O “Movimento 100+”, liderado pelo prefeito de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Daniel Sucupira (PT), que convocou os chefes de executivos de 39 cidades mineiras, todas com população superior a 100 mil habitantes, para cobrar mais ações do Governdo Estadual em relação ao enfrentamento da pandemia, acabou sofrendo uma divisão.
Uma parte dos prefeitos decidiu não aderir ao movimento por entender que a mobilização tem conotação político-partidária contra o governador Romeu Zema (Novo) e de favorecimento ao PT e ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). O que levou a essa “interpretação” foi uma reunião prevista para a tarde desta sexta-feira (16/4), na sede da prefeitura da Capital, com a participação de Kalil.
A reunião foi marcada pelo comando do “Movimento 100+”, que cumpre agenda presencial na capital, nesta sexta-feira, com encontros previstos também com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus Filho (PV) e com o Procurador-Geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior.
O “racha” no movimento foi liderado pelo prefeito de Coronel Fabriciano (Vale do Aço), Marcus Vinicius Bizarro (PSDB), também vice-presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), que entende que a realização da reunião na prefeitura de BH é uma demonstração de tendência de apoio ao prefeito Alexandre Kalil, num possível enfrentamento com o governador Romeu Zema na sucessão estadual do ano que vem.
O prefeito de Teófilo Otoni, no entanto, desmente que a mobilização tenha qualquer viés político-partidário. “Esse movimento é um pedido de socorro, e nós, prefeitos, como legítimos representantes dos municípios, estamos fazendo junto às autoridades para que nossa população não padeça sem saúde e sem assistência e que tenha a vida plena que merece”, sustenta Daniel Sucupira.
Apesar da argumentação de Sucupira, o prefeito de Coronel Fabriciano é taxativo em afirmar que o movimento tem como objetivo “fazer pré-campanha eleitoral, “contra o governador (Romeu Zema) e para (a favor) do (prefeito Alexandre) Kali”.
“Não defendo A ou B. Só acho que o movimento é inoportuno. Estamos com uma situação (difícil) de saúde pública. Se o movimento é municipalista, a casa dos prefeitos é a AMM e não a Prefeitura de Belo Horizonte”, afirma Marcus Vinicius.
Ele declarou que não vai participar da mobilização em Belo Horizonte nesta sexta-feira, por considerar que trata-se de “movimento politico-partidário”. A reportagem do Estado de Minas apurou que, também por temerem o vínculo do movimento com a disputa eleitoral, os prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão (PP), e de Montes Claros, Humberto Souto (Cidadania), teriam decidido não aderir ao movimento.
O chefe do executivo de Coronel Fabriciano disse que, em grupo de discussão no whatsApp, manifestou o seu pensamento de que a reunião dos prefeitos das cidades com mais de 100 mil habitantes não deveria ocorrer na sede da PBH, mas sim na Associação Mineira de Municípios, mas que encontrou a resistência da liderança do movimento.
“Percebi que não se tratava de uma demanda municipalista. Pelo contrário, minha percepção foi que tinha um viés político partidário. Imediatamente abandonei (o movimento) e comuniquei ao presidente da AMM, Julvan Lacerda , alertando-o”, relata Marcus Vinicius.
O líder do “Movimento 100 ”, Daniel Sucupira, rebate a argumentação do prefeito de Coronel Fabriciano e garante que a mobilização não tem nenhuma conotação politico-partidária. Ele lembra que os prefeitos atuais ainda não estão pensando em projetos eleitorais porque venderam as eleições no ano passado. “Neste ano não tem eleição. A eleição para governador será no ano que vem”, assinala.
“A realidade que temos agora é um sofrimento e dificuldades pelas quais têm passado os mineiros e mineiras. E os prefeitos, na linha de frente (de enfrentamento do coronavirus) estão tendo as mesmas dificuldades de conduzir esta pandemia em um momento tão difícil”, afirma Sucupira.
O prefeito de Teófilo Otoni também nega que a reunião na prefeitura de BH tenha como objetivo algum favorecimento a Alexandre Kalil. “Desde o início, quando o prefeito Kalil fez sua adesão ao “Movimento 100 ”, ele deixou claro que não aceita nenhum tipo de movimento politico partidário. A linha dele é a mesma linha que eu sigo e todos os prefeitos que estão envolvidos no movimento têm. Não é hora de fazer politica. É hora de cuidar da vida do povo”, assegura.
“Nesse evento, entendemos quem precisamos agregar e buscar qualquer forma e energia que possam nos ajudar a solucionar a situação que os municípios estão vivendo”, afirma Sucupira. Ele salienta que por isso vai procurar o Ministério Publico, a Prefeitura de BH e Assembleia Legislativa, pretendendo ainda levar as reivindicações dos municípios “a outros órgãos como o Governo do Estado”.
Segundo Daniel Sucupira, na pauta de reivindicações junto ao Governo Estadual, o 'Movimento 100' enumerou cinco pontos. O primeiro é a busca de mais recursos para as prefeituras enfrentarem a pandemia. A segunda reivindicação é que a liberação de recursos em atraso que os municípios têm a receber do estado na área de saúde.
O movimento cobra do Governo do Estado o envio de insumos e medicamentos (kit intubação) para manutenção de pacientes da COVID-19 sedados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais.
De acordo com Sucupira, as prefeituras querem apoio financeiro do Estado para socorrerem as famílias necessitadas com um auxílio emergencial de R$ 600,00. Outra solicitação é da agilização do envio das doses da vacina contra a COVID-19 para os municípios.