O presidente Jair Bolsonaro abriu a maior crise de um governo com as Forças Armadas nos últimos 50 anos. Depois de demitir o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o chefe do Executivo determinou que os comandantes das FAs deixassem as funções.
No Exército, sai do cargo Edson Pujol; na Marinha, Ilques Barbosa; e na Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez. A expectativa é de que os novos ocupantes dos cargos sejam definidos ainda nesta semana, podendo a decisão sair hoje, após indicação do oficialato de cada uma das três instituições.
No Exército, sai do cargo Edson Pujol; na Marinha, Ilques Barbosa; e na Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez. A expectativa é de que os novos ocupantes dos cargos sejam definidos ainda nesta semana, podendo a decisão sair hoje, após indicação do oficialato de cada uma das três instituições.
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Para deputados do Centrão, é preciso manter 'vigilância'Governo corre para nomear novo comando das Forças Armadas e abafar criseBraga Netto: 'Movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil'De acordo com fontes, Braga Netto já chegou à reunião com a ordem expressa de Bolsonaro para trocar os comandos — o que poderia ocorrer imediatamente ou de maneira escalonada, com período de transição. Os militares se negaram a aceitar qualquer determinação do chefe do Planalto. A decisão foi vista como um desrespeito às FAs, que não aceitaram fazer parte de uma jogada política do Executivo, cujo principal foco seria usar as instituições contra governadores e prefeitos que adotaram medidas restritivas para conter a covid-19.
Mesmo com a saída dos comandantes, a possibilidade de politização das Forças Armadas é descartada por fontes nas instituições. “A avaliação é de que os generais devem deixar o recado claro ao governo de que nenhuma das três Forças vai apoiar ou se aventurar em medidas autoritárias e que as intenções do presidente não terão sucesso, caso ele insista. Isso jamais ocorrerá. Nenhum general de ontem, hoje e sempre permitirá isso”, disse um general, ouvido sob a condição de anonimato.
Outro oficial, do Alto Comando, afirmou que a troca do ministro da Defesa é comum, mas que efetivá-la antes do fim do mandato é visto como um ato de hostilidade e desrespeito. De qualquer forma, ele destacou que as instituições devem manter a independência. “Trocar ministro é normal. Bolsonaro tem essa prerrogativa. Ministro não tem carreira sólida”, defendeu o militar. “É difícil haver interferência nas Forças Armadas, porque, para comandar, a pessoa tem de ter uma carreira brilhante. Não é só chegar e dizer que quer. Um general de quatro estrelas comandou as instituições mais importantes.”
A apreensão é grande, no entanto, em relação aos novos nomeados, já que assumirão sob suspeita de alinhamento político com o presidente. O comando do Exército está no centro das atenções, por ser responsável pela condução de um contingente de 220 mil homens.
O mais cotado para assumir a Força é Décio Luís Schons, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia. Ele tem reunião marcada, hoje, com Braga Netto.
Reação política
O Congresso reagiu às mudanças. Enquanto alguns parlamentares viram ameaças à democracia, outros avaliaram como situações cotidianas. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse não ver riscos de ruptura institucional na demissão de Azevedo e na troca de comando das FAs. Para o parlamentar, as mudanças fazem parte das prerrogativas de Bolsonaro. Ele alertou, porém, que não se pode permitir que “fatos paralelos sirvam de cortina de fumaça” para desviar as atenções do principal problema do país no momento, a pandemia.
Pacheco disse confiar que as FAs continuam comprometidas com o respeito à Constituição e ao Estado democrático de direito. “Eu não consigo antever o que é a intenção exata do presidente. Minha visão é de que se trata de uma troca ministerial dentro dos limites da prerrogativa do presidente da República em fazer as suas substituições”, afirmou. O parlamentar falou, também, sobre um requerimento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), pedindo que Braga Netto seja convidado a dar esclarecimentos ao Senado sobre a troca dos comandos nas Forças. De acordo com ele, o requerimento será discutido na reunião do colégio de líderes, na segunda-feira.
Na avaliação da deputada Sâmia Bonfim (Psol-SP), as mudanças promovidas pelo presidente na Defesa refletem isolamento e a queda de popularidade do chefe do governo. “Bolsonaro se mostra bastante acuado diante do momento em que aumenta a rejeição ao seu governo e que ele não encontrou, nos comandos das Forças Armadas, um ponto de apoio para sua linha autoritária, golpista, mas também obscurantista de lidar com a pandemia da covid-19”, disparou.