Aliada do presidente da República, Jair Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) ingressou com ação na Justiça Federal para impedir que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) seja relator da CPI da COVID. Com minoria na comissão, o Palácio do Planalto cedeu e aceitou o acordo fechado por senadores independentes e de oposição que definiu Renan na função. O emedebista tem feito duras críticas à gestão federal no enfrentamento da pandemia.
Leia Mais
Prefeito de Poços de Caldas grava vídeo para esclarecer flagrante em barAlexandre nega novo pedido de Witzel para suspender processo de impeachmentBolsonaro: 'O Exército assegura que ninguém pode ir além da Constituição'CPI da COVID será instalada em 27/4 e senadores vão convocar ex-ministrosInstalação da CPI da COVID fica para a semana que vemCPI da COVID: ex-ministro Ernesto Araújo será um dos primeiros alvos"A presença de alguém com 43 processos e 6 inquéritos no STF evidentemente fere o princípio da moralidade administrativa", escreveu a deputada no Twitter. Segundo ela, outros parlamentares também vão acionar a Justiça para barrar Renan.
Cabe ao relator elaborar o parecer final da CPI, podendo incluir o possível indiciamento de autoridades e recomendações sobre mudanças em legislações e outras medidas a serem adotadas. O texto, porém, deve ser aprovado pela maioria dos integrantes.
De acordo com a assessoria de Zambelli, a ação protocolada é contra senadores da CPI da Covid que se enquadrem nos casos legais de suspeição ou impedimento. O senador é pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).
Repasses federais a governos estaduais são objetos de apuração da comissão. Além dele, o senador Jader Barbalho (MDB-PA), pai do governador do Pará, Helder Barbalho, integra o colegiado. Jader, porém, é suplente.
A CPI deve começar a funcionar nesta quinta-feira, 22, ou na próxima semana. O acordo fechado entre a maior parte dos integrantes prevê que Omar Aziz (PSD-AM) seja o presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) seja o vice, além de Renan na função de relator.
O Planalto agiu na semana passada para que o senador do MDB não fosse relator, uma função estratégica na CPI. Além de ser crítico de Bolsonaro, ele apoia o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os senadores bolsonaristas são minoria na comissão e o nome do alagoano deve ser confirmado. Na noite da última sexta-feira, 16, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ligou para integrantes da comissão informando que o Executivo não tentaria boicotar mais a escolha de Renan.
Apesar disso, durante todo o fim de semana, apoiadores de Bolsonaro escreveram várias mensagens nas redes sociais contra a indicação de Renan para a função. Na tarde desta segunda, a hashtag RenanSuspeito ficou entre os assuntos mais comentados da rede social.
O ex-presidente do Senado disse ao jornal O Estado de S. Paulo desconhecer os motivos pelos quais o governo não quer ele como relator e afirmou que, se for escolhido para a tarefa, fará com a CPI investigue fatos e não pessoas. "Não sei que raiva o governo tem de mim", afirmou.
Outros investigados
Renan não é o único investigado a compor a comissão. Outros seis - quatro titulares e três suplentes - também são alvo de processos, incluindo nomes alinhados ao Palácio do Planalto, como o senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI).
Até mesmo Aziz, que deve presidir a comissão, já foi alvo de operação da Polícia Federal que aponta desvios de recursos da saúde.
A investigação está relacionada ao período em que Aziz governou o Amazonas, de 2011 a 2014. A mulher do senador, três irmãos dele e um ex-chefe de gabinete chegaram a ser presos, em 2019, em um desdobramento do caso.