A ampla reforma no governo anunciada nesta segunda-feira (29/3) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) elevou para 22 o número de trocas nos ministérios. Apenas hoje, Ernesto Araújo deixou a pasta de Relações Exteriores, Fernando Azevedo e Silva saiu do Ministério da Defesa e o advogado-geral da União, José Levi, seguiu o mesmo caminho.
Bolsonaro aproveitou para mexer na Casa Civil, no Ministério da Justiça e na Secretaria de Governo. Araújo deixou a chancelaria após balançar por dias no cargo e ter a postura do Itamaraty no enfrentamento à pandemia de COVID-19 questionada publicamente por integrantes do Congresso Nacional. Azevedo não estava cotado para cair, mas pediu para desembarcar do Planalto, mesmo caminho tomado por Levi.
A saída do advogado-geral teve “efeito-cascata”: André Mendonça deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cargo repassado a Anderson Torres, para retornar à AGU. Ele havia feito o caminho inverso em abril do ano passado, quando Sergio Moro, uma das apostas de Bolsonaro, pediu demissão.
Na Casa Civil, a “dança das cadeiras” fez Walter Braga Netto, agora no Ministério da Defesa, ceder lugar para Luiz Eduardo Ramos. Ele, por seu turno, será sucedido pela deputada federal Flávia Arruda (PL-DF). O objetivo da troca é entregar a articulação junto ao Congresso a alguém com vivência no poder Legislativo. Para chefiar as Relações Exteriores, chega Carlos Alberto França, chefe do cerimonial da Presidência.
Apesar das trocas, nem todos os ex-ministros desembarcaram do Planalto. Isso porque, além de Mendonça, Braga Netto e Ramos, há o caso de Onyx Lorenzoni, um dos “escudeiros” do presidente. O ex-deputado gaúcho, já foi mudado de função algumas vezes. Primeiro, liderou a Casa Civil por um ano, até ser tornar ministro da Cidadania em fevereiro de 2020. Neste ano, foi deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência da República.
Há, também, os que migraram para outros postos de destaque. Jorge Oliveira, ex-secretário-geral da Presidência, partiu para o Tribunal de Contas da União (TCU). O antecessor, Floriano Peixoto, foi presidir os Correios. (Veja todas as trocas ao fim deste texto).
A primeira mudança no governo Bolsonaro ocorreu menos de dois meses após a posse. Gustavo Bebianno, “fiador” da candidatura do capitão reformado, foi demitido da secretaria-geral da Presidência. Tido como homem de confiança do chefe do Executivo nacional, Bebianno era advogado dele e assumiu o comando do PSL durante o período eleitoral.
A crise inaugural do governo Bolsonaro foi deflagrada após suspeitas de candidaturas laranjas no partido e desavenças entre Bebianno e Carlos Bolsonaro (PSC), vereador no Rio de Janeiro e primogênito do presidente. Morto no ano passado, o advogado passou a disparar contra os filhos do ex-chefe e se filiou ao PSDB.
Se os laços com Bolsonaro não foram capazes de segurar Gustavo Bebianno no Palácio do Planalto, a boa avaliação popular de Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro também não bastou para evitar rotas de colisão com o presidente. Tidos como duas das principais “estrelas” do governo federal, eles saíram há quase um ano.
Em 8 de abril do ano passado, Mandetta deixou a Saúde após divergir publicamente do presidente sobre a necessidade de cumprimento das medidas restritivas necessárias para barrar o coronavírus. Defensor de atos respaldados pela ciência, o médico viu o presidente minimizar o vírus por diversas ocasiões. Eles, agora, são ferrenhos opositores.
Ex-juiz, Moro pediu demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública poucos dias após Mandetta. Ele saiu acusando Bolsonaro de tentar interferir no trabalho da Polícia Federal.
Pasta mais importante do país desde março do ano passado, quando a pandemia do novo coronavírus passou a assolar fortemente o Brasil, o Ministério da Saúde foi o que mais mudou de mãos: foram quatro comandantes em menos de um ano. Depois de Mandetta, veio o oncologista Nelson Teich, que durou menos de um mês.
Ele foi substituído pelo general Eduardo Pazuello, tido como especialista em logística. Apenas em setembro, contudo, o general foi efetivado. A pressão sobre Pazuello nunca recrudesceu e, em neste mês, ele acabou trocado pelo cardiologista Marcelo Queiroga.
A ala ideológica do governo de Jair Bolsonaro conseguiu emplacar alguns ministros. Ernesto Araújo, que pediu demissão nesta segunda, era um deles. A agenda ultraconservadora do chanceler prejudicou as relações internacionais do país. Ele teceu declarações que incomodaram fortemente parceiros históricos do Brasil, como China e Argentina.
O ex-comandante do Itamaraty estava alinhado a figuras extremistas, que se contrapunham a uma dita agenda “globalista” — ainda que, em mais de dois anos no cargo, Araújo nunca tenha explicado, de fato, do que se trata o “globalismo”.
Na Educação, Olavo de Carvalho, guru de parte das ideias reverberadas por Bolsonaro, indicou o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, que começou a perder prestígio após derrapar em sabatina na Câmara dos Deputados e não conseguir responder a questionamentos de parlamentares. Ele chegou a dizer, inclusive, que mudaria a forma como livros didáticos tratam o golpe de 1964 para "ampliar" a visão fornecida a estudantes.
Depois, veio Abraham Weintraub, conhecido por incentivar manifestações radicais. Em abril do ano passado, durante uma reunião da cúpula ministerial, ele chegou a atacar instituições democráticas. “Eu, por, mim, botava esses ‘vagabundos’ todos na cadeia, começando no Supremo Tribunal Federal (STF)”, disparou.
O parlamentar mineiro Marcelo Álvaro Antônio (PSL) foi outro entusiasta de primeira hora da candidatura de Bolsonaro à presidência da República. Ele foi ministro do Turismo por quase dois anos, mas acabou demitido em meio a investigações que apuram suspeita de desvios de recursos destinados a mulheres que disputaram a eleição de 2018 pelos quadros pesselistas.
Bolsonaro aproveitou para mexer na Casa Civil, no Ministério da Justiça e na Secretaria de Governo. Araújo deixou a chancelaria após balançar por dias no cargo e ter a postura do Itamaraty no enfrentamento à pandemia de COVID-19 questionada publicamente por integrantes do Congresso Nacional. Azevedo não estava cotado para cair, mas pediu para desembarcar do Planalto, mesmo caminho tomado por Levi.
A saída do advogado-geral teve “efeito-cascata”: André Mendonça deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cargo repassado a Anderson Torres, para retornar à AGU. Ele havia feito o caminho inverso em abril do ano passado, quando Sergio Moro, uma das apostas de Bolsonaro, pediu demissão.
Na Casa Civil, a “dança das cadeiras” fez Walter Braga Netto, agora no Ministério da Defesa, ceder lugar para Luiz Eduardo Ramos. Ele, por seu turno, será sucedido pela deputada federal Flávia Arruda (PL-DF). O objetivo da troca é entregar a articulação junto ao Congresso a alguém com vivência no poder Legislativo. Para chefiar as Relações Exteriores, chega Carlos Alberto França, chefe do cerimonial da Presidência.
Apesar das trocas, nem todos os ex-ministros desembarcaram do Planalto. Isso porque, além de Mendonça, Braga Netto e Ramos, há o caso de Onyx Lorenzoni, um dos “escudeiros” do presidente. O ex-deputado gaúcho, já foi mudado de função algumas vezes. Primeiro, liderou a Casa Civil por um ano, até ser tornar ministro da Cidadania em fevereiro de 2020. Neste ano, foi deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência da República.
Há, também, os que migraram para outros postos de destaque. Jorge Oliveira, ex-secretário-geral da Presidência, partiu para o Tribunal de Contas da União (TCU). O antecessor, Floriano Peixoto, foi presidir os Correios. (Veja todas as trocas ao fim deste texto).
Homem de confiança foi o primeiro demitido
A primeira mudança no governo Bolsonaro ocorreu menos de dois meses após a posse. Gustavo Bebianno, “fiador” da candidatura do capitão reformado, foi demitido da secretaria-geral da Presidência. Tido como homem de confiança do chefe do Executivo nacional, Bebianno era advogado dele e assumiu o comando do PSL durante o período eleitoral.
A crise inaugural do governo Bolsonaro foi deflagrada após suspeitas de candidaturas laranjas no partido e desavenças entre Bebianno e Carlos Bolsonaro (PSC), vereador no Rio de Janeiro e primogênito do presidente. Morto no ano passado, o advogado passou a disparar contra os filhos do ex-chefe e se filiou ao PSDB.
“Estrelas” também caíram
Se os laços com Bolsonaro não foram capazes de segurar Gustavo Bebianno no Palácio do Planalto, a boa avaliação popular de Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro também não bastou para evitar rotas de colisão com o presidente. Tidos como duas das principais “estrelas” do governo federal, eles saíram há quase um ano.
Em 8 de abril do ano passado, Mandetta deixou a Saúde após divergir publicamente do presidente sobre a necessidade de cumprimento das medidas restritivas necessárias para barrar o coronavírus. Defensor de atos respaldados pela ciência, o médico viu o presidente minimizar o vírus por diversas ocasiões. Eles, agora, são ferrenhos opositores.
Ex-juiz, Moro pediu demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública poucos dias após Mandetta. Ele saiu acusando Bolsonaro de tentar interferir no trabalho da Polícia Federal.
Troca-troca na Saúde
Pasta mais importante do país desde março do ano passado, quando a pandemia do novo coronavírus passou a assolar fortemente o Brasil, o Ministério da Saúde foi o que mais mudou de mãos: foram quatro comandantes em menos de um ano. Depois de Mandetta, veio o oncologista Nelson Teich, que durou menos de um mês.
Ele foi substituído pelo general Eduardo Pazuello, tido como especialista em logística. Apenas em setembro, contudo, o general foi efetivado. A pressão sobre Pazuello nunca recrudesceu e, em neste mês, ele acabou trocado pelo cardiologista Marcelo Queiroga.
Discurso ideológico derrubou dois na Educação e chanceler
A ala ideológica do governo de Jair Bolsonaro conseguiu emplacar alguns ministros. Ernesto Araújo, que pediu demissão nesta segunda, era um deles. A agenda ultraconservadora do chanceler prejudicou as relações internacionais do país. Ele teceu declarações que incomodaram fortemente parceiros históricos do Brasil, como China e Argentina.
O ex-comandante do Itamaraty estava alinhado a figuras extremistas, que se contrapunham a uma dita agenda “globalista” — ainda que, em mais de dois anos no cargo, Araújo nunca tenha explicado, de fato, do que se trata o “globalismo”.
Na Educação, Olavo de Carvalho, guru de parte das ideias reverberadas por Bolsonaro, indicou o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, que começou a perder prestígio após derrapar em sabatina na Câmara dos Deputados e não conseguir responder a questionamentos de parlamentares. Ele chegou a dizer, inclusive, que mudaria a forma como livros didáticos tratam o golpe de 1964 para "ampliar" a visão fornecida a estudantes.
Depois, veio Abraham Weintraub, conhecido por incentivar manifestações radicais. Em abril do ano passado, durante uma reunião da cúpula ministerial, ele chegou a atacar instituições democráticas. “Eu, por, mim, botava esses ‘vagabundos’ todos na cadeia, começando no Supremo Tribunal Federal (STF)”, disparou.
Escândalo gerou demissão de mineiro
O parlamentar mineiro Marcelo Álvaro Antônio (PSL) foi outro entusiasta de primeira hora da candidatura de Bolsonaro à presidência da República. Ele foi ministro do Turismo por quase dois anos, mas acabou demitido em meio a investigações que apuram suspeita de desvios de recursos destinados a mulheres que disputaram a eleição de 2018 pelos quadros pesselistas.
Mudanças no governo Bolsonaro
- Gustavo Bebianno - deixou a secretaria-geral da Presidência - fev/19
- Ricardo Vélez Rodríguez - deixou o Ministério da Educação - abr19
- Carlos Santos Cruz - deixou a Secretaria de Governo - jun/19
- Floriano Peixoto - deixou secretaria-geral da Presidência - jun/19
- Onyx Lorenzoni - deixou Casa Civil - fev/20
- Osmar Terra - deixou o Ministério da Cidadania - fev/20
- Gustavo Canuto - deixou o Ministério do Desenvolvimento Regional - fev/20
- Luiz Henrique Mandetta - Ministério da Saúde - abr/20
- Sergio Moro - deixou Ministério da Justiça e Seg. Pública - abr/20
- André Mendonça - deixou a Advocacia-Geral da União - abr/20
- Nelson Teich - deixou o Ministério da Saúde - mai/20
- Abraham Weintraub - deixou o Ministério da Educação - jun/20
- Marcelo Álvaro Antônio - deixou o Ministério do Turismo - dez/20
- Jorge Oliveira - deixou a Secretaria-Geral da Presidência- dez/20
- Onyx Lorenzoni - deixou o Ministério da Cidadania - fev/21
- Eduardo Pazuello - deixou o Ministério da Saúde - mar/21
A reforma desta segunda (29/3)
- Ernesto Araújo - deixou o Ministério das Relações Exteriores - entrou Carlos Alberto França
- Fernando Azevedo e Silva deixou o Ministério da Defesa - entrou Walter Braga Netto
- José Levi - deixou a AGU - entrou André Mendonça
- André Mendonça - deixou o Ministério da Justiça - entrou Anderson Torres
- Walter Braga Netto - deixou a Casa Civil - entrou Luiz Eduardo Ramos
- Luiz Eduardo Ramos - deixou a Secretaria de Governo - entrou Flávia Arruda