Um ano depois de chamar a COVID-19 de gripezinha em cadeia nacional, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mudou o tom do discurso ao se referir ao combate à pandemia.
Bolsonaro disse que 2021 será "o ano da vacinação dos brasileiros".
Na noite dessa terça-feira (23/3), em que o país registrou 3.159 mortos pela doença em 24 horas, Pressionado agravamento do quadro pandêmico, que inclui escassez de leitos de UTI e de medicamentos para intubação de pacientes, o chefe do Executivo afirmou que seu governo "luta incansavelmente" contra o vírus, e que "desde o começo da pandemia, tem dito que os desafios são dois: o vírus e o desemprego".
A postura do mandatário destoa daquela que ele vem adotando desde de março do ano passado, de minimizar a virose e seus efeitos, sobretudo ao compará-la a uma "gripe".
A primeira comparação feita em pronunciamento oficial, transmitido via rádio e TV para todo o país, se deu em 24 de março de 2020.
"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como disse aquele famoso médico daquela famosa televisão. Enquanto estou falando, o mundo busca um tratamento para a doença" (assista no vídeo abaixo a partir de 3° minuto).
A declaração, proferida na época em que o país acumulava 47 mortos pela COVID, defendeu a volta à normalidade, com o fim das limitações de circulação impostas pelos estados. Ignorava, portanto, os alertas dos cientistas brasileiros e da comunidade internacional amplamente divulgados, de que as medidas de isolamento social e o uso de máscaras eram as maneiras mais efetivas de conter a propagação do novo coronavírus e evitar o colapso futuro dos sistemas de saúde.
Quatro dias antes do pronunciamento, ao conceder uma entrevista no Palário do Planalto, Bolsonaro já havia feito pouco da virose.
"Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar não, tá ok? Se o médico ou o ministro da Saúde me recomendar um novo exame, eu farei. Caso contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes", falou aos jornalistas em 20 de março, depois de ter se submetido a dois testes para detecção do coronavírus com resultaram negativo.
Máscara
A despeito dos registros, Bolsonaro disse em 'live' transmitida em 26 de novembro do ano passado em suas redes sociais que não há vídeo ou áudio em que ele chame COVID-19 de 'gripezinha'.
A transmissão contou com a presença do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e do secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim.
"Falei lá atrás que, no meu caso, pelo meu passado de atleta — eu não generalizei — se pegasse o COVID, não sentiria quase nada. Foi o que eu falei. Então, o pessoal da mídia, a grande mídia, falando que eu chamei de 'gripezinha' a questão do COVID. Não existe um vídeo ou um áudio meu falando dessa forma. E eu falei pelo meu estado atlético, minha vida pregressa, tá? Que eu sempre cuidei do meu corpo. Sempre gostei de praticar esporte", argumentou.
Na oportunidade, o presidente também pôs em dúvida a eficácia do uso de máscaras. Ele afirmou que um "estudo sério" seria divulgado sobre a efetividade do equipamento", mas não especificou a qual artigo se referia.
"A questão da máscara, não vou falar muito porque ainda vai ter um estudo sério falando da efetividade da máscara — se ela protege 100%, 80%, 90%, 10%, 4% ou 1%. Vai chegar esse estudo. Acho que falta apenas o último tabu a cair", declarou.
As máscaras continuam altamente recomendadas por especialistas e autoridades sanitárias nacionais e internacionais. O uso do artefato é recomendado inclusive àqueles que já foram vacinados.