Moderado, técnico e organizado. Assim é definido por colegas o novo comandante do Exército, general Paulo Sérgio. Ele foi comandante militar do Norte e tem especialidade em atuação na área da Amazônia, tanto em logística quanto em segurança de fronteira e saúde.
Respeitado no meio militar, Paulo Sérgio estava, até agora, à frente das ações de combate à pandemia da COVID-19 dentro da força-terrestre.
A difícil missão de enfrentar o maior desafio de saúde pública do século foi dada ao general em março do ano passado, quando o Brasil registrava os primeiros casos da doença, que já se alastrava na Europa e desafiava a China.
Uma entrevista concedida ao Correio Braziliense, publicada no último domingo (28/3), foi o estopim para a crise entre o governo e os militares.
Paulo Sérgio destacou as ações de combate à doença, adotando medidas totalmente opostas às colocadas em prática pelo governo federal.
Sob a gestão do general, o Departamento-Geral de Pessoal (GDP) do Exército estabeleceu campanhas massivas para o uso de máscaras, distanciamento, isolamento, testagem em massa e higienização das mãos.
O resultado foi uma taxa de mortalidade de 0,13% na força. Na população em geral, a mortalidade é de 2,5%. Nos hospitais militares, os medicamentos utilizados são baseados em recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em sentido oposto, o Ministério da Saúde chegou a adotar protocolo endossando o uso de medicamentos sem comprovação cientifica comprovada contra a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina.
Sob a gestão de Paulo Sérgio, esses medicamentos só podem ser usados em consenso entre médico e paciente, e o doente deve assinar um termo de responsabilidade reconhecendo os riscos de fazer uso de remédios sem eficiência contra a doença.
A escolha do oficial para o comando de um contingente de 220 mil militares representa um recuo do presidente Jair Bolsonaro e maior influência das Forças Armadas no governo.
O chefe do Executivo decidiu demitir o então ministro Fernando Azevedo após ler a entrevista e mostrar descontentamento com as declarações. Em seguida, foram demitidos os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Previsão e testagem
Na entrevista publicada pelo Correio, o general Paulo Sérgio destacou as medidas sanitárias adotadas na força e o sucesso em meio a uma crise sem precedentes.
"Os números são relativamente bons em relação à população em geral por conta da prevenção que temos. O índice de letalidade é muito baixo, menor do que na rede pública, graças a essa conscientização, essa compreensão, que é o que eu acho que, se melhorasse no Brasil, provavelmente, o número de contaminados seria bem menor", disse Paulo Sérgio.
Ele explicou que as medidas são necessárias para conter a transmissão, pois o sistema de saúde não tem capacidade de atender a população, militar ou civil, caso todos adoeçam ao mesmo tempo.
"Iniciamos a operação covid com 84 leitos de UTI em toda a rede. Fruto de equipamento comprado e transformação da estrutura dos hospitais, chegamos a 280 leitos de UTI em toda a rede militar. Há hospitais da rede pública de São Paulo, daqueles grandes, que têm 280 leitos. Então, é uma rede muito restrita, que mal atende à própria Força. Inclusive, temos convênios com a rede privada, que chamamos de organizações civis de saúde", completou.
Paulo Sérgio também explicou que o país vive uma situação grave, e destacou que o Exército pode atuar na adoção de medidas sanitárias, como o fechamento de estradas para evitar a circulação de pessoas.
"Nós temos organizações militares muito capacitadas, na área de defesa química, biológica. Capacitamos mais de 5 mil militares no Brasil na parte de descontaminação. Hoje, todos os nossos quartéis têm pelotão, de 30 homens, por exemplo, capacitado. É muito comum a imagem daquele grupo de militares encapados, em aeroportos, portos, praças públicas. Em Belém, eu montei a patrulha do ponto de ônibus, com uma equipe protegida, equipamento apropriado, e saía na avenida à noite para desinfetar", contou.
Por fim, o general afirmou que a segunda onda da pandemia está trazendo maior desafios, maior impacto e baixas, mas que já existe a preocupação com uma terceira onda da doença.
"Quando soubemos que França e Alemanha estão começando novo lockdown com esta terceira onda, imaginamos que, como ocorreu na segunda, que começa na Europa, dois meses depois se alastra por outros continentes. Temos de estar preparados no Brasil. Não podemos esmorecer. É trabalhar, melhorar a estrutura física dos nossos hospitais, ter mais leitos, recursos humanos para, se vier uma onda mais forte, a gente ter capacidade de reação", completou.