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Estado de Minas Crise política

Enquadramento de Bolsonaro pelo Centrão durou pouco

Após cobrança de bloco de apoio e 'efeito Lula', presidente da República participou de eventos com máscara de proteção, mas negacionismo falou mais alto


21/03/2021 04:00 - atualizado 20/03/2021 23:58


Brasília – Instigado pelo ressurgimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cenário político e de olho na reeleição de 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu indicações de que mudaria de rota no enfrentamento à pandemia de COVID-19, que já vitimou mais de 290 mil brasileiros. Bolsonaro foi aconselhado por auxiliares e aliados do Centrão, maior grupo de apoio ao governo, a adotar discurso moderado em relação à grave crise que continua em ascensão no país.

Assim que o petista realizou seu primeiro discurso, Bolsonaro, que costuma incitar aglomerações e criticar o uso da máscara como instrumento de proteção contra o vírus, demonstrou rápida mudança de comportamento, utilizando o acessório em uma solenidade na mesma data. Também chamado de terraplanista pelo oponente, o mandatário apareceu com um globo terrestre em uma live.

No entanto, a mudança de comportamento durou pouco. Nesta semana, Bolsonaro virou a chave do negacionismo e voltou a colocar em dúvida a lotação das unidades de terapia intensiva (UTIs) pelo país, alegando que o alto número de pacientes internados não se deve apenas à COVID-19, mas também a outros tipos de doenças.

Analistas políticos avaliam que Bolsonaro pode acabar cedendo devido à pressão sofrida e à queda da popularidade de seu governo. Como estratégia, o presidente ligou para autoridades no intuito de criar um plano nacional de enfrentamento à pandemia e assim evitar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações do governo federal no combate ao coronavírus.

O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que não há indicações de mudança. “No Ministério da Saúde, o novo ministro terá autonomia para defender lockdown, máscaras, vacinas, ser contra o tratamento precoce defendido pelo Bolsonaro? A resposta é não”, opina.

Segundo o especialista, o presidente insistirá na retórica da confrontação e no campo ideológico. “Para seu eleitorado, é uma sinalização, mas paradoxalmente o resultado disso é um desastre em termos de governança. Até mesmo a vitória dos presidentes da Câmara e do Senado, que poderia dar respiro, ele não tem conseguido sair da situação de reação. Quando chegou a possibilidade de CPI que pudesse investigar decisões do Pazuello e houve pressão política, ele reagiu. Trocou o ministro. Depois do pronunciamento de Lula, estava de máscara e colocou um globo na mesa porque Lula o chamou de terraplanista”, defendeu.

O analista político Creomar de Souza, da Consultoria Dharma, reforça que Bolsonaro deverá insistir na ideia de polarização. “A mudança do ministro envolve a troca do nome, mas com muito esforço até aqui de não alterar o percurso da narrativa do governo. O ajuste sutil é no sentido de dizer: 'A vacina é nossa arma, mas somos contrários às políticas dos governadores'. Isso porque Bolsonaro precisa de polarização”, ressalta.

Novas críticas a medidas sanitárias


O presidente Jair Bolsonaro visitou, ontem à tarde, um setor habitacional localizado na comunidade de Chaparral, em Taguatinga, no Distrito Federal, onde voltou a reclamar das necessárias medidas de isolamento social para conter o avanço da COVID-19. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente aparece fazendo fotos com moradores da região e usando máscara, apesar de ele constantemente ter descartado a utilização do acessório de proteção. Com o presidente, estava o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Na legenda da publicação, Bolsonaro escreveu: “Chaparral/Taguatinga/DF. Local onde os efeitos do 'fique em casa' são mais sentidos”. O homem que faz a gravação elogia a “coragem” de Bolsonaro ao visitar Chaparral.
 


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