Às vésperas da abertura da CPI da Covid, o presidente da República decidiu fazer afagos a quem é um alvo certo das investigações: o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. À frente da pasta, o general seguiu à risca a política negacionista de Bolsonaro no combate ao vírus
Jair Bolsonaro precisa garantir a fidelidade do general para controlar os possíveis danos políticos que a CPI virá a causar. Na última sexta, por exemplo, o presidente falou bem de Pazuello em duas situações. Na entrega de cestas básicas do Programa Brasil Fraterno, em Belém (PA), disse que o ex-ministro “fez o dever de casa”, por não firmar a compra adiantada das vacinas, que ainda teriam que passar pela Anvisa.
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Depois, no mesmo dia, na cerimônia de inauguração do Centro de Convenções do Amazonas, o mandatário voltou a elogiá-lo. “Conseguimos, com a equipe que temos em Brasília, colaborar e muito para que os danos dessa pandemia fossem diminuídos. Em especial, pelo Ministro da Saúde que tive até pouco tempo, o senhor Pazuello”, disse.
Os elogios, por si só contraditórios — se Pazuello fosse tão competente, por que demiti-lo? —, não são unânimes nem entre colaboradores próximos do presidente da República. Em entrevista à Veja, o ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten disse que os erros cometidos pelo governo no combate ao coronavírus seriam responsabilidade apenas do militar, que teria informado mal o presidente da República.
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Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, disse que Pazuello é o personagem que deixa o governo em posição extremamente vulnerável na CPI. Ele inclui no fator Pazuello, por exemplo, o esforço da Casa Civil em rebater 23 possíveis acusações contra o governo federal.
Para o especialista, se Pazuello falar, colocará em xeque a estratégia de Bolsonaro no combate ao covid-19. E se não falar, irá referendar as acusações levantadas pelo próprio governo. “Pazuello é um homem bomba atômica”, avalia Dinis.
Parlamentares já debatem uma possível acareação entre Wajngarten e Pazuello. O requerimento terá de passar pela aprovação do plenário após a aprovação do convite ou convocação de cada um, o que só ocorrerá após a definição do presidente, vice e do relator da CPI.
Para o senador petista Humberto Costa (PE), Wajngarten tentou terceirizar a responsabilidade de Bolsonaro. “Resta saber se Pazuello vai aceitar essa posição do ‘incompetente’ e do ‘irresponsável’”, provocou.
“Acho que o governo está com medo, ou Bolsonaro não estaria atacando governadores, integrantes da CPI, jogando as redes contra os senadores. Mas já apanhamos tanto, isso não vai atrapalhar o trabalho”, lembrou Costa.
Sem máscara
Fora do ministério da Saúde, mas ainda no governo federal, Eduardo Pazuello segue provocando controvérsia. No fim de semana, ele foi flagrado em um shopping em Manaus sem máscara. Questionado sobre a ausência do equipamento de proteção, o ex-ministro teria dito. “Pois é. Tem que comprar, né? Sabe onde tem para vender?”
Por meio de nota, o Manauara Shopping confirmou o passeio desprotegido do ex-ministro da Saúde. “O Manauara Shopping informa que o ex-ministro Pazuello ingressou no estabelecimento sem máscara, mas com a orientação de se dirigir a um quiosque próximo para adquiri-la de imediato”, afirma o texto.
Em nota, a assessoria de Pazuello informou que o ex-ministro entrou no shopping sem máscara porque o item que utilizava, descartável, ficou inutilizado. Segundo a assessoria, o ex-ministro pediu para entrar no estabelecimento comercial para que pudesse adquirir uma nova. Ele teria andado cinco metros da entrada ao quiosque onde efetuou a compra.
“Pazuello pede desculpas públicas pelo acontecido e disse que o correto era ter voltado e não ter entrado no shopping, mesmo estando em perfeito estado de saúde. Recomenda ainda que todos continuem a fiscalizar qualquer pessoa que esteja sem máscara, só assim protegeremos uns aos outros”, completou o texto.