Jornal Estado de Minas

Sob ataque

Bolsonaro encara Cúpula do Clima e deve reforçar carta enviada a Biden

A Cúpula de Líderes sobre o Clima, que começa hoje, será mais um desafio para o governo de Jair Bolsonaro, que tem no meio ambiente um das áreas mais criticadas do seu governo. A tendência é de que o mandatário reafirme pontos da carta que enviou ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na semana passada, na qual se comprometeu a erradicar o desmatamento ilegal no país até 2030, mas enfatizou a necessidade de recursos financeiros internacionais para atingir o objetivo.





 

Ambientalistas criticaram o teor da carta, associando a postura de Bolsonaro à do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado pela Polícia Federal de chefiar uma organização criminosa especializada em desmatar a Amazônia para comercializar ilegalmente madeiras. O titular da pasta sustenta que, para conter o desmatamento, o Brasil precisa de US$ 1 bilhão. Também diz que o país deveria receber US$ 133 bilhões em créditos de carbono pelas reduções nas emissões entre 2006 e 2017.

 

O vice-presidente Hamilton Mourão chegou a reprovar a postura de Bolsonaro ante os americanos. Em conversa com jornalistas, na segunda-feira, o general, que é presidente do Conselho da Amazônia, disse que o Brasil não pode se comportar como um mendigo na relação com os Estados Unidos. No Planalto, a declaração foi mal recebida, e Mourão acabou excluído de todas as negociações com estrangeiros para a Cúpula e não teve acesso ao discurso que será feito pelo chefe do Executivo no encontro.

Além disso, na terça-feira, governadores enviaram uma carta a Biden em que se colocaram à disposição para cooperar com a emergência climática. O movimento foi visto como um contraponto ao de Bolsonaro. “A coalizão Governadores pelo Clima, ampla e diversa, envolvendo progressistas, moderados e conservadores, de situação e de oposição, sinaliza o desejo do Brasil por união e construção colaborativa de soluções em defesa da humanidade e de todas as espécies de vida que estão ameaçadas pela degradação de ecossistemas”, afirmou um trecho do documento.





Em outra frente, personalidades nacionais e internacionais juntaram-se num apelo para que Biden rejeite acordos com Bolsonaro. A lista tem nomes como Leonardo DiCaprio, Katy Perry, Joaquin Phoenix e Jane Fonda, além de brasileiros como Sonia Braga, Gilberto Gil e Wagner Moura.

A Cúpula começa exatamente um ano depois de Salles ter dito, na polêmica reunião ministerial de 22 de abril, que o governo deveria aproveitar o momento de crise provocado pela pandemia do novo coronavírus e o desvio dos holofotes da opinião pública para “passar a boiada” — referindo-se à flexibilização das regulações de proteção ambiental e de agricultura.

Desde que assumiu o Ministério do Meio Ambiente, em 2019, Salles esteve no centro de controvérsias que envolvem, entre outras, a destruição da reputação do Brasil como protagonista nas ações pela preservação do meio ambiente. Enquanto vários ministros foram trocados, ele permanece na função — o que, para especialistas, é a principal prova de que o presidente concorda suas ações e posicionamentos.





Participantes

Organizador da cúpula, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, convidou cerca de 40 líderes mundiais. Além do presidente Jair Bolsonaro, participarão os mandatários de China, Xi Jinping; França, Emmanuel Macron; Israel, Benjamin Netanyahu; Rússia, Vladimir Putin; e Grã-Bretanha, Boris Johnson. O encontro, hoje e amanhã, será por meio de videoconferência.

Agenda ambiental

Além da Cúpula sobre o Clima, outros dois eventos importantes estão previstos este ano sobre o meio ambiente: a COP15 biodiversidade (em outubro na China) e a COP26 clima (em novembro, em Glasgow, na Escócia).

 

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