crendices: não acreditava em vacinas, se apegava a curas sem comprovação. Esse é um comportamento que traduz a falta de conhecimento sobre o assunto. Mas o que o governo federal faz é se aproveitar disso para a manipulação de massas. Está levando as pessoas ao abate, está estimulando as pessoas a irem para o front de batalha, sem máscaras sem vacina, sem nada. É uma manipulação.
“Atacado por milícias digitais”
A minha rede não tem uma predominância ideológica. É um público diverso: tem da direita, da esquerda, do centro. Quando falo sobre a prevenção da COVID com o uso de máscaras, pelo distanciamento, em defesa das vacinas, tenho mais apoios do que críticas. O tema mais delicado, porque está sendo discutido da forma errada, é o lockdown, que salva vidas. As pessoas precisam trabalhar, mas todos precisam ficar em casa. Então o governo precisa discutir como manter as pessoas em casa e como salvar as empresas. As críticas que recebo por causa da defesa do lockdown, consigo entender: a necessidade iminente leva as pessoas ao posicionamento na emoção. Mas não é o caso da vacina, nem da máscara. A crítica à máscara e à vacina é negacionismo puro. E a resposta de uma minoria, cerca de 10% a 20%, quando defendo as medidas de enfrentamento à COVID ou faço críticas ao governo, é brutal. Sou violentamente atacado por uma milícia e também alguns robôs. Só que não recuo. Se tenho de escolher entre popularidade nas redes ou fazer o certo, vou salvar vidas. Quando falo pró-vacina, pró-máscara, não critico o Bolsonaro, mas a militância vem contra mim com ferocidade, agressividade, com truculência, ameaças veladas. E atacam todos que me respaldam. É uma violência assustadora. São palavras impublicáveis. E todas as vozes que se levantam para me apoiar, são também violentamente atacadas. E isso assusta o cidadão comum. Percebo por exemplo, de 100 mil reações em uma postagem desse tipo, 90 mil são curtidas e 20 mil são a cara de raiva. Perceba, então, que muitos que me apoiam evitam comentar para não ser atacados, mas reagem favoravelmente.
“Atacam com ódio”
Eu me considero democrata, acima de tudo. Sempre fiz grande esforço para me manter longe dos radicalismos da esquerda e da direita. Mas essa milícia diariamente comete atentado contra a democracia, pois quer silenciar à força as opiniões divergentes. Não consigo conceber um governo que só erra ou que só acerta. Só que percebi, que quando a questão começou a envolver vidas humanas não era mais uma escolha. Não estamos mais falando de questão partidária, política, não é mais uma questão de falar bem ou mal do presidente. Estamos falando de salvar vidas e contribuir para evitar mortes. Foi quando passei a fazer críticas mais contundentes ao presidente Jair Bolsonaro em relação ao enfrentamento da COVID e passei a sofrer ataques inacreditáveis. Chamam de tudo: “Comunista, fdp, cria do PT, desgraçado, nunca mais ganha eleição, deputado de um mandato só”, e por aí vai, inclusive com termos impublicáveis. E quem comenta a meu favor eles atacam com ódio ainda maior do que contra mim. E vêm em manada. Eles conseguem intimidar quem faz o comentário. Por isso, a grande chance da pessoa se posicionar sem dar a cara a tapa é optando por apenas se manifestar com reações. E aí, a maioria esmagadora concorda com o meu tom de crítica e não comenta porque sabe que vai ser atacada pela turma que vem de fora. Por isso, acho que a pessoa comum, que não é militante, está excluída do debate ideológico. Essa reação raivosa da militância truculenta é inflada por robôs. Esses dias tive confirmação total desse fato. Fiz crítica ao Bolsonaro e os robôs passaram a responder a mesma coisa, sem qualquer relação com o conteúdo do que eu havia dito.
“Guedes deu um golpe”
Se fosse considerar o episódio da prisão fora do contexto, dentro de uma visão mais legalista, há argumentos para entender que a prisão tenha sido ilegal. Nosso dever é lugar pelo direito, mas quando este se encontra em conflito com a Justiça, luto pela Justiça. As questões humanitárias e a defesa da democracia, em alguns casos, superam o legalismo radical. Se ficar preso demais à letra da lei, vai ter gente morrendo enquanto você vai seguindo a lei. Tive de optar entre tomar decisão legal ou em prol de bem maior que é a sobrevivência da democracia. Esses posicionamentos fascistas, truculentos, sofreram revés com a prisão de Daniel Silveira. Foi o maior golpe que sofreram. Depois disso diminuiu muito a truculência deles nas redes e também na Câmara dos Deputados. Foi clara a mudança. Já o caso do Paulo Guedes, que chamou o povo brasileiro de vagabundo, meu posicionamento foi por conta do auxílio emergencial. Tem milhões de brasileiros passando fome e ele estabeleceu um limite para o auxílio emergencial muito baixo, de R$150, mas fomos derrotados ao tentar aprovar o auxílio de R$ 600. Foi uma operação canalha, ele que já tinha tentado tirar o limite do investimento da educação e saúde, deu mais um golpe contra o povo brasileiro. E prevejo, daqui a alguns dias, o presidente da República e o canalha e mau-caráter do Paulo Guedes dizendo: 'Nós quisemos dar um auxílio de R$ 600, mas a Câmara dos Deputados estipulou um limite de R$ 44 bi”.