Brasília – O novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, tem pressa para nomear logo os futuros comandantes das Forças Armadas. Ele pretende concluir o processo em um ou dois dias, no máximo, para apresentar as opções ao presidente Jair Bolsonaro.
A meta de Braga Netto e do governo é encerrar o mais rapidamente possível a crise aberta nos quartéis, detonada após a demissão do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa, e ampliada com a exoneração do general Edson Pujol (Exército), do brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) e do almirante Ilques Barbosa (Marinha).
Depois de demitir Azevedo e Silva, Bolsonaro incumbiu Braga Netto de demitir os comandantes das Forças Armadas. A decisão foi comunicada por Braga Netto aos três oficiais, em reunião da qual Azevedo também participou.
Há clima de perplexidade no comando das Forças Armadas. A ideia inicial de Bolsonaro era demitir apenas Edson Pujol. Mas o Planalto foi avisado de que, caso isso ocorresse, Ilques Barbosa Júnior e Antonio Carlos Bermudez seriam solidários ao general. Na reunião da noite de segunda-feira, após a demissão de Azevedo e Silva, os três comandantes fecharam questão de que não renunciariam aos cargos. Isso, inclusive, foi dito nas reuniões que eles tiveram com os altos-comandos das Forças, cada um com a sua.
A decisão de Bolsonaro de trocar o comando das Forças Armadas gerou a maior crise entre os militares e o governo desde a década de 1970, quando Ernesto Geisel trocou o ministro do Exército. Na força terrestre, a visão é de que o presidente tenta fazer uso político de instituições de Estado.
No entanto, com a queda dos comandantes, a avaliação é de que os oficiais devem deixar o recado claro ao governo de que nenhuma das três forças vai apoiar ou se aventurar em medidas autoritárias, e que as intenções do presidente não terão sucesso, caso ele insista. “Isso jamais ocorrerá. Nenhum general de ontem, hoje e sempre permitirá isso”, disse um general do Exército consultado pela reportagem.
No entanto, com a queda dos comandantes, a avaliação é de que os oficiais devem deixar o recado claro ao governo de que nenhuma das três forças vai apoiar ou se aventurar em medidas autoritárias, e que as intenções do presidente não terão sucesso, caso ele insista. “Isso jamais ocorrerá. Nenhum general de ontem, hoje e sempre permitirá isso”, disse um general do Exército consultado pela reportagem.
O vice-presidente Hamilton Mourão negou qualquer risco de golpe militar depois da troca do comando das Forças Armadas. “Pode botar quem quiser, não tem ruptura institucional. As Forças Armadas vão se pautar pela legalidade, sempre”. Segundo Mourão, o país precisa focar no que realmente importa no momento: o combate à pandemia.
ENTREVISTA
De acordo com interlocutores do presidente, no domingo, ele leu a entrevista do general Paulo Sérgio Nogueira, chefe do Departamento-Geral de Pessoal do Exército, e se irritou com as declarações que destacaram medidas que impediram mortes por COVID-19 no Exército. Fontes militares informaram que a reunião com Braga e Azevedo foi tensa, com discussões acaloradas.
O comandante da Marinha, Ilques Barbosa, se posicionou claramente contra as intenções do Planalto, principalmente pela troca no comando do Exército. Braga Netto, de acordo com fontes, já chegou à reunião com a ordem expressa do presidente para trocar os comandos – o que poderia ocorrer imediatamente ou de maneira escalonada, com período de transição.
Os militares se negaram a aceitar qualquer determinação de Bolsonaro. A intenção dos três comandantes com o gesto é deixar claro que não dariam um passo que possa contrariar a Constituição ou caracterizar ingerência nos outros poderes, o Judiciário e o Legislativo.
O comandante da Marinha, Ilques Barbosa, se posicionou claramente contra as intenções do Planalto, principalmente pela troca no comando do Exército. Braga Netto, de acordo com fontes, já chegou à reunião com a ordem expressa do presidente para trocar os comandos – o que poderia ocorrer imediatamente ou de maneira escalonada, com período de transição.
Os militares se negaram a aceitar qualquer determinação de Bolsonaro. A intenção dos três comandantes com o gesto é deixar claro que não dariam um passo que possa contrariar a Constituição ou caracterizar ingerência nos outros poderes, o Judiciário e o Legislativo.
O preferido do presidente para ocupar o comando do Exército é o general Marco Antônio Freire Gomes. No entanto, se ele for alçado ao posto, leva quatro generais quatro-estrelas mais antigos para a reserva. Pela hierarquia militar, se um mais novo assume o cargo mais elevado da força terrestre (abaixo do presidente), os outros passam para a reserva para não ocorrer quebra da ordem hierárquica.
Além da troca na Defesa e a consequente mudança na Casa Civil, o presidente da República também mexeu no Itamaraty, na Secretaria de Governo, na Advocacia-Geral da União (AGU) e no Ministério da Justiça.
Para a vaga de Walter Braga Netto na Casa Civil foi Luiz Eduardo Ramos, que estava na Secretaria de Governo. O posto, responsável por encabeçar as articulações junto ao Congresso, ficou com a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF).
André Mendonça, que estava na Justiça, deixou o posto para retornar à AGU, de onde José Levi pediu demissão nesta segunda. Para o ministério, foi escolhido o delegado Anderson Torres, secretário de Segurança do Distrito Federal. O ex-chanceler Ernesto Araújo, por seu turno, terá Carlos Alberto França, responsável pelo cerimonial do presidente, como sucessor.
Para a vaga de Walter Braga Netto na Casa Civil foi Luiz Eduardo Ramos, que estava na Secretaria de Governo. O posto, responsável por encabeçar as articulações junto ao Congresso, ficou com a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF).
André Mendonça, que estava na Justiça, deixou o posto para retornar à AGU, de onde José Levi pediu demissão nesta segunda. Para o ministério, foi escolhido o delegado Anderson Torres, secretário de Segurança do Distrito Federal. O ex-chanceler Ernesto Araújo, por seu turno, terá Carlos Alberto França, responsável pelo cerimonial do presidente, como sucessor.
Bermudez diz que foi demitido
Brasília – O ex-comandante da Aeronáutica, Antonio Carlos Bermudez, afirmou, em sua carta de despedida, que a Força Aérea Brasileira é uma instituição de Estado e que a missão de seus integrantes é “balizada pelos inarredáveis preceitos constitucionais”. No texto, ele disse que foi exonerado por decisão do presidente Jair Bolsonaro.
“Na manhã de hoje, tomei conhecimento da decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro, de exonerar-me do comando da Força Aérea Brasileira. Recebi essa notícia como um bom soldado, que dedicou 46 anos de sua vida a servir seu país”, escreveu ele no texto enviado aos integrantes do comando da Aeronáutica.
No documento, o brigadeiro afirmou também: “Ao deixar o comando da Aeronáutica, meu sentimento é de gratidão aos que labutaram ao meu lado, direta e indiretamente, para que a Força Aérea, uma instituição de Estado, servisse ao povo brasileiro em todos os seus chamados”.
TEMPOS DIFÍCEIS
Ele ainda ressaltou os “tempos difíceis” da pandemia do novo coronavírus e fez agradecimentos ao efetivo da Força Aérea Brasileira que atua durante a crise sanitária, ressaltando que o objetivo é salvar vidas. “Prezados integrantes da Força Aérea, acreditem na relevância da nossa missão, que, balizada pelos inarredáveis preceitos constitucionais, coopera para a soberania daquilo que nos cabe: o espaço aéreo.”
Na segunda-feira, os três comandantes das Forças Armadas indicaram a possibilidade de entregar os cargos depois de serem surpreendidos pela demissão sumária do ministro da Defesa. A troca no comando da Defesa reflete o desejo do presidente Jair Bolsonaro de maior alinhamento político das Forças Armadas. Com a repercussão, Braga Netto e Azevedo atuaram para evitar que a crise militar crescesse.
Santos Cruz descarta politização do Exército
Brasília – Ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz afirmou que "politizar o Exército é quebrar e subverter a hierarquia das Forças Armadas”.
“O Exército não é instrumento para resolver questões políticas. Se você tem diferenças com os governadores, você resolve com os governadores”, afirmou, ao ser questionado sobre as intenções do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação às Forças Armadas. De acordo com Santos Cruz, seria "distorção ou falta de capacidade política" usar as Forças Armadas para ataques políticos.
“O Exército não é instrumento para resolver questões políticas. Se você tem diferenças com os governadores, você resolve com os governadores”, afirmou, ao ser questionado sobre as intenções do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação às Forças Armadas. De acordo com Santos Cruz, seria "distorção ou falta de capacidade política" usar as Forças Armadas para ataques políticos.
“A reforma ministerial acontece em determinados momentos do governo. É uma coisa gradativa do presidente”, explicou Santos Cruz. “Em contrapartida, nesta chama a atenção o motivo pelo qual está sendo feita”, disse Santos Cruz. Segundo o ex-ministro, o Brasil vive um momento “extremamente perigoso” onde não “pode acontecer uma polarização política”. Caso isso aconteça, Santos Cruz pontuou que seria um “absurdo, abuso e inaceitável".
Questionado sobre um possível golpe militar após a troca de comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, Santos Cruz rejeitou a possibilidade. “As Forças Armadas não são instrumentos de intimidação política, de pressão política ou poder pessoal”, afirmou.
“Não sei se ele (Bolsonaro) trocou por isso. Mas, se isso aconteceu, é um absurdo. É inaceitável. Acredito na formação dos comandantes. Eles vão seguir a Constituição”, completou. Sobre algumas manifestações on-line, em que integrantes do Exército organizaram manifestações para comemorar o golpe militar de 1964, o general classificou essas ações como “fanatismo”.
“Não sei se ele (Bolsonaro) trocou por isso. Mas, se isso aconteceu, é um absurdo. É inaceitável. Acredito na formação dos comandantes. Eles vão seguir a Constituição”, completou. Sobre algumas manifestações on-line, em que integrantes do Exército organizaram manifestações para comemorar o golpe militar de 1964, o general classificou essas ações como “fanatismo”.
ENQUANTO ISSO...
...Na AGU tem posse rápida
O presidente Jair Bolsonaro deu posse ontem à tarde aos ministros André Mendonça na Advocacia-Geral da União (AGU) e a Anderson Torres no Ministério da Justiça e Segurança Pública. A rápida solenidade ocorreu no gabinete, a portas fechadas.
Mendonça retornou ao cargo que ocupou até abril do ano passado e substitui José Levi, que foi demitido após não ter assinado a ação que o Bolsonaro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir governadores de adotarem medidas restritivas de circulação durante o agravamento da pandemia.
Já o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, entrou no posto de Mendonça. Ele anunciou a assinatura da posse por meio das redes sociais.
Mendonça retornou ao cargo que ocupou até abril do ano passado e substitui José Levi, que foi demitido após não ter assinado a ação que o Bolsonaro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir governadores de adotarem medidas restritivas de circulação durante o agravamento da pandemia.
Já o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, entrou no posto de Mendonça. Ele anunciou a assinatura da posse por meio das redes sociais.