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Estado de Minas CRISE NA SAÚDE

Pazuello está sob pressão máxima para deixar o Ministério da Saúde

Especulações dão como certa saída do ministro e troca por médica que se reuniu com Bolsonaro em Brasília. General nega, mas partidos querem substituição


15/03/2021 04:00 - atualizado 15/03/2021 07:29

O general que substituiu Nelson Teich no ministério pode ser agora trocado no pior momento da pandemia no Brasil(foto: Evaristo Sá/AFP - 16/12/20)
O general que substituiu Nelson Teich no ministério pode ser agora trocado no pior momento da pandemia no Brasil (foto: Evaristo Sá/AFP - 16/12/20)

Na pior semana da pandemia de COVID-19 no Brasil, com mais de 12 mil mortes pela doença – apenas ontem foram 1.127 vidas perdidas para o cononavírus, aumenta a pressão sobre o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Durante todo o dia de ontem circularam informações de que ele deixaria o cargo, alegando problemas de saúde, e poderia ser substituído pela médica cardiologista Ludhmilla Hajjar, que se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro em Brasília.

Em meio às especulações sobre a saída de Pazuello do ministério, a assessoria do general divulgou no início da noite uma declaração na qual ele afirma que não entregou o cargo e que o presidente da República não solicitou a sua saída. Ele afirmou, porém, que entregará a pasta assim que o Bolsonaro pedir.

O fato é que o ministro está com um pé fora da pasta, mas o presidente Bolsonaro ainda não encontrou um substituto para o general. Reuniu-se ontem à tarde com a médica cardiologista e intensivista Ludhmila Abrahão Hajjar – que chegou a ser anunciada como nova ministra pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) –, mas não bateu o martelo. Pazuello também participou da conversa e, após encontro, anunciou que não estava doente nem havia deixado o cargo.

“Não estou doente, não entreguei o meu cargo e o presidente não o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da Saúde no combate ao coronavírus e salvando mais vidas"

Nas redes sociais, a médica goiana, que é supervisora cardio-oncologista do Hospital das Clínicas e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), passou a sofrer intenso bombardeio dos bolsonaristas, por causa de entrevista a um jornal de Goiânia, no penúltimo domingo. Sua nomeação subiu no telhado.

A fritura de Pazuello começou na manhã de sábado passado, quando a cúpula do Congresso se reuniu na residência oficial do presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutir a proclamação da PEC do auxílio emergencial. Participaram da reunião o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira; os líderes do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE); na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR); e no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO). A conversa derivou para a crise sanitária e a situação politicamente insustentável de Pazuello no Congresso, apesar de todas as oportunidades que o ministro teve explicar a situação e oferecer alternativas convincentes de combate à pandemia aos deputados.

Com Pazuello no Ministério da Saúde, será praticamente impossível para o governo evitar a instalação da chamada CPI da Pandemia, ainda mais depois das duras cobranças feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou a condução dada pelo governo ao enfrentamento da crise sanitária no seu primeiro pronunciamento após a anulação de suas condenações pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin.

Responsável pela articulação política do governo, o ministro da secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, que havia se incorporado à reunião, levou ao conhecimento de Bolsonaro a opinião de seus aliados. Não é de agora que os líderes do chamado Centrão querem desmilitarizar o Ministério da Saúde, que hoje é comandado por uma equipe vista como despreparada para gerenciar o Sistema Único de Saúde (SUS).
 
A médica Ludhmilla Hajjar já havia sido cotada e ontem esteve com Bolsonaro, mas é atacada por bolsonaristas por defender isolamento social(foto: Redes Sociais/Reprodução)
A médica Ludhmilla Hajjar já havia sido cotada e ontem esteve com Bolsonaro, mas é atacada por bolsonaristas por defender isolamento social (foto: Redes Sociais/Reprodução)
 

Vazamentos

Informado da situação, o presidente Bolsonaro mobilizou os generais do Palácio do Planalto para uma conversa com Pazuello, ocorrida na noite do sábado, no hotel de trânsito do Exército em Brasília, onde o ministro mora. Participaram da conversa os generais Fernando Azevedo, ministro da Defesa; Walter Braga Neto, ministro da Casa Civil; além do ministro Ramos, o porta-voz da insatisfação dos políticos. Pazuello foi comandante da Brigada de Paraquedistas quando o general Azevedo foi Comandante do Leste, tendo Braga Neto como chefe de Estado-Maior e Ramos, comandante da Vila Militar. Os quatro formam um grupo político que hoje dá as cartas no Palácio do Planalto. Na conversa, Pazuello foi informado por Bolsonaro de que precisaria ser substituído.

A decisão acabou vazando na manhã de ontem, por causa da reunião com Ludhmila, marcada para o Palácio do Alvorada na tarde de ontem. O presidente da Câmara, Arthur Lira, chegou a defender no Twitter a indicação da medida goiana para a pasta, por causa da “capacidade técnica” e do “diálogo político”. “Capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila”, escreveu Lira

Mudança

O presidente atual da Câmara, seu antecessor, Rodrigo Maia, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), foram tratados por ela quando tiveram COVID-19.  A indicação pegou de surpresa até a Frente Parlamentar da Saúde, que preferiria na pasta um político com experiência de gestão no SUS. Esses parlamentares desejam ver no cargo o presidente da Comissão de Seguridade Social da Câmara, Dr. Luizinho (PP-RJ), que já foi secretário estadual de Saúde. Entretanto, o parlamentar tem excelente relacionamento com Pazuello e acabou de assumir o comando da comissão, diz que não pleiteia a pasta.
O maior bombardeio contra Ludmilla, porém, vem dos bolsonaristas. Natural de Anápolis (GO), Ludmilla defende posições que se chocam frontalmente com as do presidente Jair Bolsonaro, mais ou menos como aconteceu com o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que ficou um mês no cargo e pediu demissão. Nas redes sociais e na mídia, tem defendido o uso de máscaras, o isolamento social e criticado o chamado “tratamento precoce”. É duro para Bolsonaro uma mudança de rota como essa, ainda mais com a mídia atribuindo a queda de Pazuello às exigências do Centrão e às críticas do ex-presidente Lula. Mas é o que seu governo precisa,  para enfrentar a pandemia.

Desgastes do general no comando da Saúde

O general Eduardo Pazuello ganhou notoriedade no Ministério da Saúde em 16 de maio de 2020, quando assumiu interinamente a pasta, após a saída de Nelson Teich. Àquela época, o país contava com 15.633 mortos e 233.142 casos. Apresentado como um especialista em logística, Pazuello comandava a 12ª Região Militar da Amazônia antes de se transferir para Brasília. Chegou à capital federal para operar a transição entre Luiz Henrique Mandetta, defenestrado após seguidos desgastes com o presidente Bolsonaro, e o médico Teich. Em entrevista à Veja, o secretário-executivo esclareceu os objetivos à época. “Ao final de um período, o ministro estará com todos os nomes que ele escolheu e eu estarei saindo, voltando para a minha tropa”.

Nada disso ocorreu. Em meio à desastrada política de enfrentamento à pandemia, Pazuello, um amador na área da Saúde, mantinha-se no cargo. Em 14 de setembro, o Brasil já acumulava 132.006 mortes e 4.345.610 de casos de covid. Com o avanço devastador da pandemia e a demora para iniciar o programa de vacinação, Eduardo Pazuello entrou em uma espiral de sucessivos desgastes.

Veja as principais crises do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde

 
16 de maio de 2020
Ministro interino da Saúde
Pazuello assumiu, interinamente, o ministério da saúde após a saída de Nelson Teich, em 15 de maio de 2020, durante a pandemia de COVID-19 no Brasil.

19 de maio de 2020
Protocolo autoriza cloroquina
No cargo de ministro interino, Pazuello amplia a recomendação do uso da cloroquina e hidroxicloroquina para todos os casos de pacientes de COVID-19 (leves, moderados e graves) e por um período maior, apesar da falta de comprovação científica de eficácia do medicamento.

16 de setembro de 2020
Oficialmente ministro da Saúde
O então interino desde 15 de maio general Eduardo Pazuello foi efetivado à frente do Ministério da Saúde pelo presidente, Jair Bolsonaro.

20 de outubro
“Um manda e o outro obedece”
Pazuello anunciou que o Ministério da Saúde havia comprado 46 milhões de doses da CoronaVac para o programa brasileiro de vacinação. Mas, no dia seguinte, o general foi desautorizado pelo presidente, Jair Bolsonaro, que postou em uma rede social que seu governo não compraria “vacina chinesa de João Doria.” Dois dias depois, o então ministro da Saúde apareceu em uma live com o chefe do Executivo e, visivelmente desconcertado, resumiu: “É simples assim. Um manda e o outro obedece, mas a gente tem um carinho”, relatou. Isso tudo ocorreu enquanto o ministro estava diagnosticado com a COVID-19, quando chegou a ser internado para receber soro por ter apresentado quadro de desidratação.

6 de junho de 2020
Dados nacionais fora do ar
Retirou do ar os números dos mortos de covid-19, apresentados no boletim do Ministério da Saúde diariamente, após ter atrasado a divulgação dos dados nacionais da pandemia dias antes com objetivo de que eles não fossem reportados nos principais noticiários do país.

7 de janeiro de 2021
“Nós não queremos a interpretação dos senhores (jornalistas)”
Em coletiva de imprensa realizada no dia em que o Brasil ultrapassou a trágica marca de 200 mil mortos pela COVID-19, Pazuello dedicou-se a reclamar da imprensa brasileira e deixou a entrevista sem responder às perguntas dos jornalistas. “Não queremos tendência ideológica ou de bandeiras, eu quero assistir TV e ver a notícia do fato. Se cada um interpretar como quer, a desinformação é completa. Numa pandemia como essa, a desinformação e a interpretação equivocada ou tendenciosa leva a consequências trágicas, leva ao medo, à ansiedade, à angústia”, criticou, na ocasião.

12 de janeiro de 2021
“Tratamento precoce” Vs “Atendimento precoce”
Pazuello lançou o aplicativo TrateCOV para auxiliar médicos no tratamento da COVID-19. Mas o sistema recomendava “tratamento precoce" da doença por meio de remédios sem eficácia comprovada cientificamente, por exemplo, pelo uso de cloroquina, ivermectina e doxiciclina. A plataforma foi testada em Manaus, com mais de 340 profissionais de saúde cadastrados. Uma semana depois, Pazuello tentou justificar a conduta dizendo que nunca recomendou “tratamento precoce”, mas “atendimento precoce”. Na ocasião, disse: “Atendimento é uma coisa, tratamento é outra. Como leigos, às vezes falamos o nome errado. Mas temos que saber exatamente o que queremos dizer: atendimento precoce”

14 de janeiro de 2021
Manaus sem oxigênio
Os hospitais de Manaus entraram em colapso, inclusive, com falta de cilindros de oxigênio. Em live, o ministro Pazuello voltou a falar sobre medicamentos sem eficiência comprovada e disse que uma das causas para a situação da região era a “falta de atenção da capital ao tratamento precoce”. Diante da declaração de que o Ministério da Saúde foi avisado com antecedência sobre a possibilidade da falta de oxigênio nos hospitais amazonenses, o general apresentou versões diferentes sobre a data em que teria recebido essa informação e responde a inquérito, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sobre sua conduta na pandemia. Segundo o Ministério Público Federal, 28 pessoas morreram por falta de oxigênio na capital do Amazonas em janeiro de 2021.

11 de março de 2021
“Sistema de saúde não colapsou, nem vai colapsar”
No dia em que o Brasil perdeu 2.349 vidas para a COVID-19 em 24 horas, Pazuello declarou que o sistema de saúde brasileiro “não colapsou, nem vai colapsar”, em vídeo divulgado pela assessoria do Ministério da Saúde. A afirmação foi contestada por secretários de Saúde, prefeitos e governadores ao redor do país.


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