Atacado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última quinta-feira (18/3), o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, crê que a postura do chefe do Executivo nacional, ainda reticente em relação às medidas comprovadamente eficazes para barrar o coronavírus, pode trazer prejuízos ao mundo. Para o médico, se as mutações surgidas no Brasil se proliferarem, o futuro de Bolsonaro pode ser no banco dos réus no Tribunal Internacional de Haia, na Holanda. A corte é responsável por julgar crimes contra a humanidade.
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Mandetta sobre tratamento precoce: 'Até aspirina pode matar'Alianças locais moldam cenário para 2022; futuro de Kalil pode influenciarMinistério da Saúde muda orientação e pede que estados não reservem 2ª doseCNN: Brasil se tornou uma ameaça global de COVID-19Na quinta, em sua tradicional live semanal, o presidente imitou uma pessoa com falta de ar e teceu críticas a Mandetta, ministro da Saúde de janeiro de 2019 a abril do ano passado. “O apelo que eu faço a quem é contra, sem problemas. Se você começar a sentir um negócio esquisito lá, você segue a receita do ministro Mandetta. Você vai para casa, e quando você estiver lá… (sons de pessoa sufocando) com falta de ar, aí você vai para o hospital”.
Bolsonaro seguiu defendendo os medicamentos e contou sobre um diálogo que teve com Mandetta, quando este ainda era ministro da Saúde. “Na época eu perguntei pro Mandetta: Mandetta, o cara com falta de ar vai para o hospital para fazer o quê?”.
Ex-deputado federal, Mandetta crê que as críticas que tem sofrido de integrantes do Palácio do Planalto são fruto da avaliação popular sobre a postura do governo ante a pandemia. Segundo o Datafolha, 94% dos brasileiros reprovam a condução da crise por parte de Bolsonaro.
“Até os radicais estão tendo dificuldade para defender o indefensável. E aí eles olham: quem é que tinha a avaliação positiva? E esse Mandetta que estava aí. Quem é que tem a menor rejeição, porque lutou pela vida e nós ficamos com a morte? É esse Mandetta aí. Então eles olham e falam quem é que pode ter condição de ajudar, de compor chapa, de ser uma voz? É esse Mandetta”, disparou.
Ao Estado de Minas, no início deste mês, Mandetta já tinha falado sobre a estratégia do governo Bolsonaro. Para ele, o Planalto tenta desviar o foco dos próprios erros culpabilizando outras figuras e entidades, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e os ex-presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Nessa sexta (19), Bolsonaro afirmou que as medidas restritivas tomadas por governadores estaduais estão “matando” a população.
Semana de farpas entre Mandetta e Guedes
Os últimos dias foram marcados por troca de declarações entre Mandetta e Paulo Guedes, ministro da Economia. Na quarta (17), o homem de confiança de Bolsonaro disse que o processo de vacinação está atrasado desde os tempos do ex-ministro da Saúde.“A entrega da vacina não está atrasada só agora não. Desde aquela época (do Mandetta), já deveríamos estar comprando vacina, não é mesmo? O dinheiro estava lá. Então é muito fácil atribuir a A ou a B. Nós temos que responder a essa crise coletivamente”, acusou, à "CNN", mas sem levar em conta que, até abril de 2020, o desenvolvimento de imunizantes estava em fase embrionária.
“É inacreditável que o homem responsável pela economia do país esteja criando uma narrativa mentirosa para disfarçar a própria incompetência, dele e do governo do qual faz parte”, rebateu Mandetta, em declaração à "Folha de S. Paulo".
Ao "Yahoo!", o médico voltou a criticar a demora da equipe de Bolsonaro na busca por injeções. “Se o governo tivesse feito a compra, essa onda que está passando hoje não existiria, não existiria esse colapso. Já estaria chegando a hora de abrir a economia. Daqui a pouco vai abrir a da Inglaterra, a dos Estados Unidos, Israel e Chile”.